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Cabelinho

Sento (lá ele) na calçada e acendo um baseado, observando as tiazinhas voltando do trabalho e as crianças da escola.

Lorenzo: Qual foi, tio, vai jogar com a gente? - pergunta.

Eu: Mais tarde, parceirin, vai pra casa tirar essa farda e ranga - falo, e ele ri saindo correndo.

Estou no Jacarezinho, essa comunidade vai ser minha quando eu me formar, papo reto mesmo. Meu pai sempre diz que é importante e que bandido burro não dura muito nessa vida. Estou até pensando em mudar de curso, um que envolva minha área, penso em fazer farmácia, mais fácil e vai ajudar muito.

Observo a mina dos meus sonhos subir o morro segurando uma sacola de pão na mão. Observo ela há um ano, mas é muito novinha pra mim, tem 15 anos. Ela mora com a mãe, que é marmita aqui do morro. Sei que a mina morre de vergonha disso. Ela é mais na dela, só vive na igreja. Essa mina não é para mim, não quero estragar a inocência dela.

Eu: Luana - chamo e a mesma me olha sem graça - qual foi, passa e nem olha, perdeu a humildade foi? - pergunto e ela ri sem graça.

Luana: oi Victor - fala baixinho se aproximando - você sabe que minha mãe não gosta que eu fale com os envolvidos - fala e eu dou risada.

Eu: hipócrita pra caramba ela né? - pergunto rindo e ela me olha feio - foi mal, um abraço pelo menos? - pergunto chegando perto dela.

Abraço ela, apertando a cintura da mesma e cheiro seu pescoço, cheirosa pra caramba.

Luana: ah, e feliz aniversário, te desejo tudo de bom nessa vida - fala e eu dou um sorriso para ela - vou indo cabelinho, bom te ver - fala se afastando e olha para trás - você viu que a lua tá linda hoje? - pergunta alto.

Eu: E AS ESTRELAS TAMBÉM - grito e observo ela se afastar com um sorriso no rosto.

Porra mano, ela é minha, foda-se o bagulho de estragar a inocência dela, se eu não estragar outro vai, e não vou aguentar ver ela passar com outro homem na minha frente, papo reto.

Meu celular toca e eu atendo, percebendo que é o Coringa.

[Coringuinha]

Eu: fala meu mano.

Coringa: oh cabelo, preciso de uma ajuda sua.

Eu: qual foi da vez? Decidiu que vai querer ajuda para sair daqui? - pergunto dando um trago.

Coringa: não, ainda não está na hora, tô cismado que estão tramando contra mim lá no morro, mas vou dar meu jeito. Quero sua ajuda para investigar a vida de uma mina que mora em Copacabana, Maria Clara o nome dela, vou te mandar onde ela mora para ficar mais fácil.

Eu: certo irmão, vou fazer essa parada aí para você.

Coringa: valeu mano, preciso desligar agora.

[Coringuinha Off]

Coringa é como se fosse um irmão para mim, o pai dele era muito amigo do meu pai, mas ele foi morto em uma confusão que até agora não desvendamos quem foi. Na época eu tinha 10 anos e ele 15, meu pai o pegou para criar e cuidou dele até os vinte anos, quando ele assumiu o morro dos prazeres.

Agora ele está preso, mas no mesmo dia meu pai falou que iria tirá-lo de lá, mas ele negou, falou que precisava de um tempo fora do morro para entender como funciona sem ele.

Pego minha moto e vou embora para a Penha, já resolvi o que tinha que resolver aqui no Jacarezinho. Estava só esperando a mandada passar para vê-la, quando Luana completar 18 anos eu a assumo como minha, para todo mundo e para ela.

Recomeço - Filipe RetOnde histórias criam vida. Descubra agora