Capítulo 12

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A casa de André nunca esteve tão movimentada. Era impressionante o tanto de barulho que duas pessoas conseguiam fazer.

Se Letícia era uma bomba de energia, Vera Lúcia era um campo minado. A loira entrava em uma conversa com ainda mais intensidade, suas mãos movendo pelo ar como se não houvesse amanhã, enquanto Letícia a acompanhava sem nenhuma dificuldade. As duas eram tão sincronizadas e unidas que chegava a assustar.

Se sentindo sobrecarregado com tanta extroversão, André as deixou conversando no sofá, indo até a cozinha para esquentar seu almoço. Não tinha muita fome, mas precisava botar algo para dentro ou acabaria desmaiando.

Ao abrir as tigelas, seus olhos arregalaram. Se deparou com porções generosas de arroz, feijão, farofa de milho, batata frita, peixe frito, salada de tomate e pepino... não só teria sobras para o jantar como também teria para o almoço do dia seguinte.

"Letícia, sua doida! Está cozinhando pra cidade inteira?!"

Botou um pouquinho de tudo, ligando o micro-ondas e assistindo o prato girar por alguns segundos. Segurou um leve bocejo, o coração acelerando. Qualquer sinal de sono mexia com sua ansiedade.

— André?

Ele levantou a cabeça, notando Letícia na entrada da cozinha. Acenou para ela sem dizer nada.

— Desculpa vir aqui de repente, é que eu não pude deixar de notar que sua porta é bem grande... tipo, a área entre o chão e a porta é bem larga — A moça se apoiou sobre o balcão de mármore, um olhar de preocupação. — Posso perguntar como você protegeu sua porta noite passada?

André franziu o rosto.

— Uh... com aquilo.

Ele apontou para um canto da cozinha, o protetor de porta apoiado entre as paredes, praticamente uma parte da decoração.

Os olhos de Letícia cintilaram.

— Um protetor de porta! Perfeito! — Ela andou até o objeto, o estudando com afinco. — Eu costumava improvisar com um pano de chão, mas um protetor desses é bem mais prático! — A moça o encarou de novo. — E sua fechadura? Ela parece bem antiga, então apenas botar a chave não a bloquearia por completo...

— ...eu enfiei um pano de prato, isso serve?

— Ah sim, com toda certeza! Contanto que você enfie direitinho, não pode deixar o negócio sair no meio da noite.

Ótimo, agora ele estava ainda mais paranoico.

— T-Tá bom...

Letícia notou sua reação, deixando o protetor de lado e sacudindo a cabeça, uma expressão de simpatia.

— Se preocupa não, você tá se saindo muito bem! Você sobreviveu sua primeira noite sem problema algum, só precisamos sobreviver mais alguns dias e então tudo estará resolvido!

André engoliu em seco. O micro-ondas apitou, mas sua fome havia sido substituída por uma sensação gelada no estômago.

— Você não disse que seu plano dependia de Bob visitar no horário que ele marcou? Como você vai saber se ele visitou se eu não tive pesadelos?

A animação de Letícia se esvaiu, deixando apenas uma máscara dormente para trás. Ela abraçou a si mesma, fitando o chão.

— É fácil, é só olhar as pessoas ao seu redor...

— Como assim? — O rapaz ficou rígido.

— Eu dei uma espiada nos seus vizinhos antes de vir aqui. Eles pareciam exaustos... mais do que o normal. — Ela enfim o encarou. — Como ele não conseguiu te visitar, logicamente ele teria que visitar outras pessoas. Pelo que eu estudei até agora, essa rua parece o lugar favorito dele. Ele visitou no horário certo, apenas não te visitou em específico.

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