Capítulo 19 - Sayuri

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Senti um grande alivio quando soube que minha mãe já estava acordada e que apesar de precisarem fazer mais exames ela já estava bem. O doutor me disse que era uma situação delicada a dela e que tivemos sorte por não ter quebrado nenhum osso que pudesse furar os órgãos.

Agradeci a Deus em uma oração silenciosa e fiquei esperando poder reencontrá-la, apesar de ter ficado apenas um dia desacordada eu senti falta de vê-la de olhos abertos, de ouvir sua voz e de poder sentir que ela estava bem. Renan foi até a lanchonete comprar um lanche para nós dois, já se passava das duas da tarde e fiquei impressionada de não ter quase ninguém no hospital para ser atendido, isso era um milagre e provava que Deus realmente existe e protege todos nós de acidentes, violências e de todas as coisas ruins.

Renan chega carregando em uma mão dois lanches e na outra uma garrafinha de refrigerante e dois canudos, desajeitado do jeito que é decidi levantar e ajudá-lo. Peguei um dos lanches e me sentei novamente.

- Já sabe quando vai poder vê-la? – ele perguntou dando uma mordida em seu lanche que pareci a de frango com catupiry.

- O doutor está refazendo todos os exames para ter certeza de como as coisas estão, mas me disse que assim que terminasse me chamaria pra vê-la – respondi sorrindo.

- Está mais aliviada né?

- Sim,e grande parte desse alivio e da calma vieram de você que esteve aqui esse tempo comigo, muito obrigada – beijei sua bochecha e então comecei a comer meu lanche de quatro queijos que estava uma delicia.

Enquanto comíamos ficamos em silêncio absoluto, estávamos com muita fome e logo nosso "almoço" tinha acabado. Renan pegou os pacotes, a garrafinha e os canudos para jogar no lixo e o doutor então apareceu no final do corredor vindo em minha direção.

- Senhorita Sayuri terminamos todos os exames, pelo que parece está tudo certo internamente na sua mãe. Mas como ela sofreu uma violência muito grande e ainda sente dores, achamos que seria melhor ela ficar mais alguns dias, pois os analgésicos comuns não tirariam toda essa dor dela. – ela disse calmamente.

- Tudo bem doutor, é melhor ela ficar mesmo. Quero ver ela bem e saudável para voltarmos pra casa! – respondi sorrindo – Posso vê-la?

- Claro – ele disse dando me dando a passagem – Pode vir também rapazinho – ele disse para o Renan que nos acompanhou.

Entramos no quarto e minha mãe estava sentada na cama, comendo algumas coisas que tinham lhe trazido, podíamos ver sua expressão de dor, mas ela parecia mais forte e pronta para enfrentar uma guerra se fosse necessário.

- Oi mãe, como se sente? – me aproximei e beijei sua testa de leve.

- Um pouco dolorida, mas vai passar – ela sorriu fracamente.

- Ah, mãe esse é o Renan meu... – enquanto falava ela me cortou.

- Seu namorado – disse ela e eu sorri fraco, meio sem jeito – Eu encontrei seu diário, mas resolvi esperar você me contar, não iria te pressionar. É um prazer conhecê-lo – disse gentilmente.

- O prazer é todo meu – ele respondeu sorrindo.

- O papai encontrou o diário, fez um escarcéu aqui no hospital e torceu pela sua morte – falei ressentida – Mas ainda bem que você está bem mãe, precisamos dar um jeito de nunca mais vermos ele, mas não temos para onde ir.

- Realmente filha, temos que ter distância dele, mas não importa para onde iremos, ele irá atrás tenho certeza – disse e seus olhos se encheram de lágrimas – Eu queria que isso tudo não passasse de um pesadelo.

- Mãe, não chore por favor. Nós vamos dar um jeito – tentei mostrar convicção em minhas palavras, mas eu nunca fui boa com mentiras. Minha mãe apenas sorriu e continuou comendo. Meu namorado estava sentado em uma poltrona com uma expressão pensativa e eu senti que estava praticamente desabrigada, não tinha como voltar pra casa, não tinha roupas e não tinha condições de sequer salvar minha mãe.

Me senti inútil e sem valor, somente um milagre poderia nos salvar. As horas avançaram rápido e já estava na hora de ir embora, Renan mais uma vez me levou para sua cara, lá era o único lugar que eu ainda podia me refugiar. Jantamos com a mãe dele que parecia bem diferente daquela mulher que ficava no computador o dia todo quando não ia trabalhar, ela estava mais viva e radiante.

Dormimos juntos novamente, mas a cada vez que fechava os olhos vinham aquelas cenas horríveis do meu pai, das surras, dos cortes, das piadinhas de mau gosto e dos calmantes do Renan, me senti sufocada e levantei rapidamente para lavar o rosto.

Fui à cozinha beber água e voltei mais tranquila, Renan dormia pacificamente, deitei ao seu lado sentindo seu cheiro me senti em casa, fiquei ali pensando no que faria para mudar toda a situação e acabei adormecendo.

A Menina do Tênis FloridoOnde histórias criam vida. Descubra agora