A garota que sorriu pra mim...

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Assim que levantei os olhos do papel, vi um rosto já conhecido por mim adentrando sorrateiramente a sala de aula. Era ela, a garota que sorriu pra mim mais cedo na mureta. A mesma passou reto, me encarou rapidamente e sentou-se mais no fundo da onde eu estava. Segui seus movimentos com os olhos até a ver abaixando a cabeça e abrindo seu caderno. Ela era sempre assim, focada e com a cara nos livros?

— Essa aí é Lindsay McDoug, a popular da escola. Você a verá muito nos jogos e treinos do time pôr a mesma ser a chefe das líderes de torcida e sempre estar acompanhada do seu inseparável quarteto.

Voltei o olhar para Suzanne, fingindo prestar atenção.

— Eu me orgulharia por ter sido convidada para uma festa na casa dela; e o melhor, pela própria anfitriã. Geralmente só quem é da turminha dela são chamados. 

Eu já podia me considerar um popular?

— E como você é bonito e logo fará parte do time do colégio...

— Sr. Connor...

Fui chamado pelo professor para ir até lá na frente entregar as minhas antigas notas.

— Hmmm, ótimo. Está tudo de acordo.

Sorriu amigável, me devolvendo o papel.

— É provável que até semana que vem o seu nome já esteja no diário. Muito bem alunos, quem é que fez o poema que eu pedi?

Olhou pra classe. Presumi que aquela era a minha deixa para retornar ao meu lugar.

***

Hazel Jonatham

— [...] Muito bom Suzanne, adorei o poema.

Disse com um tom de voz tedioso enquanto marcava pontos no diário.

— A próxima é...

Por favor, que eu seja a última. Por favor, que eu seja a última.

— Hazel Jonatham.

Alguns pararam o que estavam fazendo para olharem pro fundo da sala. Levantei-me do meu lugar e peguei meu poema, seguindo em frente.

— Kate, rápido, o spray.

Uma das amigas de Lindsay pegou uma lata de spray invisível dentro da bolsa e "espirrou" no ar, fazendo o som com a boca.

— Obrigada amiga. Eu só queria me prevenir... Vai que... feiura pega.

A class toda riu, menos uma pessoa: ele.

Continuei adiante, parando de costas para o quadro negro e de frente para a turma. Fechei os olhos e respirei fundo, limpando a garganta.

— M-meu nome é Hazel Jonatham e o meu poema se chama Apaixonada.

"O que é isso que eu estou sentindo

Que me faz tão bem?
Oh meu Deus, será que eu estou doente?
Tomara que não. Em Nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo, Amém.

O que é isso que eu estou sentindo
Que seu nome sempre surge do nada na minha mente?
Estaria mentindo se dissesse
Que perto dele o meu corpo não fica absurdamente quente..."

Comecei, dando uma longa pausa em cada verso, tentando tomar coragem para retomar e ir até o fim. Percebi que algumas pessoas da sala riam baixinho ou me imitavam de uma forma debochada, o que só servia para me deixar mais nervosa ainda. Como eu queria rasgar essa droga, pegar as minhas coisas e sair correndo pra bem longe.

— Idiotas.

Disse o novato, acho que alto demais, com os punhos fechados encima da carteira e o rosto virado para o lado, levemente para baixo, aparentemente nervoso enquanto todos o encaravam.

— O que foi que disse?

Parei de ler imediatamente quando vi o sr. Thomaz chamando a atenção do rapaz.

— I D I O T A S.

Disse pausadamente. Alunos esperando uma briga feia já pegavam seus celulares.

— Sabe o que significa ou quer que eu explique... professor?

Thomaz apertou os olhos e entortou a boca, se levantando.

Ai droga, por que ele foi repetir?

Thomaz não disse mais nada, apenas tirou uma folha do seu pequeno bloquinho de notas amarelo, escreveu algo na mesma e estendeu-a no ar. Era uma advertência.

— Eu não sei como funcionava na sua antiga escola, mas aqui o negócio é diferente. Toma. Pega e some da minha aula agora, garoto.

Assim o rapaz fez, se levantando de onde estava, (com orgulho e cabeça erguida, achando estar cheio de razão) guardando suas coisas e se dirigindo até a frente. Pegou o papel e saiu da sala, com uma certa marra.

— E você...

Dirigiu a palavra a mim.

— Vá sentar-se.

Resolvi não discutir; e no caminho de volta para minha carteira, um pequeno pedaço de papel cai bem na minha frente.

— Hazel! Sabe que não pode ficar de conversinhas através de bilhetinhos dentro da sala de aula.

Encarei Lindsay confusa enquanto o professor Thomaz se agachava a minha frente e pegava o pequeno papel.

— "Toma essa fessor I D I O T A !!!"

Leu em voz alta.

— O que significa isso, srta. Jonatham? Com quem estava partilhando essa...essa... 

— E-eu não sei. Não fui eu quem escrevi.

Gaguejei.

— Pois bem, já que a senhorita gosta tanto de escrever, talvez goste também de copiar 10 páginas inteirinhas do seu livro de português para me entregar amanhã, na segunda aula, sem falta.

Enfatizou as últimas palavras enquanto eu o encarava incrédula.

— Mas professor...

Tentei explicar, mas fui interrompida.

— Sem mais. Direto para biblioteca. Imediatamente!

Gritou, apontando para a porta. Enquanto isso Lindsay sorria, vitoriosa. O mesmo que fez com o filho do Treinador, fez comigo, arrancando um papelzinho amarelo para me entregar. Não tive outra escolha a não ser pegar as minhas coisas e me retirar da sala. Que maravilha... belo jeito de se começar a semana, Hazel.

A Menina Dos Pulsos Vermelhos (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora