capítulo 11: O caminho para a justiça

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Os dias estavam passando rapidamente e eu tinha dificuldade em acompanhá-los. Decidi, então, concentrar-me na minha vida profissional e comecei a cursar a universidade. Percebi que as pessoas tendem a julgar muito pela aparência, mesmo negando essa realidade.

Depois que perdi peso, notei uma grande diferença no tratamento que recebia das pessoas. Comecei a chamar mais atenção, a receber mais olhares. Inicialmente, pensei que estava sendo observada por ser considerada feia, mas as pessoas sorriam para mim. Eram sorrisos amigáveis e eu não retribuía, pois nunca havia experimentado essa situação.

Já se passara um ano. Nathan passava o dia na creche enquanto eu trabalhava pela manhã e estudava à noite. Hannah, que cuidava mais dele do que eu, era insubstituível. Ela buscava Nathan na creche e cuidava dele até que eu voltasse da faculdade. Eu não poderia ser mais grata a ela.

°°°

Em um certo dia, eu estava sentada na praça de minha universidade com um grupo de colegas. Elas discutiam os motivos pelos quais escolheram cursar direito. Contudo, minha mente estava longe, incapaz de focar na conversa delas.

- Kelly! - chamou uma delas, uma morena de olhos expressivos e cabelos lisos.

- O que foi? - perguntei, voltando minha atenção para as três meninas que estavam ao meu redor.

- É a sua vez de dizer porque escolheu estudar direito - ela disse.

Eu abri a boca para falar, mas fechei de novo. Eu estava nervosa, sem saber se deveria compartilhar minha história com elas. Eu respirei fundo, olhando para cada uma delas.

- Bem - comecei - é uma história um pouco difícil de contar.

Elas pareceram interessadas, suas expressões revelando curiosidade.

Respirei fundo novamente, tentando reunir a coragem para continuar.

- Eu escolhi o direito porque... eu preciso dele - disse.

Elas pareciam confusas com a minha resposta. Eu sabia que teria que explicar melhor.

- Eu fui... abusada - consegui dizer finalmente - e a pessoa que fez isso comigo nunca foi punida. Eu contei para a minha mãe, mas ela me culpou. Eu me sentia tão impotente, tão assustada. Eu me culpava por aquilo que estava acontecendo, então eu nunca tive coragem para denunciá-lo.

Houve um silêncio surpreso após eu terminar de falar. Eu esperava julgamento ou incredulidade, mas o que vi foram olhares de compreensão e empatia.

Parei por um momento, recolhendo minhas emoções.

- Agora, ele tem dinheiro suficiente para se safar. Eu percebi que se eu quisesse justiça, eu teria que ser algo mais. Foi por isso que escolhi estudar Direito. Eu estou aqui para aprender como fazer justiça. Não só para mim, mas para todas as outras pessoas que passaram pelo que eu passei.

Houve um silêncio por um minuto até que a terceira delas, a ruiva de olhos verdes e expressão séria, começou a falar.

- Eu também fui abusada - disse ela em voz baixa - eu era apenas uma garota quando as atrocidades começaram a acontecer, e por anos, eu vivi com o medo e a vergonha. Quando finalmente reuni a coragem para relatar o abuso, me vi uma luta que parecia impossível de vencer.

Ela parou de falar por um minuto, tentando não chorar. Ela contou que sua mãe não acreditou nela e que a polícia não conseguiu prosseguir com o caso devido à falta de provas e testemunhas.

- Ele era um homem respeitado na comunidade, conhecido por sua personalidade carismática e charmosa. Quando as minhas alegações vieram à tona, muitos na comunidade se recusaram a acreditar em mim, optando por apoiar o homem que pensavam conhecer - continuou.

Ela enxugou as lágrimas, mas agora parecia ter raiva.

- Ele contratou um advogado habilidoso que foi capaz de lançar dúvidas sobre a minha credibilidade. Eles fizeram parecer que eu era uma adolescente rebelde e problemática, tentando causar problemas em uma família feliz. Eu estou aqui pra buscar justiça por mim mesma.

Depois que a ruiva terminou de compartilhar sua história, houve um silêncio doloroso entre nós.

A morena foi a primeira a falar novamente. Ela olhou para nós duas, claramente tentando encontrar as palavras certas para dizer.

- Eu... Eu sinto muito por tudo o que vocês passaram - disse ela, parecendo genuinamente angustiada. - Eu... eu não sei o que dizer. Eu nunca passei por isso, então não posso imaginar como deve ser...

Ela olhou para baixo, claramente em conflito.

- Não tem problema - disse a ruiva, com um sorriso triste. - Nós não esperamos que você entenda. Apenas... Apenas nos apoie. Isso é tudo que pedimos.

Eu assenti, concordando com as palavras delas. Isso era tudo que queríamos, que as pessoas acreditassem em nós, que nos levassem a sério.

AS LÁGRIMAS NUNCA VÃO PARAR DE CAIR Onde histórias criam vida. Descubra agora