CINQUE | SCONTRARSI

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C E C Í L I A

TUDO DOÍA.

Minha cabeça, meus braços e pernas, as costas e até minha garganta incomodava.

A luz clara e torturante do sol queimava minha pele e ardia meus olhos, precisei de longos minutos encarando o teto para conseguir voltar a realidade; ergui a cabeça o máximo que consegui e observei — pelo que pareceu, longos minutos — a situação da minha cama, onde eu e Isabella enroscavam as pernas ao ponto de não saber onde começávamos ou terminava.
Ela roncava ao meu lado, num sono profundo e sereno, descabelada e espalhada por cima de mim.

Com muito esforço, consegui levantar da cama sem acordá-la, fui direto para minha cômoda e procurei por uma peça de roupa qualquer, mas parei abruptamente o ato ao notar um singelo e quase insignificante barulho de madeira.

Alguém — além de mim e Isabella — estava na casa.

Involuntariamente meu corpo entrou em estado de alerta, a adrenalina já pulsando em minha veia; podia sentir sua presença tanto quanto podia sentir minha roupa grudada em meu corpo, estava logo ali, em algum outro cômodo da casa, esperando pelo bote perfeito.

Apesar da dor, eu já tinha sido treinada o suficiente para saber exatamente como me controlar naquela situação, e sabia que precisava de alguma vantagem, algo para recorrer quando meu corpo não tivesse mais forças para se defender; por isso, busquei silenciosamente o canivete guardado entre minhas roupas e escondi em mim.

"Apareça, já sei que está aí." - disse para o nada. O silêncio se prolongou e soltei um suspiro quase irritado, caminhei em passos calmos até o vão entre um cômodo e outro, ante a porta. - "Leve o tempo que precisar, não sairei até que me encare de frente, sem covardias."

Poucos segundos depois a figura enorme do homem apareceu em minha frente, com um sorriso malicioso no rosto e o peito estufado.

"Olá, Denaro." - disse com deboche.

"Buongiorno, Bruno."
*Bom dia...*

E sem muitas delongas avancei os passos esticando a perna em sua direção, ele se afastou a tempo de recuar do chute e se defender com as mãos num movimento ágil, não dei oportunidades para revide e me aproximei mais atacando-o, um golpe direto em seu queixo que o fez cambalear para trás e levar a mão ao local atingido.

Ele me subestimava, não me conhecia verdadeiramente, a busca tinha sido superficial, se não, saberia dos anos tortuosos que passei aprendendo defesa pessoal por ordem de meu pai.

"É uma caixinha de surpresa, princesa." - zombou ainda com a mão no queixo.

"Non sono una principessa e sicuramente Bruno mi ha sottovalutata molto." - um sorriso no canto dos lábios o fez urrar em raiva, avançando em minha direção.
*Não sou uma princesa, e certamente me subestimou demais, Bruno.*

Bruno se atirava avidamente em cima de mim, desferindo golpes atrás de golpes sem sequer me deixar programar meus movimentos, minhas investidas eram automáticas, impensadas, golpes cujo repeti tantas vezes que colocava em prática sem sequer ponderar a ação; trocamos de posição e agora eu me defendia e ele atacava sem deixar brechas para mim. Estava ficando sem saída, e para comprovar meus pensamentos, fui arremessada contra a parede do corredor com um chute no estômago, golpe que me fez perder o ar e o raciocínio por pequenos segundos, tudo que doía passou a doer triplamente mais, a falta de oxigênio queimava meus pulmões e o desespero acoplava uma barreira em minha garganta.

Amor Vermelho Sangue - Livro III | Trilogia Amor De BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora