O Ódio que Cega

6 3 0
                                    

Anos atrás, na Floresta Encantada, Branca de Neve estava sozinha na cabana dos anões, cantarolando uma melodia enquanto varria o chão. Seus movimentos eram quase mecânicos, e a expressão em seu rosto estava distante da doce serenidade que os anões conheciam. Seus olhos, antes radiantes de gentileza, agora possuíam um brilho gélido.

Um pequeno passarinho azul pousou no parapeito da janela e tentou acompanhar sua canção. No entanto, seu canto estava desafinado, e logo Branca de Neve franziu a testa, irritada.

- Silêncio! - gritou ela, brandindo a vassoura em direção ao pássaro.

O pequeno animal piou assustado e voou para longe, quase sendo atingido pela vassoura que Branca jogou com raiva. Nesse exato momento, Dunga entrou na cabana, trazendo um cesto cheio de flores silvestres. Ele parou na porta, observando a cena com os olhos arregalados. Branca de Neve, com o rosto vermelho de raiva, parecia uma estranha para ele. Tentando se acalmar, ela respirou fundo e se voltou para o anão, seu rosto suavizando apenas um pouco.

- Dunga, pode colocar essas flores na mesa - disse ela, com a voz mais controlada.

O pequeno anão assentiu rapidamente, mas não pôde deixar de notar a dureza em seu tom. Logo, os outros anões começaram a chegar do trabalho na mina, suados e cansados, mas felizes por estarem em casa. Feliz foi o primeiro a perceber algo estranho no ar. Ele observou Branca de Neve por um momento, franzindo o cenho.

- Boa tarde, Branca. Como foi o seu dia? - perguntou ele, tentando manter o tom alegre.

- Como você acha que foi? Passei o dia limpando essa casa imunda enquanto vocês se divertiam na mina - respondeu ela, cruzando os braços e olhando para eles com desdém.

Atordoado, Feliz piscou várias vezes antes de conseguir responder.

- Nós... nós trabalhamos duro na mina, Branca. Você sabe disso.

Zangado, sempre o mais desconfiado, olhou para ela com os olhos apertados.

- Algo não está certo. Você nunca falaria assim conosco.

Branca de Neve revirou os olhos e se virou, voltando a varrer com um vigor exagerado.

- Talvez eu esteja cansada de ser a donzela perfeita. Talvez eu esteja cansada de tudo isso.

Atchim, que havia ficado em silêncio até então, deu um passo à frente, com a expressão preocupada.

- Branca, o que aconteceu? Você não era assim antes. Algo deve ter acontecido para você mudar tanto.

A raiva brilhou nos olhos de Branca de Neve.

- Nada aconteceu, Atchim. Eu apenas abri os olhos e vi a realidade como ela é. Talvez vocês devam fazer o mesmo.

Os anões trocaram olhares significativos. Algo estava definitivamente errado. A mudança drástica no comportamento de Branca de Neve não podia ser ignorada. Mestre, sempre o mais sábio entre eles, coçou a barba pensativamente.

- Branca, sabemos que algo a está incomodando. Pode falar conosco, somos seus amigos - disse ele, tentando alcançar a antiga Branca de Neve que eles conheciam.

Por um momento, a expressão de Branca de Neve suavizou, como se estivesse prestes a desabar. Mas então, ela apertou os lábios e balançou a cabeça.

- Vocês não entenderiam. Nem adianta tentar.

Os anões ficaram em silêncio, a preocupação evidente em seus rostos. Algo precisava ser feito. Talvez fosse obra da Rainha Má, tentando envenená-la de uma maneira diferente. Ou talvez o Príncipe Florian tivesse magoado seu coração de forma irreparável.

Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora