Capítulo 1

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Por mais que André quisesse, os gritos não escapavam de sua garganta.

O rapaz estava amarrado a uma maca hospitalar, uma mordaça apertando ao redor de sua boca e seu nariz, dificultando sua respiração e impedindo que nada além de engasgos desesperados saíssem de seus lábios. Sua visão estava turva de lágrimas, mergulhando a sala onde se encontrava em uma neblina espessa, quase indecifrável; uma lâmpada amarelada balançava de um lado para o outro, pendurada no teto, seu brilho ardendo mais do que a própria luz do sol.

Um vulto alto se aproximou dele, bloqueando a luz da lâmpada com seu corpo. Não houve folga...os olhos dourados de seu sequestrador brilhavam ainda mais intensamente.

— Shhhh...respire fundo, meu paciente. — Veio um sorriso horroroso, uma tentativa terrível de parecer gentil. — Você está indo muito bem! A pior parte começa agora.

André soltou um choramingo, seu corpo tremendo da cabeça aos pés, as lágrimas descendo até o pescoço. Ele sentiu uma mão enluvada empurrando sua franja para longe, encaixando as mechas atrás de sua orelha.

— Inspire e expire...vai ser só uma picadinha! Você não tem nada a temer.

A outra mão do vulto revelou uma seringa, tão longa quanto um dedo indicador. André arregalou os olhos, se debatendo ainda mais intensamente do que um instante atrás, soltando um gemido longo e angustiado; as amarras cortavam sua pele, manchas roxas se espalhando acima de seus pulsos.

— Vamos, não faça tanto drama! Irá terminar antes que perceba...

A seringa tocou seu ombro exposto, tão delicada e sutil...e então perfurou sua carne, se aprofundando dentro do braço. A ardência se espalhou pelo membro, indescritível, intolerável.

O uivo entalado em sua garganta saiu apenas como um choramingo abafado, e André se sacudiu de maneira caótica, o cabelo caindo novamente sobre os olhos, protegendo sua visão daquele vulto tão horrendo.

Mas não por muito tempo.

Ele sentiu uma mão agarrando seu couro cabeludo, puxando tão violentamente que o rapaz achou que sua cabeça partiria ao meio.

— PARE DE SER UM BEBÊ CHORÃO! — A voz ecoou próxima ao seu ouvido, arranhando sua mente feito garras. André se retraiu, um calafrio percorrendo a espinha. — Você pretende nunca tomar vacina na vida?!

Veio um som oco, sinal de que a seringa havia atingido osso.

A dor vinha em ondas, crescendo em tamanho e intensidade conforme se espalhava pelo resto de seu corpo. Mais lágrimas desceram, formando pequenos riachos por suas bochechas e seu pescoço.

Então, depois de uma pequena eternidade... a seringa saiu com um puxão, gotículas vermelhas se espalhando pelo ar. Tudo o que deixou para trás foi um buraco do tamanho de um botão, o sangue escorrendo em linhas grossas e pegajosas.

— ...viu só? — O vulto lhe ofereceu um sorriso afiado, satisfeito. — Não foi tão ruim, foi?

André tremia, a pele gelada, o ombro enrijecido. Seus olhos ardiam incessantemente, as lágrimas se misturando ao sangue derramado.

— Você foi tão corajoso, isso me enche de orgulho! Aqui, uma guloseima por ser tão comportado.

Sua mordaça foi retirada, e o vulto enfiou algo em sua boca, o sabor adocicado apenas aumentando seu enjoo.

Um pirulito de morango.

André segurou a vontade de vomitar.

A cabeça pendendo para o lado, o rapaz assistiu ao vulto se afastar, caminhando até uma mesa repleta de ferramentas médicas. O líquido vermelho ainda pingava da seringa, manchando suas luvas e seu jaleco.

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