Pensamentos Sombrios

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      Os meses passaram e Pedro e Jão conseguiram juntar dinheiro para comprar um apartamento juntos. Era um lugar bonito, bem localizado e finalmente bem mobiliado, com todos os confortos que antes não tinham. Cada canto do novo lar refletia o esforço e o amor que colocaram na construção da vida juntos.

     Apesar do ambiente acolhedor e do amor evidente entre eles, Jão não conseguia evitar o sentimento de vazio que crescia em seu peito. Ele percebeu que nunca tinha realmente enfrentado o luto pela morte de seu pai. Durante todo esse tempo, ele tentou seguir em frente, acreditando que ignorar a dor seria o melhor caminho. Mas a perda o assombrava, especialmente nos momentos de silêncio.

      Pedro, por outro lado, estava animado com a nova fase de suas vidas. Ele não percebia o conflito interno de Jão, acreditando que tudo estava bem entre eles. Ele planejava noites românticas, cozinhava jantares elaborados e fazia de tudo para ver Jão feliz. Porém, algo estava diferente em Jão, e Pedro não conseguia identificar o que era.

      Numa tarde chuvosa, enquanto Pedro estava na faculdade e Jão em casa sozinho, ele sentiu a falta do pai com uma intensidade esmagadora. Olhou para as fotos antigas que trouxe consigo do interior, lembranças dos bons momentos que passaram juntos. O peso da tristeza o atingiu em cheio, e ele caiu no sofá, chorando silenciosamente.

      Quando Pedro chegou em casa mais cedo do que o esperado, encontrou Jão com os olhos vermelhos e inchados, claramente abalado. A preocupação imediata tomou conta de Pedro, que se aproximou e sentou ao lado de Jão nas cadeiras de praia que usavam como sofá.

      — O que aconteceu, Jão? — Pedro perguntou suavemente, segurando a mão dele.

      Jão tentou sorrir, mas falhou miseravelmente. — Eu... só estou cansado, Pedro. — Ele disse, tentando evitar o olhar preocupado de Pedro.

      Pedro franziu a testa, claramente não convencido. — Eu sei que algo mais está acontecendo. Por favor, fala comigo. Somos parceiros, lembra? Podemos enfrentar qualquer coisa juntos.

      Jão fechou os olhos, lutando contra a vontade de se abrir. Ele sabia que precisava enfrentar essa dor, mas o medo de magoar Pedro era maior.

      — Eu só... estou meio esgotado. — Jão finalmente disse, desviando o olhar.

      Pedro envolveu Jão em um abraço apertado, sentindo a dor dele como se fosse sua. — Jão, eu estou aqui para você. Sempre estarei. Não precisa enfrentar isso sozinho. Se você precisa de tempo, eu vou estar do seu lado, te apoiando.

     Jão sentiu uma onda de alívio ao ouvir as palavras de Pedro, mas a dor ainda estava lá, latente e pesada. Ele segurou Pedro mais forte, mas não conseguia se permitir falar sobre seu pai.

      — Obrigado, Pedro. Eu te amo tanto. — Jão sussurrou, tentando controlar as lágrimas.

      — Eu também te amo, Jão. — Pedro respondeu, beijando suavemente a testa de Jão.

      Naquela noite, Jão tentou se distrair, mas a tristeza não o deixava em paz. Ele sabia que precisava enfrentar seu luto, mas não queria sobrecarregar Pedro. Eles eram namorados agora, tinham construído algo lindo juntos, e Jão temia que trazer à tona sua dor pudesse estragar tudo.

NÃO ERA AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora