Já era o quinto dia...

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Pitt Connor

Os dias foram se passando, eu e a minha mãe cuidamos muito bem da Hazel e ela foi melhorando aos poucos. Até então não havíamos deixado que ela partisse por medo dela sofrer nas mãos da mãe novamente e como ela não tinha demais parentes nem alguém em quem confiava de olhos fechados, concordamos que ela ficaria conosco até se recuperar cem por cento. E esse dia, enfim, chegou.

Após chegar da escola, avistei minha mãe mexendo no jardim. Como ela trabalhava em casa e fazia o seu próprio horário, não a questionei sobre ter pacientes naquele momento. Por estar com as mãos sujas, ela me pediu para que eu levasse uma muda de roupa pra Hazel. A obedeci, indo ao quarto. Assim que cheguei, estranhei do lugar estar vazio e fiquei preocupado. Olhei pra janela e a mesma se encontrava fechada. Caminhei até o banheiro e empurrei a porta, que estava entreaberta.

— Ai!

Vejo Hazel sair de trás da mesma, tapando seu corpo com a toalha. Provavelmente acabara de sair do banho e estava se secando. Quando ela viu que era eu, voltou pra atrás da porta correndo.

—M-me desculpa. Você estava tão quieta que eu pensei...

Me afastei um pouco, fechando fortemente os olhos.

—Tá tudo bem, eu... achei que seria a sua mãe que iria me trazer as roupas. Mas você também serve.

Deu uma risadinha.

Assim que olhei para baixo, vi um pequeno volume nas minhas calças e fiquei constrangido, com medo que ela percebesse.

— Pitt...

— Sim... Ahn, oi.

— Será que você...

— Eu o que? O que tem eu?

Engoli em seco.

— Pode me entregar as roupas por favor? Tá começando a ficar frio aqui.

— Ah, claro. Nossa, como eu sou... Estão aqui.

Estiquei o braço, entregando-lhe as peças.

— Eu vou te esperar... Estarei sentado bem ali.

Fui em direção a cama. Logo Haz saiu, vestindo o vestido florido que minha mãe havia lhe dado.

— Eu nunca gostei de usar vestido. Acho minhas pernas horríveis.

— Que nada, você... você tá linda!

A elogiei.

— Valeu.

— Fica diferente.

— E isso é bom?

— Pra mim, significa autenticidade. Mas se quiser, eu posso pedir pra minha mãe arrumar out...

— Tá tudo bem, eu já abusei muito da estadia e mordomia de vocês. Obrigado por tudo.

— Foi um prazer. No que precisar, sabe aonde me encontrar. Bom, agora eu vou lá embaixo pegar minha moto. Nós vamos para a delegacia fazer um boletim contra a sua mãe.

— O que? Pra que?

Me encarou confusa.

— Ué, como assim pra que? Ela te agrediu.

— Mas eu nunca disse que a denunciaria.

— Hazel, você precisa! Essa mulher te maltratou de todos os modos possíveis. Tem que deixar que a justiça faça a sua parte.

— Não vou mandar minha mãe pra cadeia.

— Ela não é sua mãe, ela é um monstro disfarçado.

— Não fala assim dela, você nem a conhece!

— E nem quero conhecê-la, principalmente depois de tudo o que você disse que ela te fez. Eu sinceramente achei que você tinha mudado, que tinha aberto os olhos e largado de ser tão trouxa.

— Sabia que nunca devia ter me aberto pra você.

Foi em direção a porta.

— Aonde você vai?

Me levantei, seguindo-a.

— Pra casa.

— Você vai mesmo voltar pra àquela casa, com àquela mulher lá?

— É isso aí! Vou voltar pra minha antiga vida, e quando me refiro a minha antiga vida, é aquela a qual não incluía você na minha antiga vida não incluía você.

Chegou até o andar de baixo e saiu da minha casa.

— O que tá acontecendo aqui?

Minha mãe veio vindo da cozinha, secando as mãos com um pano de prato.

— Ela foi embora.

*****

Algum tempo depois...

Hoje completava o quinto dia que eu não falava com Hazel. Na sala, ela nem olhava na minha cara, nos corredores passava reto e na hora do intervalo ficava sozinha, ou lendo ou escutando música. Agora eu passava um pouco mais de tempo com a Suzanne já que eu não conhecia mais ninguém.

Ainda me lembro do dia que a Hazel voltou pra escola, o quanto Lindsay e sua turma mexeram com ela. Aquilo me subiu uma raiva... Mas eu prometi a Jonatham que não iria mais me interferir nos problemas dela. E outra, ela literalmente pediu distância de mim.

Era a terceira aula e eu estava saindo da sala pra ir trocar alguns livros no meu armário. O corredor se esvaziava aos poucos quando vi Lindsay e as outras garotas chegando perto de Hazel. Só pela cara já percebi que iriam aprontar alguma. Continuei na minha, observando de longe e vendo o que iria acontecer.

"— Ai meu Deus, que nojo! O que é isso?"

Duas garotas seguraram os braços de Hazel enquanto uma terceira segurava os materiais dela. Lindsay pegou num dos braços de Jonatham e viu uma mancha de sangue na blusa. Ergueu a mesma e notou que o líquido se escorria pelo braço da garota. Àquilo pra mim só significava uma coisa: ela havia se cortado recentemente.

"— Ai gente, ela se corta. Tadinha!"
"— Que doente!"

— Nem todo mundo gosta de chamar atenção como vocês, bando de ridículas.

— Olha ela, está querendo nos enfrentar, é coisinha?

Faz alguma coisa, Pitt!

Lindsay pegou os pulsos de Hazel e passou a apertá-los fortemente. Ela começou a gritar e taparam sua boca. Lágrimas já saíam de seus olhos.

— Da próxima eu faço pior, aberração.

A frase foi sussurrada em seu ouvido pela Lindsay antes dela e as amigas irem embora. Decidi fazer o mesmo.

A Menina Dos Pulsos Vermelhos (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora