André passeava em uma cidade de papel.
Andava sobre uma folha de caderno, casas coloridas se erguendo de ambos os lados, seus telhados o saudando conforme caminhava. Seus contornos eram feitos de giz de cera, as cores atravessando suas bordas. Pareciam rabiscados e coloridos por uma criança. O rapaz olhou para os próprios pés. Sua pele tinha a textura de uma folha de papel, suas pernas e roupas desenhadas de um jeito inocente, infantil. Havia se tornado um esboço que ganhou vida. Um céu intensamente azul se abria diante de seus olhos, acompanhado por um sol torto e sorridente.
— ...que diabos...?
Mais esboços se juntaram a ele, rabiscos que sorriam, passeavam e conversavam entre si. Vendedores, moradores, turistas, todos se misturando em um vai e vem desordenado. Era como estar dentro de um desenho animado. Uma música romântica flutuava pelo ar, sussurrando sobre amores perdidos e recomeços.
André se sentiu tonto com tamanha comoção. Mal conseguia ouvir os próprios pensamentos. Fechou os olhos com força, mas a tontura apenas aumentou.
— Ei, rapaz!
Abriu os olhos outra vez. Um dos vendedores se aproximava dele, empurrando um carrinho de água de coco.
— Por que não se refrescar nessa manhã tão quente? — ele lhe ofereceu um coco torto, mal desenhado. — Tá no precinho, em? Praticamente de graça!
André fez uma careta.
— Valeu, mas não tô com sede-
— Ah, que isso! Vai mesmo recusar essa oferta generosa? Vamos, você não vai querer sofrer de insolação!
— Mas eu nem tenho dinheiro.
— Tem sim, tô vendo as notas saindo de seu bolso.
André olhou para as próprias calças. De fato, haviam notas verdes enfiadas nos bolsos, esperando para serem usadas. A maneira como eram desenhadas era engraçada, papeizinhos verdes com o símbolo de $ rabiscado bem no meio.
O rapaz não tinha a menor vontade de comprar água de coco, ele nem ao menos gostava daquilo... mas era provável que o vendedor não o deixasse em paz até ver o dinheiro em suas mãos.
— ...tá — André pegou três notas a contragosto. — Rola um coco aí pra mim.
— Perfeito!
Com um sorriso radiante, o vendedor lhe entregou o coco, colocando um canudinho listrado dentro dele. O rapaz ergueu uma sobrancelha, encarando o coco que acabou de comprar. O que diabos faria com aquilo agora?
— Uh, obrigado...
— Disponha! Feliz em fazer negócio com você!
— Tá, tá, tanto faz.
André começou a se afastar, tentando não trombar nos outros rabiscos que passeavam pela rua. Seus pensamentos estavam enevoados; o rapaz se sentia em modo automático.
"Eu não deveria estar aqui. Eu deveria..."
— Me ajude.
André congelou.
Olhou para todos os lados, encarando os rostos tranquilos e sorridentes. O vendedor de antes conversava com outro cliente, ambos sorrindo abertamente. Ninguém parecia ter ouvido a voz além dele.
Uma voz que ele reconheceu de imediato.
"Bob?"
— Me ajude!
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Oneirofobia
HorrorOneirofobia: o medo extremo de sonhar. Três jovens adultos, atormentados por pesadelos terríveis, se juntam para investigar e deter as estranhas entidades que assombram seus sonhos. No processo, eles aprendem que seus medos podem ser muito mais pr...