Recebendo cuidados

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Hazel Jonatham

— Não... Não Kevin... Kevin, sai daí... Kevin, ela vai te machucar. Kevin! KEVIN!!!

Acordei assustada, gritando e suando frio. Hoje pelo menos foi mais calmo, eu só falei durante o pesadelo. Quase toda noite eu sofria de insônia ou do nada virava sonâmbula.

Tirei as cobertas de cima do meu corpo e olhei no rádio relógio encima da minha escrivaninha, que ficava do lado da cama. Eram 00:29hs. Ouvi risadinhas vindo do lado de fora da casa e me levantei, indo até a janela.

— FOGOOOO!!!

Lindsay gritou de cima da traseira de uma caminhonete e logo minha casa estava sendo bombardeada por garrafas vazias de vodca, papel higiênico e pichação em vermelho nas portas e janelas.

Agachei-me e fui para debaixo da cama, com medo de ser atingida. Por que, meu Deus? Eu suplicava, assustada.

— HAZEL? HAZEL?

Mirela começou a bater na porta do meu quarto com força, adentrando-o furiosa. Ela me achou debaixo da cama e me tirou de lá a força, puxando os meus cabelos.

— OLHA O QUE SEUS AMIGUINHOS BADERNEIROS ESTÃO FAZENDO NA DROGA DA MINHA CASA.

Ela gritava no meu ouvido enquanto me arrastava para fora do quarto contra a minha vontade.

— ELES NÃO SÃO MEUS AMIGOS. EU MAL OS CONHEÇO. MIRELA, ME LARGA. TÁ ME MACHUCANDO!

Eu pedia gritando, mas era em vão.

— AH, NÃO OS CONHECE? ENTÃO O QUE ELES ESTÃO FAZENDO AQUI? EU TE AVISEI SOBRE ISSO, NÃO TE AVISEI? DISSE PRA VOCÊ NÃO TER AMIGO NENHUM, MAS VOCÊ ME ESCUTA? NÃO.

Ela continuava a me arrastar pela casa através dos cabelos.

— EU NÃO ANDO COM ELES. ME SOLTA, POR FAVOR.

Eu arranhava sua mão pra ver se assim ela me largava, mas a mesma ia e me dava fortes tapas na mão e no rosto.

— EU FAÇO O QUE POSSO POR VOCÊ E COMO VOCÊ ME DEVOLVE? ME DESOBEDECENDO.

Chegamos a sala de estar e ela me jogou no piso do chão. Bati com a cabeça em um prego solto.

— ENTÃO JÁ QUE VOCÊ GOSTA DE VIVER COMO UMA REBELDE, DEVERIA SE JUNTAR À ELES.

Abriu a porta e me deu vários chutes na barriga, até me jogar para fora de casa. A essa altura o pessoal na caminhonete já tinham ido.

— PARA COM ISSO MIRELAAA!

Eu chorava e tentava resistir.

— FORA DA MINHA CASA, ENCOSTO.

Fechou a porta, comigo pra fora.

— Ai meu Deus. Mirelaaa! Mirela, me deixa entrar.

Tive dificuldades em me levantar, e quando consegui, bati na porta repetidamente. Podia se dizer que eu estava implorando. Quando desisti, comecei a andar pelas ruas frias e escuras. Com dores no estômago, a cabeça sangrando e lágrimas saindo sem parar. Chegavam a secar pelo meu rosto para depois descerem novamente sem nem ao menos eu perceber.

Andei por volta de uma hora, uma hora e meia por aí. Eu queria sair do meu bairro, que a propósito era bem grande. Mirela conhecia todos da rua. Ela tinha o costume de fazer o papel "vizinha boazinha" e chegava a ser inacreditável porque todo mundo caia nessa. Seria como... eu contra ela e "o seu exército." Era capaz dela contar uma versão do tipo "ela é adolescente! Faz isso o tempo todo" e o público acreditar. Foi então que eu cheguei a uma casa desconhecida por mim. Àquilo indicava que eu conseguira sair do meu quarteirão. Fui pelos fundos da casa e bati na porta de vidro. Uma, duas, três vezes. Nada. Acabei não aguentando mais ficar de pé e cai no chão. Dei uma última respirada antes de juntar forças de não sei da onde para bater mais uma vez.

— Quê isso?! Caramba Hazel, o que houve com você? Hazel? Hazel? Oh mãe!

Foi a última coisa que eu ouvi antes de fechar os olhos e ficar desacordada.

*****

No dia seguinte...

Fui abrindo as pálpebras lentamente, sentindo o meu corpo dolorido da cabeça aos pés. Assim que consegui ver tudo com mais clareza, dou de cara com Pitt. Sua feição era de aliviado. Tentei me virar melhor para encará-lo, quando solto um "ai".

— Cuidado! Minha mãe disse que você não pode fazer muitos movimentos bruscos.

— O que aconteceu?

— Eu estava esperando você me dizer. Por favor, não me diga que você não se lembra?

— Minha cabeça tá bastante confusa no momento. Nada muito... nítido.

Menti. Por mais que eu odiasse Mirela, não queria que ela fosse pra cadeia.

— Eu só sei que te encontrei no jardim da casa da minha mãe. Pensava eu ser um ladrão, então estava até com um taco de beisebol.

Riu.

— Mas aí vi que era você com a cabeça toda ensanguentada e com as mãos na barriga, então fiz a coisa mais sensata, te trouxe para dentro. Seus pés sujos te denunciaram dizendo que você provavelmente teria vindo de apé. Daí a minha mãe te deu banho, fez alguns curativos e te pôs na cama.

— Quando eu abri os olhos você estava me encarando. Fico assim a noite inteira?

— Tive que ficar. Minha mãe pediu para alertá-la caso você acordasse.

— Me da até um certo medo saber que um cara ficou me observando enquanto eu dormia.

— Medo tive eu quando te achei. Pensei que estivesse morta.

— Me desculpa.

— Pelo o que?

— Por fazer você perder o resto do seu pornô.

Ele riu, envergonhado.

— Como sabe que eu estava vendo pornô?

— Já eram quase... o quê, duas da manhã? Pra que mais um cara como você ficaria acordado até tarde?

— Tem razão. Deu muito no cara.

— Oi dorminhoca.

Uma mulher, de aparentemente uns 40 anos,chegou no quarto com um vidrinho de algo incolor em mãos.

— Como passou a noite?

— Ah, posso dizer que... bem. Obrigada por estar cuidando de mim.

— Imagina, querida. A propósito, o meu nome é Sarah. E não se preocupe, tá? Eu sei bem o que estou fazendo.

Com a ajuda de uma agulha, aplicou o liquido do vidrinho dentro do soro que eu tomava.

— Já quis ser médica, mas acabei fazendo enfermagem. Aí pensei bem e disse "acho que não é pra mim." E então parei com os estudos. Se bem que teve um ano onde a minha mãe adoeceu e fiquei responsável por ela. Cuidei tão bem dela que ela sobreviveu mais tempo comigo do que sobreviveria num hospital. Atualmente sou psicóloga.

Riu orgulhosa de si mesma.

— Isso aqui vai ajudar a cicatrizar seus ferimentos. Eu tiro o chapéu pra você, hein garota. Aguentou firme. Eeee... prontinho. É provável que você tenha dores de cabeça, mas se ficar deitadinha aí, logo logo passa.

— É melhor deixarmos ela descansar um pouco. Vem, amor.

Chamou o filho.

— Fica bem, tá? Depois eu volto pra te ver.

— Eu vou estar aqui.

Os dois saíram e fecharam a porta, me deixando sozinha comigo mesma.

A Menina Dos Pulsos Vermelhos (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora