SETTE | L'INIZIO DI TUTTO

26 3 0
                                    

C E C Í L I A

ERA ESSA MINHA futura realidade. Presa a um acordo feito com o próprio diabo, em prol da minha segurança e de seus próprios interesses.

Numa realidade que fiz tanto esforço para fugir, seria cômico se não fosse verdade.

O quarto que me foi designado era amplo e luxuoso, simples, porém de pompa notória. Possuía uma cama king, luminárias por todo o teto, mesas de cabeceiras em ambos os lados com abajures em sua superfície, do lado direito da cama ficava a porta de vidro que dava para a ampla varanda do cômodo, com a visão da piscina principal da mansão, que agora estava coberta pelas cortinas longas e grossas que iam do teto ao chão, do lado esquerdo ficava a divisória de madeira polida que separava para as outras alas do quarto, o banheiro e o closet, todo o quarto era revestido de cores claras e sem vida, branco, cinza e ocre.

Minha mente era uma confusão de pensamentos que não conseguia controlar, tudo recaindo de uma só vez sobre mim, queria sentir raiva por tudo ter dado errado, mas a quem eu queria enganar? No fundo eu sabia que jamais conseguiria escapar desse mundo, que do meu nascimento até o fim da minha vida eu seria exatamente o que nasci para ser, uma mulher da máfia.

Quando chegamos na mansão, depois de horas rodando de carro afim de despistar meus perseguidores, Isabella foi levada para seu quarto, Bruno recebeu cuidados da governanta e Moralez me levou até meu novo quarto, dizendo que me deixaria descansar para amanhã conversarmos. Mas isso foi há quase oito horas atrás, o desânimo e a frustração tinham ocupado todo meu pensamento, me deixando longe da realidade, aérea ao mundo ao meu redor.

É surpreendente como a mente humana pode consumir alguém , engoli-la como um predador, te forçando e pressionando a pensar repetidas vezes sobre o mesmo assunto, angustiando seu coração e poluindo seu espírito. Era assim que você afundava, sendo consumida pela sua própria mente, o hospedeiro que se auto-sabotava, por nenhuma razão em específico, apenas a simples e deliciosa tortura do looping infinito de remoer um fato negativo em sua vida, e eu permitia isso, muitas e muitas vezes permiti ser consumida pelos meus pensamentos, pelas minhas angustias e frustrações, pelas más experiências que tive ao longo da minha adolescência, e precisava aprender na marra como mudar isso, aprender a dançar conforme a música toca, sem entrar em pânico ou, como no meu caso atual, em estado catatônico.

Já era noite quando enfim "acordei", tinham deixado uma bandeja com o jantar em meu quarto, mas já estava frio e desgostoso, então deixei de lado e voltei para cama.

Se bem que...

Casar-me com o inimigo seria a melhor das vinganças para Vittorio, sorri com o pensamento maligno. Mas não era isso que eu desejava, por mais que o gostinho da pirraça fosse um deleite para minha alma traumatizada, não queria que meu primeiro casamento fosse por um acordo.

Apesar do acordo ser de seis meses, longos 182 dias, seria algo apenas pelas aparências, acredito que não iríamos precisar ficar juntas o tempo inteiro, poderia ficar com Isabella durante todo o semestre e logo tudo isso acabaria.

Mas por Deus, não tinha nenhuma outra alternativa?

Não, não tinha, respondeu meu subconsciente.

Esse era o fardo que iria carregar e a consequência da minha decisão de vir pra cá, eu sabia que haveria riscos, mas jamais passou pela minha cabeça esse tipo de situação, casando para me manter viva.
De qualquer forma, não adiantaria chorar pelo leite derramado, eu aceitaria meu destino e em um semestre eu estaria voando para longe do país, o mais longe do continente se possível - e impossível! -.

»»»«««

As roupas do closet eram as únicas peças que possuía, e eu não poderia ficar mais tempo com a roupa que sai de casa, estava quase se fundindo com minha pele. Por isso, quando sai do banho peguei uma das cuecas box tirando do plástico de lacre e a vesti, em seguida fiz o mesmo com a camisa social - que ficou quase um vestido em mim - jogando todos os papéis na lixeira fora do quarto; meus cabelos agora já passavam dos ombros, quase na altura da minha cintura, cacheados e castanhos, soltos como tinha o costume de deixar em casa.

Amor Vermelho Sangue - Livro III | Trilogia Amor De BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora