prólogo

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Estava andando no corredor da escola com meus livros, percebendo olhares ao meu redor. Sou tão gorda que as pessoas tinham que se encolher pra passar. Realmente me sinto desconfortável com o meu corpo.

Queria ser magra e bonita, assim eu poderia ter um namorado lindo e perfeito. Mas isso é impossível. Tentei de todas as maneiras emagrecer, tentei ficar uma hora sem comer, fiz exercícios.

Infelizmente não tenho dinheiro para consultar um nutricionista. Minha vida é uma merda, mas finjo que não me importo.

Ocupo metade da largura do corredor e tenho uma cadeira larga só para mim. É óbvio que me sento no fundo da sala, nunca tive coragem de colocar a minha cadeira para frente.

Quando cheguei na sala, fui em direção da minha cadeira, mas acabei derrubando o material de um aluno. Eu me abaixei para juntar o material dele, mas o meu traseiro acabou derrubando o caderno de uma menina.

Pude perceber que todos na sala seguravam o riso. Após ajudar o menino a arrumar seu material, levantei-me e tentei pegar o caderno da loira que estava no chão.

- não, gorda, deixa que eu pego. Se você se abaixar novamente, sua bunda enorme vai derrubar outro caderno - disse ela em tom de zombaria, e todos na sala começaram a rir.

Sem dizer nada, retornei à minha cadeira, mas ela continuou a me provocar.

- eu ainda não consigo entender como essa cadeira aguenta duzentos quilos. Pelo visto, fizeram ela bem resistente - provocou, provocando mais risadas, inclusive da professora que tinha acabado de chegar.

Nesse momento, perdi a paciência e empurrei-a com força, fazendo com que batesse a cabeça e o nariz sangrasse. A menina começou a chorar e a professora de matemática me mandou para a diretoria. Quando saí, ouvi alguém me chamando de gorda.

Em vez de seguir para a diretoria, fui ao banheiro chorar. Além de me verem como gorda, as pessoas me enxergavam como agressiva, mas, na realidade, eu era emocionalmente frágil.

Decidi ir para casa antes do término das aulas e nem passei pela diretoria.

°°°
Quando cheguei em casa, tive a surpresa de ver minha mãe com um homem, que certamente era mais um dos seus ficantes.

- kelly, este é meu namorado, Miguel - disse minha mãe, segurando a mão dele e sorrindo, enquanto Miguel parecia sério, me observando.

"Namorado?" - Pensei surpresa pois minha mãe tinha 30 anos, estava acompanhada de um homem aparentemente bem mais novo, cerca de 19 anos.

- você não me disse que tinha uma filha - comentou Miguel, olhando para minha mãe.

- eu esqueci de mencionar, mas agora você sabe que tenho uma filha.

Sem dizer nada, subi as escadas e, depois de um tempo, comecei a ouvir gemidos vindo do quarto da minha mãe.

Ah, como eu detestava ter meu quarto ao lado do dela; sempre trazia homens embriagados todas as noites, tornando impossível dormir. Por isso não acreditava quando ela disse que Miguel era seu namorado.

Após ele se retirar, minha mãe veio ao meu quarto, não muito amigável.

- por que não cumprimentou o Miguel? - perguntou ela.

- não sou obrigada a gostar dos homens que você traz aqui - respondi.

Ela me deu um tapa forte no rosto, quase fazendo com que lágrimas escorressem dos meus olhos.

- ele será seu padrasto a partir de agora; ele vai morar aqui amanhã, então é melhor você respeitá-lo - afirmou ela.

- está bem, entendi - falei, chorando.

- e por que chegou tão cedo hoje?

- me liberaram mais cedo, estava faltando água na escola - expliquei, entre soluços.

- é melhor que não tenha arrumado confusão hoje. Se eu for chamada na escola novamente, eu não vou pegar leve com você - alertou, batendo a porta ao sair.

Nossa relação nunca foi boa, e às vezes me questionava se ela realmente me amava. Nunca conheci meu pai, e ela nunca falou sobre ele.

Às vezes sonhava em ter uma família normal e uma vida tranquila, mas no momento, com minha mãe, isso parece impossível. Meu único desejo é emagrecer e casar com alguém para finalmente ter uma família feliz.

AS LÁGRIMAS NUNCA VÃO PARAR DE CAIR Onde histórias criam vida. Descubra agora