Um convite para a festa

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Hazel Jonatham

Na saída da escola, Connor se ofereceu para me levar até em casa. Acabei aceitando. Por mais que eu gostasse de andar sozinha, ele já havia demonstrado que era bem legal, então uma companhia de vez em quando não seria nada mal. O único problema era que eu sinceramente não esperava que fosse pior do que imaginava. Durante todo o caminho, não pronunciamos nenhuma palavra se quer. Ele tentava, eu não ajudava muito, eu tentava, ele dava respostas curtas; acabamos que ficando por isso mesmo, cada um quieto no seu canto. Depois de muito andar naquele silêncio desconfortavelmente desconfortável, chegamos.

— É aqui.

Apontei para a grande casa velha.

— Bom, está entregue. Eu te traria de moto, mas a mesma ainda está na casa da minha mãe, então...

— Tá tudo bem. Eu gosto de andar de a pé. F-faz... faz bem pras... pras pernas.

O que? Que resposta tinha sido aquela? E por que eu estava gaguejando? Fechei os olhos fortemente, me repreendendo enquanto ele ria da besteira que eu acabara de dizer. Acho que era só nervosismo por estar ao lado de um garoto bonito.

— Seus pais estão em casa?

Percebi que ele olhou para o alto da janela do meu quarto. O acompanhei e vi que ela fechava a cortina, se escondendo.

— Ahn, eu... moro só com a minha mãe.

— Legal, eu posso ir lá me apresentar.

— Ela... deve estar dormindo.

Disse rapidamente.

— Minha mãe... adora tirar um cochilo uma hora dessas.

— Eu só queria, sei lá, dar um oi pra ela não achar estranh...

— Valeu por me acompanhar até aqui, Connor. A gente se vê amanhã.

Ele arqueou uma das sobrancelhas, confuso.

— Não tem de quê. Ahn, me desculpa a pergunta, mas... você tá bem?

Perguntou; e impulsivamente eu sorri abobalhada, balançando a cabeça em um sim, pensando que ele estaria todo preocupado comigo. Não se empolga não, ele só está sendo gentil. Meu subconsciente fez questão de me alertar.

— Okay, então... tchau.

Enfiou as mãos nos bolsos das calças, já saindo da frente do gramado da minha casa.

Peguei as minhas chaves dentro do bolso do jeans e as encaixei na fechadura, mas parei o que estava fazendo assim que ouvi meu nome.

— Você não tem cara de quem curte muito ir em festas, mas... me convidaram para ir em uma amanhã a noite. Quer ir comigo?

Pensei por um momento.

— Não sei se é uma boa ideia.

— Ah, qual é! É só uma festa. Vamos, por favor.

Insistiu.

— Vou ver. Se der...

— Promete.

Voltou a subir no passeio perto de casa.

— Não posso prometer uma coisa que eu não sei se irei cumprir.

O alertei.

— Mandei prometer.

Disse com um ar ameaçador; e lá estava ele novamente pisando no meu gramado, chegando cada vez mais perto de mim enquanto apontava o dedo.

— Tá bom, eu prometo. Caramba, você é muito insistente.

Ele murmurou um "rum" e voltou a se distanciar. O acompanhei com os olhos enquanto ia embora. Com certeza eu só havia aceitado para ele parar de me amolar. Balancei a cabeça negativamente, não conseguindo conter uma risada, mas logo o riso sumiu dos meus lábios quando eu voltei a olhar pra porta de casa.

A destranquei e adentrei. Fechei-a logo atrás de mim, já conseguindo sentir o ar naturalmente gélido que a casa tinha. Olhei para o alto da escada e vi Mirela me encarar esquisito.

— Quem era aquele garoto?

— Um amigo.

A minha voz era quase inaudível.

— Você não tem amigos! Sabe que não pode ter amigos. Eles só sabem empacar a sua vida e te distrair com coisas errada, isso quando não te afundam para baixo.

— Ele já foi embora. Será que agora dá pra parar de...

— Não quero ver ele por aqui de novo, você me entendeu bem?

Bufei, subindo as escadas e tentando não encostar em Mirela.

Quando eu ia passar por ela, a mesma vai e puxa o meu cabelo pra trás, me fazendo inclinar a cabeça.

— Eu perguntei se você me entendeu.

— Eu entendi, eu entendi.

Ela me soltou, fazendo com que eu voltasse a minha cabeça no lugar com tudo. Mirela desceu a escadaria e foi em direção a cozinha.

Eu. Odiava. A minha. Vida. Eu queria me cortar. Todos os dias eu quero me cortar, porque àquele era o único método que eu achei pra conseguir me aliviar, mas prometi ao meu irmão que nunca mais faria isso, e... até agora nada, o que era bom. Então por hoje, só por hoje, eu decidi socorrer às lágrimas, que insistiam em sair. Mas ultimamente, nem chorar estava adiantando mais.

Pitt Connor

Naquele mesmo dia...

Assim que cheguei em casa, soltei um longo suspiro de cansaço ao ver pela janela descoberta pelas cortinas o meu velho andando preocupado de um lado para o outro enquanto conversava com alguém no telefone. Com certeza eu ia levar... Pousei minha mão na fechadura e abri a porta.

— [...] Não Anjinha, ele não me ligou. Já era pra ele ter chegado em casa... Que mané saiu daqui de casa com o celular descarregado. Ele nunca sai sem o celular, principalmente descarregado... Ah, ele chegou aqui já... Tá bem Anjinha, depois eu te ligo... Tchau.

Encerrou a chamada, jogando o celular encima do sofá e colocando as mãos na cintura, me encarando com uma cara de frustado aliviado enquanto eu me sentava no braço do sofá e esperava pelo pior.

— Por onde andou? E por que não atende essa merda de celular?

— Tive que copiar umas páginas do livro de português e ainda fiquei depois da aula pra copiar as matérias que eu perdi.

— Disso eu sei. O Thomaz veio falar comigo depois do treino, este que você não apareceu.

— Foi mal, tá? Isso não vai mais se repetir.

— Foi mal? Foi mal? É sério isso? O que o diretor vai pensar depois que chegar aos ouvidos dele que o filho do treinador fica arrumando encrenca logo no primeiro dia de aula?

Revirei os olhos. Será que ele não pode deixar essa reputação de O Treinador de lado por pelo menos 5 minutos?

— E você tem razão, isso não vai mais se repetir porque você tá de castigo.

O olhei incrédulo. Detesto quando ele me trata como uma criança.

— Agora suba e vai se deitar que amanhã é cedo.

Me levantei e fui batendo o pé até chegar ao meu quarto.

A Menina Dos Pulsos Vermelhos (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora