Sonâmbula

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Hazel Jonatham

— Hazel, tá acordada?

Pitt perguntou enquanto entrava no quarto com uma bandeja em mãos.

— Tô sim. Eu... tentei pegar no sono um pouquinho, mas não consegui.

Me sentei a cama, encostando as costas na cabeceira.

— Minha mãe disse que você precisaria.

Sentou-se na cadeira ao meu lado, pondo a bandeja encima de mim.

— Nossa, é muita gentileza, mas eu acho que agora não consigo nem engolir água direito.

Só de ver toda aquela comida já me dava ânsia. Não sei se era por causa do remédio ou do fato de que o meu estômago ainda estava muito frágil.

— Mas você precisa comer alguma coisa.

— Deixa aí que depois eu como.

— Beleza. Mas ó, é pra comer mesmo.

Pegou a bandeja e a colocou encima da escrivaninha, que ficava ao lado da cama.

— Tem uma coisa que a minha mãe me disse que observou enquanto te dava banho.

— Acho que já sei o que é.

— Há quanto tempo você faz isso? Porque em algumas já tinham até se formado cicatrizes.

— Você também olhou?

— É, enquanto você dormia.

— PITT!

O repreendi, virando o rosto para o lado.

— Foi mal, mas é que eu precisava ver se era tão pior quanto imaginava. Você tem cortes feito à lâmina nas coxas, antebraço, até no calcanhar!

— Eu já não faço isso há um tempo. Não tem nenhuma marca recente. Mas ainda doe.

— Quem te ensinou a fazer isso?

— Uma amiga virtual minha. Hayley Bennet.

— Espera aí... Eu já li a notícia que falava sobre essa garota. Não foi ela que se suicidou só porque tinha terminado com o namorado?

Balancei a cabeça em um sim.

— Olha que bobeira!

— Pra você.

— Por que faz isso consigo mesma, Hazel? Você é tão bonita e tem uma vida toda pela frente.

— É a forma que eu achei de encarar os meus problemas. Parece ser o método mais fácil.

— E o mais doloroso, o mais arriscado e o que não vai te levar a nada, até porque os seus problemas continuarão lá e você pode trazer ainda mais fazendo isso.

— Eu me machuco com as pessoas ao meu redor, mas quando faço isso, sinto que os meus problemas não chegam nem perto da dor que estou sentindo, o que me encoraja a resolvê-los. Mas relaxa, como eu disse, não estou mais fazendo esse tipo de coisa.

— Eu espero.

Se levantou da cadeira e foi para perto da porta.

— A última coisa que eu precisava agora era de alguém me julgando.

Ele respirou fundo e saiu do cômodo.

***

Pitt Connor

Já de noite...

— Eai, você conversou com ela?

Minha mãe chegou na sala com um balde de pipoca e duas latinhas de refrigerantes, me entregando-as na mão.

— Conversei. Diz ela que não faz mais isso, mas não levei fé.

— Essa garota tem sérios problemas e tenho certeza que estamos sendo muitos bons pra ela nesse momento.

Sentou-se no sofá e pôs o filme no DVD.

— Ouviu isso?

— Ouviu o que?

Começou a comer.

— Hazel!

Dei um pulo do sofá e corri até o quarto em que ela estava.

Assim que abri a porta, dei de cara com uma Hazel fora da cama, socando o ar e falando coisas como "tira as mãos dele, sua bruxa" "eu te odeio, você é um monstro! Sai daqui" "nos deixe em paz, vai embora agora sua cobra". Ela estava virada para o guarda-roupa, então de vez em quando socava o mesmo sem querer.

— Ela é sonâmbula.

Minha mãe apareceu na porta.

— Leve-a para cama sem acordá-la.

Obedeci a minha mãe, me aproximando da Hazel.

— Quem é o monstro que tanto te atormenta, hein?

Sussurrei.

— Seja cuidadoso.

A peguei em sua mão, levando-a até a cama. De repente, ela começa a gritar e a cair no chão. Eu devia ter tocado em alguma parte do corpo dela coberta.

— Me deixa em paz, Mirelaaa!

— Hazel calma, você tá segura. Eu tô aqui.

Abracei-a, segurando em seus braços, tentando contê-la.

— Tá tudo bem agora. Ninguém vai te machucar.

Disse ao pé do seu ouvido. Acho que funcionou, porque ela começou a relaxar o corpo, ficar molinha e finalmente se controlar. A peguei no colo e a coloquei na cama, olhando pra minha mãe, que encarava o cenário com uma mão na boca, completamente perplexa. Decidimos sair do quarto e fechar a porta, dando direito a ela de poder dormir tranquilamente.

— Que noite...

Disse a minha mãe.

— Se a senhora quiser já ir pra cama, tudo bem.

— Acho que só vou conseguir dormir bem quando essa garota estiver bem.

O olhar da minha mãe dizia tudo -principalmente porque ela entendia do assunto e adorava bancar a analista- e o que ele transmitia era algo que eu já sabia, que a Hazel precisava urgentemente de ajuda.

A Menina Dos Pulsos Vermelhos (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora