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História de vida do ret

Ret

Entrei na vida do crime aos 15 anos, comecei como "aviãozinho". Era novo e estava cansado de ver minha mãe passar fome para nos alimentar. Éramos quatro: eu, minha mãe e minhas duas irmãs mais novas. Minha mãe trabalhava dia e noite, mas nunca deixou eu e minhas irmãs passarmos fome.

Falei para minha mãe que estava trabalhando em uma borracharia, mas quando completei 17 anos, contei a ela que tinha virado traficante. Foi o pior dia da minha vida; ver o olhar de decepção dela foi horrível, doeu mais do que a surra que ela me deu na praça.

Mas com o tempo ela foi se acostumando, viu que era nossa única opção. Os trabalhos honestos que eu conseguia não davam para sustentar a casa. A única coisa que minha mãe pediu foi que eu não largasse os estudos. Me formei e fiz faculdade para orgulhar minha mãe.

O pai é formado em administração.

Aos poucos fui crescendo, conheci o antigo dono da penha, ele não tinha filhos e queria um herdeiro, foi aí que eu entrei em sua vida. Ele me tratava como um filho, e quando ele morreu, deixou seu comando para mim. No entanto, eu queria muito mais. No silêncio, cresci na facção, conquistando mais áreas e construindo meu império.

Atualmente, sou o líder da facção. Não estou foragido e nunca fui preso. Não sou tolo para me expor, tenho pessoas para ir em meu lugar a vários lugares. Quando chego em algum local, estou sempre acompanhado por seguranças fortemente armados. Já fui procurado, mas eu resolvi a situação. Sou uma pessoa muito influente aqui no Brasil. Nada ilegal entra ou sai sem a minha permissão.

Aproveito muito o luxo que o crime me proporciona, gosto de viajar e conhecer lugares novos.

Eu gosto muito de aproveitar a vida de luxo que o crime me proporciona, gosto de viajar e conhecer lugares novos.

Enviei minha mãe e minhas irmãs para os Estados Unidos. Minhas irmãs já estão formadas, uma é advogada e a outra é juíza, são meu orgulho. Não queria que meus filhos tivessem esse tipo de vida. Eu estava com 17 anos quando a mãe do Victor engravidou. Ela era minha namorada na época e ficamos desesperados com a notícia. Letícia foi expulsa de casa, naquela época eu tinha acabado de me tornar um soldado do morro, Meu salário dava para sustentar a casa tranquilamente, mas agora iria chegar um bebê, que gasta muito, mas eu assumi a responsabilidade e disse que eu daria conta. Minha vida virou uma loucura; estudava de manhã e trabalhava à tarde e à noite. Para piorar, descobrimos que a Letícia não podia engravidar e que o feto provavelmente não se desenvolveria.

Costumo dizer que meu filho foi um milagre, mas infelizmente a mãe dele faleceu na sala de parto.

Ser pai solteiro não foi fácil; eu levava meu filho para a escola comigo e, à tarde, quando chegava, o deixava com minha irmã. Minha vida era essa correria, até que consegui um cargo melhor e tirei minha mãe do emprego. A partir disso, ela passou a cuidar do Victor.

Então, a história de como conheci o Baco: quando o adotei, ele tinha cerca de 14 anos e eu já era o dono do morro. Ele era um garoto de rua que roubava para sobreviver. Naquele dia, ele tinha roubado comida da mercearia e o dono me chamou para resolver a situação. Quando cheguei lá, vi nos olhos de Baco o quanto ele sofria. Decidi, então, levá-lo para casa e criá-lo. Na verdade, senti um amor de pai imediato assim que o vi.

Assim como minha mãe, não abri mão dos estudos deles, Baco é formado em administração e fez cursos. Eu queria mandá-lo para os Estados Unidos, mas ele não quis, bateu no peito e falou que o lugar dele é na Penha.

O cabelinho, por sua vez, está cursando engenharia civil. Victor está tentando me enrolar para não ir mais para a faculdade, mas ele não tem escolha.

Meus filhos têm que ter estudo e diploma.

Hoje em dia vejo que não errei na criação dos meus filhos, pois hoje em dia eles são respeitosos e muito bem educados.

Já sou até avô, acreditam? Nem idade para isso tenho, mas amo demais os meus netinhos, estou mimando mesmo. Não ligo para a nora desmiolada que tenho, ela é toda certinha com as crianças, mas quando eu chego, as regras vão por água abaixo.

Recentemente, minha ex-mulher aprontou todas aqui no morro só porque mandei ela vazar da minha casa. Aquela casa tem um valor emocional para mim; foi o lugar onde nasci e cresci. Não sei o que deu na minha cabeça para colocar aquela mulher lá.

A Samara estava me desafiando demais, então eu disse que se ela não saísse de lá em um mês, a arrancaria da comunidade pelos cabelos.

Como eu não moro no morro, deixei essa história de lado e continuei vivendo minha vida, até que percebi que minha casa havia sido alugada. Fiquei muito puto, queria ir lá na hora, mas me controlei e liguei para a mais fofoqueira da comunidade, vulgo minha nora.

Depois que ela me explicou a situação, peguei o avião e parti para o Rio. Eu estava em São Paulo a trabalho, mas não queria deixar uma pessoa desconhecida na minha casa.

Assim que cheguei, a Karol já foi logo me dando meus netos para cuidar. Eu sabia que tinha algo errado, mas não liguei muito e fiquei mimando meus netinhos.

Infelizmente, tive que viajar para o México, adiando minha visita à nova moradora da minha casa.

Era para ter postado ontem esse, mas fiquei sem internet.

Recomeço - Filipe RetOnde histórias criam vida. Descubra agora