DUE | CAFFÈ NERO, PER FAVORE

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C E C Í L I A

O COLCHÃO ERA desconfortável, o lençol era fino e o ventilador de teto fazia um barulho irritante enquanto girava. Aquela "nova realidade" estava começando a se tornar um desafio, não tinha ciência de quantas mordomias eu tinha estando tão acostumada com minha antiga vida.

Mas aquilo não me abalaria, não poderia, de qualquer forma. O que eu falaria? "Me perdi no caminho pro treino."? Seria uma cena ridícula se fosse realidade.

A verdade é que nada, talvez nem mesmo a morte me faria voltar para casa. A única pessoa que me faria retornar não estava mais entre nós, então aquela era uma gigante impossibilidade.

Mama morreu de uma forma trágica e traumatizante. Em meu aniversário de doze anos, durante minha festa em comemoração, num dia ensolarado e feliz. Quando ainda éramos felizes. Quando papai ainda me amava e a família ainda se encaixava. Ela era nossa âncora, nosso ponto de partida, era a água que acalmava a explosão que todo o resto era.

Ela nos fazia ficar juntos.

E no final, tudo foi culpa minha. Sua morte tinha sido minha culpa. E junto a ela, a lembrança constante desse fato, que meu pai e minha irmã não me deixavam esquecer.

A água quente esquentou meu corpo, ainda não passava das 10h00min e a brisa gélida me fazia arrepiar. Sai do banheiro, me enrolei com a toalha e corri para o quarto. As peças estendidas sobre minha cama eram: um short alfaiataria branco, um body preto decote U e um cinto preto com a fivela dourada. Vesti e prendi meus cachos num coque alto deixando algumas mechas caírem como uma franja em minha testa.

Sai de casa rumo a cafeteria. O Mamaine era um bar cafeteria muito bem falado -segundo a internet - e que me recordava ter visitado em minha última estádia na cidade, tudo me encantava no lugar, desde os cappuccinos incríveis e bem enfeitados à calmaria do ambiente. Era um estabelecimento rustico com uma entrada chamativa enfeitada por ancas altas e amareladas, antigas.  Era um espaço grande que se consistia em três divisões de estilos diferentes, uma delas era o café, onde possuía um balcão extenso de mármore polido, máquinas de café, suco, entre outros líquidos, uma grande vitrine recheada de doces e salgados; a segunda logo entre a primeiro e última divisão era apenas um corredor extenso onde consistia quadros antigos, mesas e cadeiras acopladas nas paredes de madeira pura e grossa e artefatos antigos da civilização espanhola; já a última que ficava nos fundos do estabelecimento, era o bar, ainda em estilo rústico com mesas e cadeiras de madeira grossa, estantes e mais prateleiras de bebidas tradicionais e internacionais, com a iluminação escura e decoração colorida. 

Era um mundo a parte do mundo.

"Um café preto, por favor." - pedi a atendente que veio até minha mesa.

Meu telefone tocou logo depois de ela ter ido embora.

"Alô?" - disse após atender no terceiro toque. 

"Cecí? É Isabella, lembra de mim?" 

Como poderia esquecer? Nós nos vimos ontem! pensei do outro lado da linha, mas apenas sorri com seu jeito singular e tornei a falar.

"Lembro."

"Tem plano para mais tarde?"

"Não, por quê?"

"Ótimo, o que acha de um banho de piscina? Hoje vai fazer um sol lindo."

"E-eu... Olha Isa, eu..."

"Por favor, não tenho ninguém para me fazer companhia."

Amor Vermelho Sangue - Livro III | Trilogia Amor De BandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora