Ao chegar em casa, encarei meu reflexo no espelho do banheiro. Percebi que o olhar vazio e inseguro que costumava me acompanhar havia desaparecido. Também não vi mais a jovem que antes se sentia insatisfeita com seu próprio corpo.
Sorri para o meu reflexo com uma sensação de satisfação pessoal. Pela primeira vez em muito tempo, o sorriso brotou espontaneamente, sem a necessidade de qualquer estímulo externo.
Anteriormente, meus sorrisos eram raros e esses sorrisos eram forçados, apenas para mostrar ao mundo que estava tudo bem, quando, na verdade, não estava. Mas agora, eu sorria porque finalmente estava em paz comigo mesmo.
Pela primeira vez em muito tempo, eu sentia que me reconhecia no reflexo do espelho. Eu não via mais a sombra de uma garota insegura e triste. Em vez disso, eu via uma mulher forte e confiante, que tinha superado muitas adversidades e estava pronto para enfrentar o que viesse pela frente.
Meu coração estava leve, como se um enorme peso tivesse sido retirado de meus ombros. O sentimento de vazio e solidão, que antes era tão familiar, havia desaparecido. Eu me sentia completa, inteira e, acima de tudo, feliz.
Os sentimentos que eu tinha por Lucas certamente haviam contribuído para minha alegria, mas eu sabia que minha felicidade não dependia apenas dele. Eu havia trabalhado duro para me amar e me aceitar como eu era, com todas as minhas imperfeições e peculiaridades. E eu estava orgulhosa do progresso que havia feito.
Eu finalmente sentia que estava no caminho certo. Eu estava crescendo, evoluindo e aprendendo a cada dia. E eu estava ansiosa para ver o que o futuro reservava para mim.
Com um último olhar de satisfação para o meu reflexo no espelho, eu me virei e saí do banheiro. Eu estava pronta para enfrentar o mundo, com um sorriso genuíno no rosto e um coração cheio de esperança.
Um mês depois...
Estava na casa de Hannah, nos preparando para levar Lucas ao aeroporto. Nathan estava gargalhando enquanto Hannah fazia caretas engraçadas para ele e eu estava sentada no sofá, perdida em meus pensamentos.
- Ei, vamos! Não quero perder meu vôo - Lucas disse, saindo do quarto com sua mala.
Hannah se levantou, pegando Nathan no colo, e eu a segui. Lucas, sempre o palhaço, pegou um pequeno espelho de cima da mesinha de centro e começou a fazer cena.
- Ah, olha só isso - ele disse, passando a mão pelos cabelos e dando um risinho de auto satisfação. - Como eu sou bonito!
Hannah revirou os olhos, claramente impaciente.
- Uau! Deveria ser ilegal ser tão atraente - brincou Lucas, dando uma piscadela para seu próprio reflexo. - queria poder me beijar!
Não consegui conter uma gargalhada. Era impossível não rir com a autoconfiança exagerada de Lucas. Hannah, por outro lado, arrancou o espelho da mão dele.
- Se você gastar mais um minuto se admirando, vai acabar perdendo o vôo e seremos obrigados a aguentar seu ego inflado por mais tempo! - ela repreendeu, mas um sorriso divertido traiu sua tentativa de seriedade.
- Deveríamos ir - eu sugeri, tentando esconder o nervosismo na minha voz. Lucas olhou para mim e sorriu, um sorriso que sempre me fazia sentir fraca.
- Sim, Kelly está certa - disse Hannah, entregando Nathan para Lucas. - Aqui, se despeça do seu sobrinho.
Lucas pegou Nathan nos braços e fez uma careta engraçada, fazendo o pequeno rir. Eu observei a cena, um nó se formando em minha garganta. Lucas era tão natural com crianças, era como se ele nasceu para ser pai. E isso só fazia eu me apaixonar ainda mais por ele.
- Vamos logo - insistiu Hannah, pegando a mala do Lucas e caminhando em direção à porta. Eu segui, sentindo um peso no coração.
No carro, o clima era tenso. Lucas estava empolgado, falando sobre sua nova aventura, enquanto Hannah tentava esconder sua tristeza. Quanto a mim, eu estava calada, perdida em meus pensamentos.
Lucas continuava falando e eu apenas o ouvia, tentando memorizar cada palavra, cada sorriso, cada olhar. Porque eu sabia que, depois daquele dia, nada seria o mesmo.
Saímos do carro e, antes de Lucas entrar no aeroporto, ele abraçou Hannah. Notei lágrimas nos olhos de Hannah, ela realmente amava seu irmão. Ela é oito anos mais velha que Lucas e, após a morte de seus pais, ela se tornou uma figura materna para ele.
Lucas estava indo para outra cidade para cursar psicologia, um curso de quatro anos. Meu receio era que ele voltasse casado. No entanto, eu sabia que o que sentia por ele era apenas uma paixão passageira e que com o tempo, esperava que isso desaparecesse.
Lucas veio em minha direção e estendeu a mão para mim e sorriu. Embora eu desejasse abraçá-lo, não tínhamos tanta intimidade para isso. Então, ele se virou e partiu, sem olhar para trás.
°°°
Em um dia normal, enquanto fazia compras no supermercado, cruzei com minha mãe. Parecia que a mudança de residência não havia sido suficiente para escapar de sua presença. Talvez eu devesse ter mudado de bairro, cidade ou até mesmo de país.- Olá, filha - ela cumprimentou com um tom de voz que parecia triste.
Tentei sair, mas ela segurou meu braço.
- Espera, eu sei que você não queria me encontrar, mas preciso falar contigo - ela insistiu, fazendo com que eu a encarasse - Filha, fiquei muito triste quando percebi que você havia ido embora de casa - ela afirmou, tentando me convencer, mas eu sabia que ela não havia ficado triste.
- Meu namorado me deixou, eu estou solitária agora. Por favor, filha, não abandone sua mãe - ela pediu, segurando minhas mãos em desespero - Volte para casa, prometo que vou mudar, as coisas serão diferentes.
Soltei-me dela, sentindo uma raiva intensa, uma raiva que nunca havia sentido antes.
- Pare de me chamar de filha! Você só me chamava assim quando tinha visitas. Você nunca me quis como filha, nunca me amou como uma. Me chame de Kelly, como sempre fez - respondi, perdendo a paciência - Não sou mais aquela garotinha que você humilhava e manipulava, não sou mais aquela menina que você chamava de gorda. Agora, Griselda, sou uma mulher que está vivendo uma vida que você quase destruiu.
Ela ficou surpresa com o jeito que a chamei, mas logo retomou seu semblante.
- Minha filha, fiz tudo isso para o seu bem, veja você agora - ela disse, me analisando de cima a baixo - você está linda, eu te eduquei duramente para que você pudesse enfrentar o mundo.
- você continua tentando me manipular, seu método de educação era tortura.
Agora ela parecia irritada por não conseguir me persuadir.
- Então é assim que você agradece por eu ter te criado? - ela perguntou, quase gritando, atraindo a atenção de algumas pessoas.
- Você me criou porque a tentativa de aborto que fez deu errado, você me criou, mas nunca me amou - respondi, me controlando para não gritar e causar mais alvoroço.
- Eu criei e amei você, Kelly, se eu não tivesse te amado, teria te abandonado assim como minha mãe fez comigo.
- Mentira! Você tentou me abandonar na porta de uma casa quando eu era um bebê, mas eles te encontraram e me devolveram.
Ela pareceu chocada com minhas revelações.
- Como você descobriu isso? - ela perguntou, quase sussurrando.
- Perguntei a você quando tu estava bêbada.
Ficamos em silêncio por um instante, encarando-nos. Eu procurava algum tipo de compaixão ou arrependimento nos olhos dela, mas não encontrei. Agora eu me perguntava, como pude chamar essa mulher de mãe por tanto tempo?
- Talvez você tenha razão - foi o que ela disse antes de se virar e sair.
Paguei minhas compras e também me retirei.
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AS LÁGRIMAS NUNCA VÃO PARAR DE CAIR
Teen FictionEm meio a adversidades, essa é a história de superação de uma mulher. Sofrendo abusos na infância e marcada pela obesidade, ela desafia as circunstâncias e constrói uma nova vida. Ela encontra o amor verdadeiro e juntos, eles criam um lar feliz e am...