Capitulo Vinte e Oito

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Michael Gutierrez:

Quando olhei ao redor, ainda pude ver a incredulidade estampada nos rostos de todos. O ambiente estava tenso e carregado, como se ninguém soubesse ao certo como reagir. Foi então que a porta da frente se abriu e, como uma tempestade, meu tio Milton entrou em casa. Antes que eu pudesse sequer processar sua presença, ele me envolveu em um abraço de urso, me levantando do chão com tanta facilidade que me fez girar no ar. O riso dele era quente e expansivo, preenchendo o ambiente, e por um breve momento, esqueci da atmosfera pesada que nos cercava.

— Como é bom te ver pessoalmente! — exclamou, a voz grave reverberando pelo cômodo. Ele continuou me balançando, e eu começava a sentir uma leve náusea, mas o calor daquele abraço parecia dissolver qualquer desconforto.

— A Lisa me contou tudo sobre você — disse ele, com um sorriso largo que quase partia seu rosto em dois. Só então ele percebeu que estava me deixando tonto e, com um riso mais contido, me colocou gentilmente de volta ao chão.

Milton era bem diferente da foto antiga que Lisa havia me mostrado. Ele estava mais robusto, os músculos claramente definidos sob o velho casaco de couro que ele usava, um item desgastado pelo tempo, mas que parecia ser uma parte inseparável de sua personalidade. Seu rosto, marcado por linhas de expressão e uma barba rala, transparecia uma mistura de vivência e vigor.

Ele soltou uma risada alta, aquele som genuíno e despreocupado que reverberou pelas paredes da sala, finalmente quebrando a tensão que pairava no ar. Um por um, os rostos ao nosso redor se abriram em sorrisos tímidos, como se aquele momento fosse a fagulha que todos precisavam. O abraço de Milton, cheio de vida e afeto, foi um lembrete de que, apesar de todas as dificuldades, ainda havia espaço para alegria e conexão. E naquele instante, eu soube que não estava mais sozinho.

Allan se inclinou discretamente para o meu lado, sempre cuidadoso em suas ações, enquanto observava a movimentação ao redor. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Milton, com toda sua energia explosiva, avançou para abraçar meu noivo. O gesto foi tão cheio de entusiasmo e força que a cadeira de rodas de Allan quase se deslocou. Por um segundo, meu coração disparou ao imaginar que ambos poderiam cair com aquele abraço exagerado.

Mas Allan, com sua calma característica, riu baixinho, contagiado pela alegria quase desajeitada de Milton. O abraço foi apertado, envolvente, quase esmagador, mas repleto de uma ternura inesperada. Milton, sem perceber o quão forte era, soltou uma gargalhada contagiante, enquanto a cadeira de Allan balançava perigosamente.

— Quase derrubei vocês dois! — exclamou Milton, rindo de si mesmo enquanto se afastava um pouco, ainda mantendo as mãos nos ombros de Allan, como se quisesse garantir que ele estivesse bem. Aquele momento, mesmo caótico, estava carregado de uma afeição genuína que fez com que o sorriso nos rostos ao redor se tornasse ainda mais sincero.

Minha tia Lisa, com seu jeito firme, deu um leve tapa na nuca do irmão, balançando a cabeça em desaprovação.

— Para de fazer essas coisas escandalosas! — ela repreendeu, os olhos cintilando com uma mistura de exasperação e carinho. — Trate nosso sobrinho como um homem adulto, não como uma criança que você pode sair jogando no ar.

Eu não pude deixar de rir diante da cena e rapidamente intervim, tentando acalmar a situação.

— Tia Lisa, está tudo bem — falei, tentando esconder o sorriso que surgia no meu rosto. Ela, por sua vez, lançou-me um olhar protetor, mas não pôde evitar retribuir o sorriso.

— Você não precisa sair defendendo esse homem desastrado — disse Lisa, com um tom carinhoso e divertido, enquanto cruzava os braços, fingindo seriedade. — Ele nem sabe medir a própria força! Mas, no fundo, todos nós sabíamos que aquele jeito atrapalhado e exagerado de Milton era a maneira dele de expressar todo o amor que carregava.

Renascimento do Amor (Mpreg) | livro Um - recordando o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora