-Você está meio estranho Elrik, o que houve? -Perguntava Nica com o ar de deboche de sempre.
Elrik fingia tomar o café oferecido pelo amigo de longa data naquela enorme cabana de caça da qual Nica chamava de lar. A cabana de dois andares era repleto de figuras de animais mortos empalhados e pendurados nas paredes. Haviam cabeças de alces, ursos, leões e até a ossada de uma mandíbula de tubarão dentro de um cubo de vidro em exposição. Todos aqueles objetos não existiam de fato, mas se materializavam pela vontade do morador da casa que se molda de acordo com os gostos e lembranças que teve em vida terrena.
Nica era um ser robusto, alto, de cabelos e barba verdes, olhos também verdes e sempre usava suas roupas em cores marrons, estilo caçador. Apenas quando ia a prefeitura da cidade central que ele usava suas roupas formais como terno e gravata, mas mantendo os tons marrons ou verdes.
-Sabe Nica, olhando para essa sua casa deprimente fico me perguntado por que me pediu para deixar de ser ceifador. Você combina muito com a profissão. -Elrik perambulava pela sala com sua xícara cheia.
-Era muito trabalho. E um trabalho não valorizado, convenhamos.
-Sei.
Nica puxou uma cadeira para que o Supervisor se sentasse e serviu alguns "bolinhos de chuva" para o amigo.
-Fiquei sabendo que esses bolinhos são muito famosos em alguns lugares da Terra. -Ele dizia ignorando o clima meio pesado que pairava entre os dois.
-Me responda mais uma pergunta com sinceridade Nica. -Elrik começou não aceitando os bolinhos oferecidos assim como não aceitou o café. -Você já encontrou seu irmão?
Um leve tremor atingiu a casa e o Supervisor pensou que algumas cabeças penduradas iriam se soltar de seus apoios. Uma aura verde neon surgiu ao redor de Nica que parecia tentar controlar uma aparente fúria contida.
-Entendi. Até hoje você não quis encontrá-lo... -Elrik concluiu.
-Não é que eu não queira... Não acho que eu "precise" encontrá-lo. -Nica respondeu pela primeira vez sem usar seu tom sarcástico. Lentamente sua aura diminuiu o brilho voltando a sua aparência de antes.
-Então você nem sabe onde ele está? -Continuou a provocação.
-Não. -Nica finalizou frio deixando a entender que não continuaria naquele assunto.
Se levantando da cadeira, Elrik andou mais uma vez pela sala olhando todos os apetrechos pendurados. Ele sabia que a decoração daquele lugar se referia ao trauma de Nica quando era vivo, afinal de contas ele era um agricultor, mas que decepcionado com alguns assuntos familiares se transformou em um caçador impiedoso. Seus passos ecoaram pelos tacos de madeira e finalmente não se ouviu mais as frases sínicas de seu amigo governador.
-Fui ver a Bel. Lembra dela? Continua linda e ardilosa como sempre. Tentou roubar minha energia em menos de 5 minutos de conversa.
Nica apenas observava enquanto ele próprio comia seus bolinhos.
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Além das Flores - CONCLUÍDO ( 44 de 46)
FantasíaATENÇÃO: Esta obra é uma ficção baseada em VOZES DA MINHA CABEÇA, inspiradas por mitologias e crenças sem vínculo verídico religioso. Entretanto, contudo, porém, todavia(rsrs), é uma história com forte apego aos princípios cristãos. Não possui hot...