Capítulo 15

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André só parou de correr quando suas pernas não aguentavam dar mais um passo. O sedentarismo o torturava, espremendo seus pulmões e fazendo sua visão rodopiar. Acabou vomitando debaixo de um poste, o pânico e o esforço revirando seu estômago; seu vômito tinha a aparência preocupante de borra de café.

— P...Puta que pariu.

André tossiu, limpando a boca com as costas da mão. Agarrou o próprio peito, tentando acalmar o coração.

"Isso não pode tá acontecendo..."

Ele ergueu o rosto, mas sua visão não trouxe nenhum alívio.

As casas da cidade se tornavam quase irreconhecíveis na madrugada, apenas silhuetas escuras se destacando contra o céu noturno. O poste piscava sobre sua cabeça; seu brilho fazia as sombras dançarem, encolhendo e crescendo em errática animação, desenhando formas distorcidas diante de seus olhos. Não havia uma única alma viva na rua que não fosse ele mesmo.

O rapaz olhou para cima. Uma lua minguante o vigiava entre as nuvens, tão pequena e insignificante quanto uma estrela qualquer.

Ele estudou seus arredores. Não reconhecia aquela rua. Não passeou na cidade por tempo suficiente para conhecê-la de cabeça, e mesmo se tivesse, Nova Maria se tornava um lugar completamente diferente assim que anoitecia. Nenhuma placa ou número visível lhe era familiar; o rapaz se via perdido em meio a um labirinto urbano.

Tentou escutar qualquer coisa. Ouviu o zumbido das lâmpadas, o uivar do vento, o som de seu coração batendo... estariam mesmo todos os moradores da cidade dormindo naquele momento?

Se batesse em suas portas, alguém atenderia? Se gritasse por socorro, alguém o escutaria?

E se o fizessem, o que ele diria? Falaria que um parasita sobrenatural o perseguia? Iriam rir na cara dele... ou simplesmente o abandonariam para lidar com o problema por conta própria?

"O que eu faço agora?"

André olhou para os lados. Todos os caminhos possíveis pareciam igualmente escuros e perigosos. A quietude alimentava suas paranoias. Sentia-se como uma isca em um anzol, exposto e vulnerável, apenas esperando para que os peixes o abocanhassem.

"Não... não, eu me recuso!"

Ele respirou fundo. Seus pés e seu estômago ainda doíam, mas o rapaz conseguia andar novamente, e continuar andando era um plano bem melhor do que ficar parado, remoendo o que poderia ou não acontecer.

Era impossível que a cidade inteira estivesse adormecida. Mais cedo ou mais tarde ele encontraria sinal de vida. Inventaria uma desculpa para que o ajudassem: diria que um homem suspeito o estava seguindo. Não precisava ser mais detalhista do que isso.

Mas uma coisa era certa. Tinha que continuar se movendo.

"Bob vai me matar com certeza..."

Em todas as suas consultas, em todas as vezes que esteve em sua presença, ele nunca viu o médico tão furioso. A ira da criatura era tão volátil quanto uma bomba; André temia a próxima explosão.

Bob o havia perdido de vista... mas o quão longe estava ele do monstro de seus sonhos?

Estudou a rua com mais atenção. Decidiu seguir em frente, sem pegar curvas. Parecia o trajeto mais óbvio para que trombasse em alguma pessoa, ou ainda melhor, um grupo de gente. Sua mente introvertida implorava por uma multidão.

"Se eu achar alguém, posso pedir o celular emprestado..." André tentou sorrir. "Sim, isso! Eu lembro o número de Letícia, posso mandar mensagem pra ela!"

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