Verdades

24 0 18
                                    

      No apartamento, Jão estava enrolado em uma manta, sentado em uma das cadeiras de praia, tremendo de frio e tossindo ocasionalmente. Pedro estava na cozinha, fervendo água para fazer um chá, preocupado com o estado de Jão. A chuva lá fora ainda caía, criando um som suave e constante que preenchia o silêncio tenso entre eles.

      Pedro trouxe uma caneca de chá quente e a entregou a Jão. — Beba isso. Vai te ajudar a se aquecer. — Ele disse suavemente, sentando-se na outra cadeira de praia ao lado de Jão.

     Jão aceitou a caneca, suas mãos ainda trêmulas. Ele tomou um gole, sentindo o calor se espalhar pelo corpo, mas sua mente estava longe de se sentir confortável. O silêncio entre eles era pesado, cheio de coisas não ditas.

      Pedro respirou fundo, sabendo que precisava falar. — Jão, eu... preciso te contar algo. — Ele começou, sua voz tremendo um pouco. — Naquela noite, no velório do seu pai, eu e Ariela... nós nos beijamos. Eu estava confuso e machucado, e ela estava lá. Não foi certo, e eu me sinto horrível por isso.

      Jão olhou para Pedro, seus olhos cheios de dor, mas também de compreensão. Ele tentou sentir raiva, mas sabia que não podia, pois ele também tinha um segredo.

     — Pedro, eu entendo. — Jão começou, a voz baixa e carregada de emoção. — Eu também fiz algo que não deveria. Naquela mesma noite, depois do enterro, Leo e eu... nós nos envolvemos. Estávamos ambos sofrendo e nos encontramos naquela dor.

      Pedro olhou para Jão, surpreso e ao mesmo tempo aliviado por não estar sozinho em sua culpa. — Amor... eu sinto muito. Não queria que nada disso acontecesse. — Ele disse, segurando a mão de Jão.

      — Eu também não queria, Pedro. Mas aconteceu. E agora precisamos decidir o que vamos fazer com isso. — Jão respondeu, apertando a mão de Pedro com força.

      Pedro olhou nos olhos de Jão, vendo a sinceridade e a dor refletidas neles. — Eu te amo, Jão. E quero consertar isso. Quero estar com você e fazer as coisas darem certo. — Ele disse, sua voz cheia de determinação.

      Jão assentiu, sentindo um peso sair de seus ombros. — Eu também te amo, Pedro. E quero seguir em frente. Vamos deixar isso para trás e focar no que temos. — Ele disse, sentindo-se um pouco mais aliviado.

      Pedro puxou Jão para um abraço, sentindo o calor do corpo dele através da manta. Eles ficaram assim por um momento, sentindo o conforto e a segurança um do outro.

      — Vamos superar isso juntos. — Pedro murmurou, beijando o topo da cabeça de Jão.

      Jão fechou os olhos, permitindo-se relaxar um pouco mais. — Sim, juntos. — Ele respondeu, sentindo a esperança renascer dentro de si.

      Pedro se afastou levemente, olhando para Jão com um olhar sério e terno ao mesmo tempo. — Você precisa descansar. Essa noite foi demais para todos nós. — Ele disse, acariciando o rosto de Jão.

      — Eu sei, mas... eu não quero dormir agora. — Jão respondeu, segurando a mão de Pedro contra sua pele.

      — Então, vamos apenas ficar aqui, juntos. — Pedro sugeriu, pegando uma segunda manta e se enrolando junto a Jão no chão da sala.

      O calor das mantas e a proximidade de Pedro ajudaram Jão a relaxar ainda mais. Eles ficaram abraçados, o som da chuva do lado de fora criando uma trilha sonora tranquilizadora. Pedro beijou levemente a testa de Jão, sentindo uma necessidade profunda de protegê-lo e amá-lo.

      — Pedro... — Jão começou, sua voz um pouco hesitante. — Eu me sinto tão culpado pelo que aconteceu com Leo. Eu não queria te machucar.

      Pedro balançou a cabeça, segurando Jão mais apertado. — Nós dois cometemos erros, Jão. O importante é que estamos aqui agora, dispostos a consertar isso. Eu te amo, e isso é o que importa.

      Jão assentiu, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto. — Eu também te amo, Pedro. Muito.

      Eles ficaram ali, se segurando, permitindo que a proximidade e o amor curassem as feridas abertas pelas traições. A chuva continuava a cair, mas dentro do apartamento, um novo entendimento e um novo começo estavam se formando.

      A noite passou devagar, e aos poucos, a exaustão venceu o casal. Eles adormeceram nos braços um do outro, encontrando um pouco de paz e conforto na presença mútua. Quando a manhã finalmente chegou, o sol tentava penetrar as nuvens pesadas, sinalizando um novo dia e novas oportunidades para reconstruir o que fora quebrado.

      Jão acordou primeiro, sentindo o corpo dolorido e a cabeça pesada. Ele se moveu devagar, tentando não acordar Pedro, que ainda dormia profundamente ao seu lado. Levantando-se, Jão foi até a cozinha e começou a preparar um café, seus pensamentos ainda tumultuados.

      Pedro acordou pouco depois, sentindo a falta do calor de Jão. Ele se levantou e foi até a cozinha, onde encontrou Jão perdido em pensamentos.

      — Bom dia. — Pedro disse suavemente, aproximando-se de Jão.

     — Bom dia. — Jão respondeu, virando-se para encarar Pedro. — Estava pensando... talvez devêssemos tirar o dia para nós, sabe? Esquecer tudo por um momento e apenas... estar juntos.

      Pedro sorriu, concordando. — Acho uma ótima ideia. Vamos fazer isso. Hoje é só nosso.

      Com essa decisão, o dia começou a se desenrolar de forma tranquila. Eles passaram o dia juntos, conversando, rindo e redescobrindo o amor que sentiam um pelo outro. A dor e a culpa ainda estavam lá, mas, juntos, eles sabiam que poderiam superar qualquer coisa.

NÃO ERA AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora