Dois meses depois:
Após concluir meus estudos, eu estava determinada a não prosseguir para a faculdade. Afinal, já estava exausta de todo o estudo. Encontrei um emprego de meio período em uma loja de roupas, um lugar onde me sentia constantemente envergonhada. Nos últimos meses, eu ganhei bastante peso, chegando a marcar noventa e seis quilos na balança.
A ironia de tudo era que a loja onde eu trabalhava não vendia roupas maiores que P. Os olhares tortos dos clientes eram uma constante, sempre que eu os atendia. Afinal, quem poderia levar a sério uma vendedora que tinha que comprar suas roupas em lojas plus size? Tentei procurar emprego em algumas dessas lojas, mas até mesmo elas pareciam se importar com a aparência das atendentes. Nenhuma me contratou.
Minha mãe, por sua vez, já não era mais uma prostituta. Uma mulher mais jovem e atraente havia roubado todos os seus clientes, forçando-a a encontrar um emprego como faxineira. Miguel, ainda trazia aquela mulher ruiva para a nossa casa enquanto minha mãe estava no trabalho. Eu ouvi essa mulher mencionar que um idoso rico com quem ela estava envolvida estava hospitalizado e à beira da morte. Ela planejava pegar todos os seus bens após a sua morte para ir morar com Miguel.
Decidi não contar nada para minha mãe. Ela estava ocupada demais com o trabalho e quase não nos víamos. Além disso, eu sabia que ela estava lutando para se adaptar à rotina de um emprego normal. Ela tinha sido prostituta desde os dezoito anos, desde que minha avó a abandonou em um trem quando ainda era um bebê.
Na loja, os funcionários tinham o costume de almoçar juntos antes de ir para casa, mas eu nunca participei por vergonha. Quando chegava em casa, tentava cozinhar com o que tinha, o que geralmente resultava em arroz com algum outro ingrediente. No entanto, um dia, após um longo período sem comer, eu tentei cozinhar arroz com feijão. O cheiro da comida começou a se espalhar pela cozinha, mas ao invés de abrir meu apetite, ele fez meu estômago revirar.
Fui tomada por uma onda de desconforto que cresceu dentro de mim, transformando-se rapidamente em náusea. O cheiro da comida, que antes parecia agradável, agora estava estranhamente intenso e desagradável. Senti um calor subindo pelo meu corpo e, de repente, uma sensação de mal-estar tomou conta de mim. Sem conseguir controlar, corri para o banheiro, a náusea me dominando completamente.
Decidi pedir uma pizza, já que tinha recebido o meu salário naquele dia. Comi tudo e adormeci na cama. Acabei sendo acordada pelo som de minha mãe gritando com Miguel.
- COMO VOCÊ TEM CORAGEM DE FAZER ISSO COMIGO? VOCÊ DISSE QUE ME AMAVA - ela gritou.
Peguei meu celular e vi que já eram vinte e duas horas da noite. Desci as escadas e vi minha mãe chorando, enquanto Miguel fazia as malas.
A mulher ruiva, agora com o cabelo pintado de loiro, estava em um Lamborghini vermelho estacionado em frente à nossa casa. Eu não conseguia acreditar que aquela mulher tinha tido a coragem de fazer aquilo com um idoso.
Descobri que o idoso era um empresário muito bem sucedido e famoso na internet. Quando ele se casou novamente, a esposa não queria ser divulgada, mas eu sabia que era a amante do Miguel.
- MIGUEL, POR QUE VOCÊ ESTÁ ME DEIXANDO? - minha mãe perguntou, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
- Porque eu não te amo, e nunca te amei - ele respondeu friamente, fechando a mala do carro e entrando nele.
Minha mãe se sentou no chão em frente à porta e começou a chorar. Dei a ela uma toalha para enxugar as lágrimas.
Ela me olhou com uma expressão que eu nunca havia visto antes. Era uma mistura de raiva, tristeza e, pior de tudo, culpa. Mas a culpa não estava direcionada a Miguel. Estava direcionada a mim.
- Por que você não me contou antes sobre os planos deles? - ela acusou, sua voz subindo de tom. - Você sabia que ela estava aqui enquanto eu estava no trabalho!
- Mãe, eu... - tentei explicar, mas ela me interrompeu.
- Você poderia ter evitado tudo isso! - ela continuou, as lágrimas agora escorrendo pelo seu rosto.
Senti como se tivesse levado um soco no estômago. Eu sabia que minha mãe estava sofrendo, mas eu nunca imaginei que ela colocaria a culpa em mim. Saí da sala, incapaz de encará-la. Corri para o meu quarto e fechei a porta, tentando abafar o som da minha mãe chorando.
Eu sabia que não tinha culpa no que estava acontecendo, mas a acusação da minha mãe doía mais do que eu poderia expressar. Naquele momento, senti uma tristeza profunda e um desespero que eu nunca havia sentido antes.
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AS LÁGRIMAS NUNCA VÃO PARAR DE CAIR
Novela JuvenilEm meio a adversidades, essa é a história de superação de uma mulher. Sofrendo abusos na infância e marcada pela obesidade, ela desafia as circunstâncias e constrói uma nova vida. Ela encontra o amor verdadeiro e juntos, eles criam um lar feliz e am...