Capítulo 14

128 9 435
                                    

André não era uma pessoa racional.

Quando algum problema surgia, o rapaz sempre decidia pela solução mais segura e previsível... ou ao menos a que mais parecia segura e previsível para ele. A ansiedade certamente não era amiga da inteligência.

Assim sendo, encarando o ser distorcido que estava bem diante dele, tudo que André conseguiu fazer foi gritar, correndo até o banheiro e batendo a porta atrás de si, o barulho reverberando por toda a casa; ele arrancou a toalha do boxe, a enfiando por debaixo da porta, forçando a tranca até que não pudesse mover mais um centímetro. Ali não tinha uma fechadura gigante, felizmente.

O rapaz tremia tanto que mal conseguia se manter em pé. Ele se apoiou sobre o vaso, a visão oscilando, o mármore lançando calafrios pela sua pele. Seu coração batia contra o céu da boca, o convidando a botar para fora toda a comida que havia devorado naquele dia.

Duas batidas vieram da porta, fazendo ele gritar outra vez.

— André... — A voz conhecida ecoava do outro lado. — Abra essa porta.

André cobriu a boca com tanta força que se sentiu sufocando. Ele caiu sobre a tampa do vaso, o medo o esmagando por inteiro, qualquer traço de lógica sumindo de sua mente.

Mais batidas vieram.

— Amigo... — A criatura soltou uma risada fraca. — Estava tão apertado assim? Vamos, abra essa porta...

André não respondeu, como poderia? Não tinha coragem nem de existir. As paredes se fechavam ao redor dele, e o rapaz se encolheu o máximo possível; tudo parecia barulhento, gigantesco demais.

Suas mãos tatearam pelo tecido de suas calças, buscando uma solução. Não conseguiu achá-la: havia deixado seu celular na sala. Não tinha nenhum meio de implorar por ajuda.

Estava encurralado de verdade.

— André?

O rapaz cobriu os ouvidos, não ousando respirar. Fechou os olhos, as lágrimas escorrendo, torcendo para que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo... um pesadelo comum, onde ele acordaria e tudo voltaria a ser o que era antes; tranquilo, normal e racional.

Mas suas preces não funcionaram. Ele ainda estava ali.

— Meu amigo...

As batidas ficaram mais fortes.

— Já passou muito da sua hora de dormir.

André segurou um choramingo, sentindo um desmaio se aproximando, mas não podia desmaiar, aquela era a pior hora possível.

Encolhido na escuridão, apenas uma porta o separando da assombração de seus pesadelos, o rapaz pensou na própria vida.

Diziam que, quando alguém estava prestes a morrer, suas memórias mais importantes voavam diante de seus olhos, quase como um filme autobiográfico.

A vida de André não era algo memorável.

Nasceu, cresceu, estudou, respirou. Apenas o básico do que a sociedade esperava dele. Não havia muito a ser lembrado. Sua infância era embaçada. Sua adolescência era esquecível.

Sua fase adulta parecia incompleta.

Pensou na irmã mais velha, no quanto ela sempre parecia tão serena, tão plena de sua própria existência. Ela tinha um emprego estável, uma namorada perfeita, uma confiança inimaginável. Sabia o que queria e quando queria, sabia quem era e sentia total orgulho disso.

André não queria admitir, mas tinha bastante inveja dela. Giovanna era a pessoa que fariam filmes de sucesso sobre. Ela era a protagonista que muitos almejavam ser. Ele era um personagem secundário em sua própria vida.

OneirofobiaOnde histórias criam vida. Descubra agora