Capítulo 13 - Renan

154 25 0
                                    

Se era pra fazer jogo duro então estaríamos empatados, Sayuri me deixa muitas vezes num estado totalmente incontrolável. Arranquei sua blusa com uma força que nem sei de onde vinha e ela apenas me olhava assustada.

Assim que a blusa já estava no chão, vi diversas marcas em seus braços, a virei a força e vi imensas marcas em suas costas, era por isso que usava blusas de frio, era pra esconder tudo isso, e ela não foi capaz nem de confiar em mim.

- Me larga – ela gritou – Olha o que você fez com a minha blusa seu monstro.

Naquela altura do campeonato eu estava pouco me lixando pra blusa, pra calmante e pro raio que o parta.

- Porque não me contou isso? Porque você me escondeu? Sayuri o que é isso? – gritei com ela e seus olhos se encheram de lagrimas. Senti meu coração bater descompassado e senti raiva por eu ter agido dessa forma com ela.

- Porque eu tive medo ta legal? – disse ela chorando, a abracei e ela estava relutante.

- Por favor amor, se acalma ta? Vamos nos acalmar e vamos conversar em paz tudo bem? Eu te prometo que eu vou cuidar de você e que vou te contar tudo – por mais que esse assunto fosse doloroso eu teria que me abrir com ela.

A peguei no colo e a coloquei na cama, dei o suco para ela e ela bebeu, suas mãos estavam tremulas assim como todo o meu corpo. Ficamos um bom tempo em silêncio até que ela suspirou.

- Quem começa? – seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar.

- Eu começo vai – disse eu suspirando, ela se ajeitou olhando diretamente em meus olhos e eu abaixei o olhar, tinha medo desse fantasma que me perseguia.

- Quando eu era pequeno eu tinha um melhor amigo, ele se chamava Henrique – suspirei lembrando – Nós vivíamos grudados um no outro, jogávamos futebol na rua, íamos ao parque juntos com nossos pais, fazíamos piqueniques e até estudamos na mesma escola. As brigas aconteciam, mas nossa amizade sempre falou mais alto, voltávamos e íamos bater cards – sorri com a lembrança de tudo o que vivíamos.

- E o que aconteceu? O que isso tem a ver com os calmantes? – ela me perguntou e minha garganta se fechou. Meus olhos já estavam prestes a soltar tantas lagrimas presas ao longo de todos esses cinco anos.

- Quando tínhamos dez anos, estávamos na rua brincando como sempre em um dia qualquer. E aí ele se distraiu e um cara veio acelerando o carro e não o viu, eu tentei gritar para avisar, mas era tarde, só vi o corpo dele caindo no chão com o impacto e me tiraram dali. Não vi ele entrando na ambulância e nem pude ajudar dele – minhas lagrimas caiam – Eu passei a tarde toda aquele dia me perguntando se ele estava bem, se ele sairia logo para irmos brincar ou se eu poderia ir visitá-lo e escrever com caneta no gesso que ficaria em sua perna, mas naquela mesma tarde minha mãe chegou em meu quarto e falou que ele simplesmente tinha ido para o céu, que tinha virado um anjinho – eu deixava as lagrimas caírem – Eu não pude me despedir dele, eu não pude dizer que amava a companhia dele, não pude ajudar, não pude sequer ir pro velório, não sei onde ele ta enterrado e eu simplesmente não consigo passar uma noite sem reviver toda aquela cena terrível na minha cabeça.

Sayuri me olhava com lagrimas nos olhos e simplesmente deitou minha cabeça em seu colo, sentia suas mãos me fazendo carinho e eu ali me libertei, chorei e desabafei com aquela que era minha melhor amiga.

- Eu sinto muito amor – ela soltou baixinho – Mas ele está te olhando lá do céu, eu tenho certeza disso. Vamos descobrir uma forma de fazer isso sair da sua cabeça e uma forma de você se sentir ligado a ele pra sempre.

E mais lagrimas caiam, eu sentia que molhava a calça dela, mas ela parecia não se importar, parecia um pouco patético um cara como eu chorando daquela maneira no colo da namorada, mas não me importava, eu precisava disso, precisava dessa libertação e eu queria poder viver sem usar tantos calmantes que já faziam mal ao meu estomago, queria poder viver de forma sadia, feliz e sem lembrar as partes ruins, dos sofrimentos e sabia que ela poderia me ajudar.

Assim que parei de chorar senti meu corpo amolecendo e senti a necessidade de dormir, cochilei por uns quinze minutos e acordei assustado. Tinha sonhado mais uma vez com o Henrique, ela percebeu e me abraçou forte, me acalmando.

- Desculpa ter dormido – disse sem graça – E desculpa por agir como um monstro e por chorar tanto.

- Está tudo bem. Acho que esta na hora de eu contar minha história – ela disse

- Tudo bem, pode começar – olhei para ela e seu olhar se escureceu, algo de mais terrível acontecia com ela.

A Menina do Tênis FloridoOnde histórias criam vida. Descubra agora