capítulo 13: Verdades Parciais e Perguntas Difíceis

5 6 15
                                    

O som do meu telefone tocando ecoou pelo meu apartamento. Olhei para o visor e vi um número desconhecido. Curiosa, atendi a chamada.

- Alô, é Kelly? - A voz do outro lado da linha era amigável, mas carregava um tom de seriedade que me fez franzir a testa.

- Sim, sou eu. Quem está falando? - Perguntei, acomodando-me no sofá.

- Aqui é a Dra. Silva, do Hospital Santa Maria. Sua mãe está aqui conosco - ela explicou, sem rodeios.

Foi uma surpresa, mas mantive a calma.

- O que aconteceu? - Perguntei, tentando manter a voz firme.

- Sua mãe teve um ataque cardíaco - A médica informou. Sua voz era calma e profissional, o que me ajudou a manter o foco. - Ela está estável no momento, mas a situação é séria. Seria bom se você pudesse vir ao hospital.

- Estou indo para aí - Respondi.

- Ótimo, te vejo em breve - A Dra. Silva disse antes de desligar.

Coloquei o celular de lado, respirando fundo. Um sentimento de culpa me invadiu, por ter deixado minha mãe. Comecei a questionar se a minha decisão tinha sido correta.

Meus olhos ardiam enquanto lágrimas teimavam em cair. Não conseguia entender o porquê de tanta tristeza, considerando a situação.

Nathan estava brincando com seu carrinho, ele interrompeu seu jogo ao perceber meu estado. Enxuguei as lágrimas rapidamente, não queria que me visse tão vulnerável. Receava que pudesse me achar fraca e incapaz de protegê-lo.

Apesar de seus cinco anos, ser mãe ainda me parece surreal. Sempre questionei minha maturidade e capacidade para essa tarefa. No entanto, a certeza do amor de Nathan por mim traz conforto e confiança.

- Mãe, por que você está chorando? - Nathan perguntou, subindo no sofá ao meu lado.

- Sua avó está doente, querido - eu disse, tentando manter a voz firme.

Ele pareceu surpreso. - Eu tenho uma avó?

- Sim - respondi, sentindo um peso no coração por nunca ter falado sobre ela.

- Por que a gente nunca foi visitar ela? Meus amigos sempre visitam as avós deles - ele perguntou, seus olhos inocentes me encarando.

- Nem todas as famílias são iguais, Nathan - eu disse, levantando e pegando ele no colo.

- mas porque eu sou o único da creche que não tem pai? - ele perguntou um pouco triste.

Eu senti um nó na garganta, sabia que aquela pergunta viria em algum momento. Respirei fundo, olhando nos olhos dele, tentando encontrar as palavras certas.

- Bem, Nathan, às vezes as coisas não saem como a gente quer, e a vida tem um jeito estranho de fazer as coisas acontecerem - eu disse, tentando escolher minhas palavras com cuidado.

- Mas onde ele está? Por que ele não está aqui com a gente? - ele perguntou, a tristeza em seus olhos me atingindo.

- Sabe, Nathan, nem sempre ter um pai é uma coisa boa. - Comecei, tentando encontrar uma maneira de explicar a situação sem magoá-lo. - Às vezes, as pessoas têm pais que não são muito legais ou que não cuidam bem delas.

- Como assim? - Nathan perguntou, olhando para mim com uma expressão confusa.

- Bem, algumas pessoas têm pais que não são gentis com elas, ou que não as amam como deveriam. E isso é muito triste. - Eu disse, olhando para ele. - Mas você é muito sortudo, Nathan. Porque você tem uma mãe que te ama mais do que tudo no mundo.

Nathan parecia confuso, mas acenou com a cabeça.

- Ok, mãe. Eu entendi - ele disse, sua voz pequena e triste, parecendo tentando entender as minhas palavras.

Eu sabia que não era a verdade, mas seria o suficiente por agora. Eu não poderia explicar a verdadeira história por trás da ausência de seu pai, não quando ele era tão jovem e inocente.

Eu apenas orei para que, quando o momento certo chegasse, Nathan pudesse entender e perdoar a complexidade da história.

AS LÁGRIMAS NUNCA VÃO PARAR DE CAIR Onde histórias criam vida. Descubra agora