Ainda estava sentindo a adrenalina do julgamento quando saí do tribunal. Tudo parecia um borrão. Fui até um banco perto e me sentei, tentando acalmar meus pensamentos. Foi quando vi Lucas se aproximando. Ele tinha assistido ao julgamento junto com a Hannah.
- Kelly - chamou ele, com um aceno de cabeça para que eu me juntasse a ele.
Pelo canto do olho, vi Hannah se afastar, nos deixando sozinhos. Lucas e eu nunca fomos muito próximos, então fiquei surpresa com o convite. Mas fui até lá e me sentei ao lado dele.
- Você foi incrível lá dentro - disse ele, olhando pra mim. - Foi muito forte e corajosa.
Dei de ombros, desconfortável com o elogio. Lucas sempre foi o tipo brincalhão, então aquela seriedade toda me pegou de surpresa.
- Obrigada, Lucas - disse eu, sem saber muito bem o que dizer.
Ficamos em silêncio por um momento olhando para o nada.
- Foi por isso que você decidiu estudar direito?
- Sim, foi por isso - respondi concordando com a cabeça.
- Você já se perguntou porque eu decidi ser psicólogo?
- Para ser sincera, nunca pensei nisso - admiti, virando-me para ele - Por quê?
Ele se recostou no banco, olhando para o céu enquanto falava.
- Quando eu era pequeno, Hannah tinha pesadelos terríveis. Ela acordava no meio da noite, gritando. Nossos pais não sabiam o que fazer. Então eles levaram ela para um psicólogo. E, sabe, ele ajudou. Não imediatamente, é claro, mas eventualmente os pesadelos pararam.
Ele se virou para olhar para mim.
- Eu vi o quanto isso mudou a vida dela. E eu pensei... se eu pudesse fazer isso por alguém, então valeria a pena.
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo o que ele tinha dito.
- Isso é incrível, Lucas - admiti. - Eu sempre te vi como o brincalhão, mas você tem um lado realmente profundo.
Ele riu, seu sorriso característico voltando.
- Eu tento manter isso escondido - brincou. - Mas, falando sério, eu acho que todo mundo tem seus motivos para escolher o caminho que escolhe. E eu acho que você fez uma ótima escolha, Kelly. Você vai ser uma ótima advogada.
- Obrigada, Lucas - disse eu, sorrindo para ele. - Isso significa muito vindo de você.
Ele assentiu, olhando para o céu novamente.
Lucas ficou em silêncio por um momento antes de se virar para mim, seus olhos encontrando os meus.
- Kelly, eu sei que você tem passado por muito. Com tudo que aconteceu com Miguel, e agora com sua mãe... - ele parou, parecendo escolher cuidadosamente suas palavras. - Eu não posso nem começar a imaginar o quanto isso deve ter sido difícil para você.
Eu assenti, sentindo um nó se formar na minha garganta. Eu tinha tentado manter tudo isso trancado, tentando ser forte. Mas a verdade era que eu estava lutando.
- Eu estava pensando... - começou Lucas, hesitante. - Eu não costumo fazer isso, mas... o que você acha de uma consulta? Não como paciente, claro. Mais como... - ele deu de ombros, parecendo um pouco envergonhado. - ...um encontro?
Fiquei surpresa, mas depois sorri. Não era o tipo de "encontro" que eu esperava, mas de alguma forma, parecia certo. Lucas era alguém que entendia a dor e a luta, alguém que poderia me ajudar a navegar por tudo isso.
- Eu adoraria, Lucas, - eu disse - acho que eu realmente poderia usar alguém para conversar.
Lucas sorriu, seu alívio evidente.
- Ótimo. Vou te passar o endereço. Vamos marcar para o final desta semana?
Eu assenti, grata pela oferta. Eu não tinha certeza do que o futuro reservava, mas com amigos como Lucas ao meu lado, eu sabia que poderia enfrentar qualquer coisa.
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AS LÁGRIMAS NUNCA VÃO PARAR DE CAIR
Roman pour AdolescentsEm meio a adversidades, essa é a história de superação de uma mulher. Sofrendo abusos na infância e marcada pela obesidade, ela desafia as circunstâncias e constrói uma nova vida. Ela encontra o amor verdadeiro e juntos, eles criam um lar feliz e am...