AS LÁGRIMAS NUNCA VÃO PARAR DE CAIR

capítulo 31: o centro das atenções agora é ela

Nathan

Vários meses se passaram desde que minha mãe se casou. Para ser sincero, sinto-me estranhamente inquieto. Eu deveria estar feliz, certo? Tudo parece perfeito, mas por que não me sinto assim?

Minha mãe está grávida de nove meses e será uma menina. Só de pensar que vou ser irmão mais velho, meu coração palpita, não de alegria, mas de medo. Meus colegas sempre me disseram que deixamos de ser os preferidos quando nasce um irmão mais novo e eu não queria isso. Não queria ser substituído.

Eles também me contaram que, quando temos irmãos mais novos, perde-se a privacidade e os pais deixam de nos levar a sério. Isso mexe comigo, pois aprecio minha solidão, gosto de ser o único filho. Gosto de ser o centro das atenções.

Eu não deveria estar preocupado com nada disso. Afinal, lembro-me claramente de querer que minha mãe se casasse. Mas agora percebo que a expectativa é muito diferente da realidade.

No fundo, sei que as coisas vão mudar e tenho medo disso. No entanto, entendo que é uma parte natural da vida e, por mais assustador que pareça, preciso aceitar e aprender a lidar com isso.

°°°

Em uma noite tranquila, despertei de um sono profundo. Ao invés da imagem familiar dos meus pais sentados no sofá, conversando baixinho, encontrei minha tia Hannah e seu namorado André.

- Onde estão meus pais? - indaguei, esfregando o sono dos olhos enquanto me aproximava deles.

- Eles foram para o hospital, Nathan - Hannah respondeu, arrastando-se para o lado no sofá, abrindo espaço para mim.

- Não precisa - disse, preferindo permanecer de pé - Minha irmãzinha está nascendo?

- Sim - Hannah confirmou, com a cabeça - Seus pais não tiveram tempo de te acordar, eles saíram correndo e nos chamaram para ficar com você.

- Não estou surpreso - respondi, um suspiro escapando dos meus lábios.

- Você está feliz por ganhar uma irmã? - perguntou Hannah, enquanto André apenas me observava com uma expressão amigável.

- Não - minha resposta foi direta.

A surpresa ficou evidente nos rostos de Hannah e André.

- Por quê? - André questionou.

- Porque vou receber menos atenção.

Os dois riram como se eu tivesse contado uma piada.

- Kelly nunca faria isso com você - Hannah assegurou.

- E nem Lucas - André acrescentou.

- É o que todo mundo diz, né? - questionei, com um toque de ironia na voz.

Hannah e André riram novamente.

- Por que vocês só ficam rindo? - perguntei, sentindo-me um palhaço.

- É que seu jeito de falar é tão adulto para a sua idade, Nathan - Hannah explicou, um sorriso brincando em seus lábios - Isso te torna engraçado.

- Você parece realmente maduro para sua idade, Nathan - concordou André, com um olhar apreciativo - Especialmente com esses óculos - ele acrescentou, fazendo-me ajeitar os óculos no rosto.

Eu sempre me senti um pouco deslocado, como um nerd. A maioria dos meus colegas de escola me achava estranho.

De repente, o celular de Hannah tocou e ela saiu da sala para atender. Aproveitei a oportunidade e tomei seu lugar no sofá.

- André, por favor, me diga quem é o meu verdadeiro pai. Eu sei que você sabe - pedi, estou há meses fazendo essa pergunta.

- Eu não posso te contar, já disse, você pode descobrir isso sozinho - ele disse.

- Eu sei que posso, é por isso que estou tentando - retruquei, com um toque de sarcasmo na voz.

- Não, você não está - ele disse - Você está tentando descobrir isso através de mim.

Hannah voltou para a sala, um sorriso brilhante no rosto, sinal de que minha irmãzinha havia nascido. André se levantou do sofá, um sorriso igualmente radiante no rosto.

- Sua irmãzinha nasceu, Nathan. Mas foi um parto cesáreo, então ela e sua mãe vão ficar no hospital por mais alguns dias - ela informou, se curvando para ficar na minha altura.

Acenei com a cabeça e, após alguns minutos de silêncio, retirei-me para o meu quarto. Fechei a porta atrás de mim, o peso da notícia me fazendo sentir uma tristeza profunda. No entanto, o sono pesado logo veio, não me dando tempo para chorar.