PRIMO | BENVENUTO

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C E C Í L I A

A NOITE COMBINAVA perfeitamente com a cidade de Havana. O céu alaranjado, as luzes brilhantes, as casas coloridas, as músicas, a cultura forte e o ar envolvente daquela cidade simplesmente me deixavam hipnotizada.

Tudo era apaixonante naquele lugar.

Segurei com mais força a alça da minha mala de mão e respirei o ar puro de Cuba. Eu estava radiante, transbordando felicidade por onde andava, como um rastro chamativo que entregavam meus passos. Minhas bochechas doíam pelo sorriso enorme que carregava no rosto. E apesar das más lembranças que tinha daquele lugar, ele não deixava de ser belíssimo, florescia em cada esquina, bar ou hotel, cheio de música, de dança e olhares de belas mulheres. Me encantava como nenhum outro lugar que conheci, e por isso, apesar do perigo de escolher um ponto já conhecido pela minha família, esse foi o primeiro destino que pensei. Todas as outras vezes que visitei a cidade tinha tido péssimas experiências, na época em que minha família ainda era aliada da máfia local e era permitido nosso acesso ao país, mas isso foi há anos atrás, antes de... tudo acontecer, e a paz se reduzir ao pó, assim como a aliança que tínhamos pela cidade. Mas dessa vez seria diferente, eu já era uma mulher e estava irreconhecível perto da menina que era há anos atrás, ninguém iria me associar a minha família e eles nunca pisariam em solo inimigo para me encontrar.

Estava protegida.

O carro amarelo com listras pretas parou no parapeito, chamando minha atenção e me tirando dos devaneios, alguém desembarcou e eu apressei meus passos para conseguir pegá-lo.
Me inclinei para baixo até ficar na altura do motorista.

"Olá, está livre?" - perguntei para o senhor de bigode e rechonchudo sentado no banco.

"Sim, sim." - ele saiu do carro prontamente vindo até o porta malas.

"Com licença, com licença!" - chamou alguém atrás de nós. Me virei curiosa e encarei a jovem mulher que nos abordou.

De estatura baixa, a mulher era morena, magra, com cabelos médios negros e uma franja jovial. Carregava um sorriso singelo no rosto e malas nas mãos.

"Podemos dividir o carro? Por favor, estou há horas tentando pegar um, cheguei mais cedo de viagem e não consigo falar com minha irmã." - suplicou maneando as sobrancelhas.

"Claro, sem problemas." - respondi e me virei para o motorista, esperando por uma resposta.

"Quanto mais, melhor!" - disse sorrindo.

Guardamos as malas dentro do carro e entramos no banco traseiro. A mulher ao meu lado disse seu destino e eu entreguei o papel escrito o meu.

"Vou primeiro pro seu, é caminho pro dela." - disse apontando da moça ao meu lado para mim.

"A propósito, me chamo Isabella." - ela estendeu a mão pálida com dedos esguios e me direcionou um sorriso simpático.

Olhando para ela de perto, tive a leve impressão de conhece-la de algum lugar, talvez tínhamos pegado o mesmo avião, não consegui lembrar exatamente onde tinha sido, mas era uma sensação desconcertante. De qualquer forma, seria difícil me lembrar agora, estava tão animada com tudo que talvez demorasse para responder minha própria idade se me perguntassem, também não acho que teria lembrado dela se a tivesse visto em algum lugar, não era do meu feitio me interessar pelas patricinhas de Beverly Hills.

Era apenas um engano, claro!

"Cecília." - respondi e apertei sua mão estendida.

Delicadas como de uma princesa, pensei alternando o olhar de seus olhos cor caramelo para sua mão magra.

Amor Vermelho Sangue - Livro III | Trilogia Amor De BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora