capítulo 7: Bem vindo ao mundo

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Hannah voltou com pipocas, refrigerante e sentou ao meu lado, colocando os alimentos sobre a mesa e ligando a TV.

- Seu irmão é advogado? - insisti em perguntar, ainda presa à imagem do Lucas em seu terno impecável.

- Ah, Lucas? - Hannah riu, uma risada leve que não alcançava seus olhos - Ele não é advogado. Estava arrumado porque ia para um encontro.

Meu coração, que até então batia em um ritmo constante, pareceu falhar uma batida. Conhecia o irmão de Hannah há apenas alguns minutos, mas já havia se encantado por ele. A ideia de Lucas indo para um encontro era, de alguma forma, decepcionante.

- Um encontro? - perguntei, tentando esconder a decepção em minha voz.

- Sim - ela respondeu, parecendo surpresa com a minha reação - Ele tem uma vida amorosa bastante ativa. Por que? Você parecia interessada.

Corei, balançando a cabeça rapidamente.

- Não, não... Só estava curiosa - respondi, tentando minimizar a situação.

Mas, por dentro, eu estava decepcionada. Mal conhecia Lucas, mas algo nele havia me capturado. A ideia de ele estar em um encontro com outra pessoa era um pouco difícil de engolir.

°°°

A conversa seguiu, e as pipocas diminuíam enquanto a noite avançava. Foi então que senti. Uma dor sutil, quase como uma cólica, mas diferente. Tentei ignorar, concentrando-me no filme, mas a dor cresceu, insistente, ganhando força e ritmo.

- Hannah... - comecei, hesitante - Estou me sentindo estranha.

Ela me olhou, preocupada, e logo percebeu a gravidade da situação.

- Você está bem? - perguntou, já se levantando.

- Acho que... - a dor cortou minha fala, mais intensa agora.

Era como se cada contração fosse um sinal, um prelúdio do inevitável. O medo e a antecipação se misturavam enquanto eu finalmente percebia.

- Vai nascer - sussurrei, mais para mim do que para ela.

Hannah agiu rápido, desligando a TV e me ajudando a levantar. O conforto do apartamento deu lugar à urgência do momento. As pipocas e o refrigerante esquecidos sobre a mesa.

Hannah chamou um táxi e, antes que pudéssemos perceber, já estávamos no hospital.

Assim que chegamos ao hospital, fui levada às pressas para a sala de emergência. As contrações estavam cada vez mais fortes e mais próximas, mas algo não estava certo.

A equipe médica foi rápida em identificar o problema. O bebê estava em uma posição complicada e não seria possível um parto normal.

- Vamos ter que fazer uma cesariana - o médico explicou, sua voz calma e profissional, mas eu podia sentir a urgência em suas palavras.

Meu coração disparou. Eu sabia que a cesariana era uma cirurgia comum, mas não podia evitar o medo que sentia.

Hannah apertou minha mão, seus olhos cheios de determinação. - Vai ficar tudo bem - ela disse, tentando me tranquilizar.

Fui levada às pressas para a sala de cirurgia em uma corrida frenética. As luzes fluorescentes do corredor piscavam acima de mim, enquanto eu era empurrada em uma maca. O mundo à minha volta se movia em um borrão indistinto. A adrenalina percorria minhas veias, mas em contrapartida, uma sensação de medo e ansiedade também me acompanhava. Cada batida do meu coração parecia ressoar na minha cabeça, amplificando a tensão do momento. Apesar da rapidez com que tudo aconteceu, cada segundo parecia se estender, como se estivesse presa em uma realidade paralela onde o tempo se arrastava.

°°°

Então, de repente, tudo parou. O ruído do equipamento médico, as conversas apressadas, os passos apressados. Tudo foi substituído por um silêncio ensurdecedor, que só era quebrado pelo choro fraco e suave de um bebê. Meu bebê. Sentir um alívio lavando toda a tensão e medo que haviam me consumido. Cada músculo do meu corpo relaxou, e eu pude finalmente respirar. A dor aguda que eu sentia foi substituída por uma sensação de realização e alegria.

E assim, apesar das complicações, do medo e da dor, nasceu. Meu lindo menino. Minha luz no fim de uma noite longa e tempestuosa. E, por mais assustador que tenha sido, eu faria tudo de novo. Por ele. Meu filho.

Os médicos levaram o bebê para dar banho e realizar alguns exames necessários. Enquanto isso, Hannah começou a me fazer várias perguntas.

- Já decidiu o nome do seu bebê? - ela perguntou sentada ao lado da cama.

- decide por Nathan.

Hannah pareceu confusa com a minha escolha.

- Nathan? - ela questionou perplexa - mas esse nome significa...

- Presente de Deus - completei.

- Mas Kelly, Deus não permitiria...

- Eu sei, Hannah, mas meu filho não é uma maldição - respondi, tentando me acomodar na cama - eu não considero ele como um problema na minha vida, pelo contrário, ele me fez amadurecer. Tenho um amor maternal por ele, algo que nunca recebi da minha mãe. Meu filho pode ter uma parte de um homem mau no DNA dele, mas ele também tem uma parte de mim. Vou fazer com que a minha parte prevaleça nele.

Hannah me olhou, perplexa, mas com um sorriso orgulhoso.

- Kelly, você é incrivelmente forte. Nem todos conseguem encarar a vida dessa maneira.

- Obrigada, Hannah.

Após isso, os médicos retornaram com meu filho para que eu pudesse amamentá-lo.

Ao tê-lo em meus braços, experimentei uma sensação de alegria intensa. Meu coração se aquecia ao observar seus olhos sonolentos enquanto ele se alimentava. Não pude conter um sorriso quando ele segurou meu dedo.

A sensação de tê-lo tão próximo a mim, confiando em mim para seu sustento, foi profundamente tocante. Eu podia sentir o calor de seu pequeno corpo contra o meu, ouvir sua respiração ritmada enquanto ele se alimentava. Cada detalhe me fazia perceber quão real e maravilhoso era aquele momento.

Lentamente, Nathan adormeceu em meus braços. Eu o observava, ainda maravilhada com a pequena vida que eu havia trazido ao mundo. Sua expressão serena me dava tranquilidade e me enchia de uma paz inigualável.

 Sua expressão serena me dava tranquilidade e me enchia de uma paz inigualável

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