Capítulo 17

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Meia hora depois, os três saíram de casa para buscar as coisas de André. O rapaz havia chegado ali apenas com a roupa do próprio corpo. Chegou até descalço, de forma que Letícia lhe emprestou um par de chinelos e uma camiseta unissex. A camiseta chegava até seus joelhos, mas ao menos ajudava a esconder o fato que usava uma calça de pijama de mais de três anos.

Andando pela cidade agora ensolarada, André se sentiu caminhando em outro mundo. Todas as ruas por onde fugiu na noite passada, antes tomadas por sombras e um silêncio terrível, estavam borbulhando com pessoas sorridentes e melodias aconchegantes. Trabalhadores abrindo suas lojas, donas de casa fazendo compras para a próxima semana, crianças correndo pela calçada enquanto seus pais tentavam acompanhá-los; Nova Maria havia retornado com sua alegria de sempre.

Como uma cidade podia mudar tanto da noite pro dia?

André pensou na rua onde Bob foi esfaqueado e abandonado, no fato que seu corpo não foi encontrado quando a manhã chegou.

...para onde as sombras iam quando o sol surgia? Em que canto elas se escondiam até a noite voltar? Por que essas sombras existiam em primeiro lugar?

Cada nova descoberta que o rapaz aprendia produzia ainda mais perguntas do que antes, e ele não sabia se encontraria respostas para todas elas.

Ao chegarem na casa de André, se depararam com outro problema: estava trancada por dentro, já que o rapaz havia usado a janela para sair. Por sorte a janela ainda estava aberta, e Vera Lúcia se ofereceu para pular lá dentro. Apesar dos olhares duros de alguns transeuntes, ninguém levantou um dedo para impedi-la.

André soltou uma risada nervosa.

— Você já fez isso antes, não é?

Vera Lúcia destrancou a porta, os saudando com um sorriso. Seu olhar dizia tudo que precisava saber. Em silêncio, os três caminharam para dentro.

A casa estava na mesma bagunça caótica da noite anterior, a luz matinal lhe dando um aspecto mais sereno, mais convidativo. Não havia nada sobrenatural ali, apenas as consequências de uma briga entre dois seres emocionados.

Em meio aos objetos espalhados pelo chão da cozinha, André encontrou seu celular. Estava com a tela trincada, sujo de poeira, mas ainda funcional. Devia ter caído durante a confusão. Um pequeno alívio, ao menos.

Conforme checava as notificações de suas redes sociais, o rapaz andou até seu quarto... se deparando com uma surpresa nada agradável.

O boné de Bob ainda estava sobre sua cama, esperando por ele.

André sentiu vontade de queimá-lo até virar cinzas. Aquele objeto era asqueroso apenas por existir.

Letícia entrou no quarto também. Seus olhos arregalaram.

— Isso é...

André agarrou o boné, o entregando à moça. Seus dedos tremiam.

— Fica com ele. Deve ajudar na sua pesquisa — ele andou até o armário. — Vou arrumar minha bolsa e trocar de roupa rapidinho. Me espera na sala.

— ...tá bom.

Assim que a moça se foi, André soltou um suspiro ansioso, apertando as mãos. Suas unhas afundaram na carne. Sua cabeça latejava.

"Eu tô bem, eu tô seguro, eu tô bem..."


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