Capítulo 11

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André acordou com uma mosca pousando sobre seu nariz. Ele espirrou, sobressaltado, o espirro socando suas costelas.

— ...ai.

Forçou-se a sentar, as juntas estalando, as costas e o pescoço encharcados de suor. Tateou em busca do celular, os olhos tão cheios de poeira quanto um deserto. Ao achá-lo, viu que o aparelho estava prestes a morrer, mas ainda tinha bateria o suficiente para mostrar as horas.

13:10.

Nunca acordou tão tarde. O rapaz enxergou o estado em que estava, sentado sobre uma canga manchada, rodeado de cascas de fruta e garrafas plásticas vazias. As moscas zumbiam sobre sua cabeça, entretidas com os restos de comida, evitando os poucos raios de sol que conseguiam atravessar as cortinas.

Todas as janelas da casa estavam fechadas, as paredes acumulando o calor do meio-dia. Não estava tão quente quanto o dia anterior, mas aquele ainda era o clima de uma cidade litorânea, abafado e úmido, fazendo qualquer pessoa suar em questão de segundos. André havia dormido dentro de um forno; era um milagre que não tinha morrido de insolação.

Mas, apesar do corpo dolorido, da sede e do calor... aquele havia sido o melhor sono que ele já teve em muito tempo. Se sentia mais relaxado, mais tranquilo. Sua mente funcionava outra vez. Seu cansaço de antes era quase imperceptível. Café nenhum substituía a sensação de descansar de verdade.

Nada de cenários surreais e horripilantes... nada de parasitas sussurrando em seu ouvido. Havia sido um sono rápido, sem resquícios de sonhos; o alívio que André sentia sobre isso era indescritível.

Abriu as janelas da casa, sentindo a brisa vespertina acariciar seu rosto. Usou a bateria que ainda restava para enviar uma mensagem para Letícia.

Você, 13:10

ei

ainda to vivo

Após limpar a bagunça daquela noite, André fez uma careta e cheirou a própria camisa. A náusea o atingiu em cheio. Certamente não cheirava como um homem vivo.

Nem se atreveu a checar o espelho, se meteu direto no chuveiro, prolongando a limpeza por uns bons quinze minutos. A água fria caindo sobre seu corpo era a melhor sensação do mundo. Aproveitou para lavar o cabelo, a raiz dele em estado de calamidade.

"Obrigado, shampoo da mamãe..."

Terminado seu banho, André enfim encarou o próprio reflexo. Seus olhos se encheram de surpresa.

Comparado à manhã anterior, o rapaz parecia muito mais saudável. Suas olheiras ainda estavam ali, mas elas diminuíram consideravelmente, e sua pele não exibia mais a palidez de um fantasma, agora avermelhada e descascando graças ao seu último passeio pela cidade. Ele se aproximou do espelho, perplexo, percebendo alguns fiapos patéticos de barba crescendo pelo seu queixo. Seus genes nunca foram os melhores quando se tratava de pelo facial.

Mas era inegável que sua aparência havia melhorado. Quase perguntou se um clone havia tomado seu lugar. Um clone que tinha amor próprio.

"Dormir bem faz tanta diferença assim?"

Se enfiou em uma regata azul e uma bermuda verde, deixando o cabelo molhado cair sobre os ombros. Não era normal que se sentisse tão relaxado; àquela hora do dia, o rapaz deveria estar xingando qualquer indivíduo que ousasse interagir com ele.

...sentia que havia passado uma eternidade desde a última vez que editou.

"Talvez eu tenha algum cliente novo."

Já curvado sobre sua mesa de trabalho, André checou o celular enquanto seu computador ligava, o aparelho carregando bem ao seu lado. Como sempre, uma chuva de mensagens estava à sua espera.

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