Capítulo Cinco

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Michael Gutierrez:

Enquanto cuidava das crianças que estavam gripadas, meus pensamentos se fixavam em Fernando, um dos meninos que chegou até mim depois que seus pais foram brutalmente assassinados por causa de uma herança. Entre todos eles, Fernando é o que mais sofre, sua saúde frágil reflete a dor invisível que ele carrega por dentro.

Ao olhar para ele, sinto uma conexão profunda, como se enxergasse uma versão mais jovem de mim mesmo. A situação dele me traz à tona memórias difíceis, especialmente essa questão da herança, onde pessoas cruéis e gananciosas parecem acreditar que podem escapar impunes de seus atos, indiferentes às consequências.

Eu sei como foi isso tudo, e essa injustiça me marcou profundamente. Agora, estou decidido a lutar por Fernando, a buscar um advogado que possa garantir a justiça que ele merece e, de alguma forma, dar a ele a chance de um futuro melhor. Eu me recuso a permitir que a história se repita sem uma reação, sem alguém para se levantar contra essa maldade. Fernando não está sozinho, e eu vou fazer o que estiver ao meu alcance para protegê-lo, assim como gostaria que tivessem feito por mim.

A tarde estava tranquila no orfanato, o som suave do vento se misturando aos murmúrios das crianças gripadas que eu cuidava com carinho. Entre elas, Fernando, o garoto que chegou depois de perder os pais de forma trágica por causa de uma herança maldita, parecia o mais frágil. Meu coração apertava ao vê-lo assim, tão vulnerável. Havia algo em Fernando que refletia uma parte de mim mesmo, especialmente com tudo o que ele passou. Eu sabia muito bem como a crueldade humana poderia destruir vidas, e estava determinado a protegê-lo.

De repente, fui tirado dos meus pensamentos pela voz gentil da diretora do orfanato, chamando meu nome baixinho.

— Michael! — disse ela, com um tom que misturava urgência e cuidado. Quando me virei para ela, percebi um brilho curioso em seus olhos. — Você tem uma visita. Ele está muito ansioso para falar com você!

Ela fez um leve gesto com a cabeça em direção à porta, e minha curiosidade logo tomou conta de mim. Caminhei para fora, e minha surpresa foi imensa ao ver Alan ali, parado com aquele sorriso brincalhão que eu conhecia tão bem.

— Oi, Michael — ele disse, e seu sorriso se alargou ao me ver. — Surpreso em me receber no seu trabalho?

— E como! — respondi, rindo, sentindo meu peito aquecer. — Mas é uma surpresa boa ter um pouco mais de você para mim.

O sorriso de Alan se ampliou, revelando aquele charme natural que sempre mexeu comigo.

— Podemos conversar sobre aquele assunto de manhã? — sugeri, enquanto olhava rapidamente para Isaac, que discretamente se afastava para ajudar a diretora com as crianças.

Decidi levar Alan até o parquinho do orfanato, onde nos sentamos nos balanços lado a lado. O ambiente era simples, mas acolhedor, e o vento fazia as folhas dançarem ao nosso redor. Enquanto nos balançávamos levemente, observei o rosto de Alan, sempre tão marcante. Suas sobrancelhas grossas em forma de espada, os olhos brilhantes e espirituosos, e o rosto esculpido como uma obra de arte faziam dele alguém que se destacava em qualquer multidão.

— Está chateado por causa do presente que te dei? — ele perguntou, quebrando o silêncio com uma voz cheia de doçura. — Era para ser algo romântico.

Soltei uma risada leve, ainda meio incrédulo com o que tinha acontecido.

— Foi uma surpresa e tanto! Confesso que fiquei em choque.

Alan me olhou com uma expressão curiosa, mas logo sua voz baixa e magnética voltou a preencher o ar.

— Admito que pensei que isso te faria sentir especial, que veria o quanto te valorizo. Mas o objetivo de um relacionamento, para mim, é construir uma vida juntos, formar uma família, casar, ter filhos... viver uma vida 'normal', sabe? — Ele disse com sinceridade.

Renascimento do Amor (Mpreg) | livro Um - recordando o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora