Alan Jones:
Anastacia finalmente se sentou no lugar onde Michael estava poucos segundos antes. Seus olhos viajaram lentamente de mim para os meus filhos, carregando uma mistura de ternura e preocupação. Ela parecia querer absorver cada detalhe daquela cena, como se tentasse compreender o que passava em nossas mentes. Havia uma suavidade em seu olhar, mas também uma sombra de incerteza. O modo como seus dedos se entrelaçavam sobre o colo revelava um nervosismo contido. O silêncio entre nós era denso, carregado por tudo o que não precisávamos dizer, mas que estava ali, vibrando na atmosfera.
Enquanto ela olhava para os meninos, seu rosto suavizava, quase como se encontrasse uma espécie de paz ao vê-las. Mas logo depois, seus olhos voltaram para mim, buscando algum tipo de resposta, de entendimento. Era um momento que parecia pequeno, mas estava carregado de sentimentos não ditos, como se estivéssemos prestes a atravessar uma barreira invisível entre o que éramos e o que poderíamos nos tornar dali em diante.
Anastacia nos observou em silêncio por um instante, permitindo que o peso de suas palavras se espalhasse pelo ar como uma brisa densa e inevitável. Seu olhar, firme e acolhedor ao mesmo tempo, nos impedia de escapar da verdade que ela acabara de expor. Eu sentia Calvin se mexer ao meu lado, incômodo e nervoso, como se estivesse dividido entre o desejo de se abrir e o medo de expor as próprias vulnerabilidades.
— Eu sei que não é fácil, Percy — ela retomou, agora com uma suavidade quase maternal na voz. — Confiar em pessoas que você ainda está aprendendo a conhecer, baixar suas defesas e deixar alguém entrar... mas o Alan e o Calvin só querem o que qualquer família deseja: estarem juntos, cuidarem uns dos outros, criarem memórias. E você, por mais que tente se proteger, também quer isso, não é? Sei que, no fundo, o que te assusta não é a ideia de fazer parte dessa família, mas a possibilidade de se decepcionar de novo.
Minhas palavras ficaram presas na garganta. Como ela conseguia ver tudo isso com tanta clareza? Ela realmente me entendia, talvez porque, em algum lugar dentro dela, também conhecesse o peso de se sentir deslocado entre laços de sangue e afeto. Percy apertou minha mão discretamente, e Calvin fez o mesmo com ele, como se tentássemos nos apoiar mutuamente. Os dedos de ambos estavam trêmulos, mas o gesto era genuíno.
— Não é fácil para nenhum de nós — admiti, lutando para encontrar as palavras certas. — Mas saiba que já te considero meu filho, e quero estar presente na sua vida, conhecer cada detalhe, poder conversar com você todos os dias. — Meus olhos se voltaram para Percy, que me encarava com um brilho de esperança nos olhos.
— Eu estou ansioso para ter mais um irmão — disse Calvin, com um sorriso tímido. — Quero que meus filhos conheçam o tio e que você faça parte da nossa vida, dos seus sobrinhos... de tudo.
Percy respirou fundo, sua voz quase um sussurro quando finalmente falou:
— Eu sinto que estou sempre andando em um campo minado, com medo de dar um passo em falso e perder tudo. Sei que vocês estão se esforçando para me incluir, mas às vezes me pergunto se não sou apenas uma peça solta nesse quebra-cabeça.
Anastacia balançou a cabeça devagar, com uma expressão que misturava paciência e determinação.
— Você não é uma peça solta. Eles precisam de você tanto quanto você precisa deles. Todos vocês têm os mesmos medos, e é por isso que acabam criando barreiras onde deveriam construir pontes. Vocês têm que se permitir errar, se machucar, mas também se curar e crescer juntos. Família não é sobre perfeição; é sobre tentar, tropeçar, e ainda assim, continuar de mãos dadas.
Essas palavras ecoaram dentro de mim, quebrando algumas das barreiras que eu mal percebia ter levantado. Eu sabia que ela estava certa. O olhar de Calvin, carregado de expectativa e compreensão, só reforçava o que já estava claro. Nós éramos três pessoas imperfeitas, buscando um jeito de nos encaixar. Talvez fosse isso que precisávamos: admitir nossas fraquezas e aceitar o apoio uns dos outros.
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Renascimento do Amor (Mpreg) | livro Um - recordando o Amor
RomanceAlan Jones se fechou para o amor após a trágica morte de sua esposa, apesar de ter prometido a si mesmo nunca se afastar desse sentimento. A dor da perda o fez construir muros em torno de seu coração, isolando-se emocionalmente do mundo à sua volta...