A Fogueira

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      Naquela noite, uma fogueira crepitava no quintal da casa de Jão e Iza. O calor das chamas era reconfortante, mas a conversa que se desenrolava ao redor da fogueira era pesada. Iza, com os olhos fixos no fogo, começou a desabafar.

      — Jão, eu preciso te contar uma coisa — disse Iza, a voz trêmula. — Desde que nosso pai morreu, eu... eu não tenho conseguido lidar com a dor. Tem sido insuportável.

      Jão olhou para sua irmã, sentindo um aperto no coração. Ele sabia que ela estava sofrendo, mas não tinha ideia do quão fundo esse sofrimento ia.

     — Eu também sinto muito a falta dele, Iza. Todos os dias. — Jão respondeu, tentando confortá-la.

     Iza respirou fundo e soltou a bomba.

     — Para tentar superar isso, eu... comecei a me prostituir na cidade vizinha. No início, era só para ganhar um dinheirinho, mas acabou se tornando uma forma de fugir da dor.

     Jão ficou em choque. A revelação de sua irmã o atingiu como um soco no estômago.

     — O quê?! Iza, você não pode fazer isso! — Ele exclamou, a raiva e a preocupação se misturando em sua voz. — Isso não é jeito de lidar com a dor! Você precisa parar com isso agora!

      Iza balançou a cabeça, lágrimas escorrendo pelo rosto.

      — Eu não vou parar, Jão. Você não entende. É a única coisa que me faz sentir viva. E precisamos do dinheiro.

      Jão se levantou abruptamente, sua frustração transbordando.

      — Isso não é viver, Iza. Você está se destruindo! — Ele tentou argumentar, mas ela permaneceu firme em sua decisão.

      As semanas seguintes foram um inferno para Jão. A revelação de Iza o deixara ainda mais abalado. A tristeza parecia aumentar a cada dia, e ficar ali, onde tudo lembrava seu pai, não estava mais funcionando. Ele começou a ignorar as mensagens e ligações de Pedro, incapaz de lidar com suas preocupações enquanto lutava com sua própria dor.

      Raramente comia ou via alguém. Passava a maior parte do tempo trancado no escritório de seu pai, cercado por memórias e lembranças que só aumentavam seu sofrimento. As mensagens de Pedro acumulavam-se sem resposta, e Jão se afundava cada vez mais em sua própria tristeza.

      Pedro, por sua vez, estava desesperado em São Paulo. A falta de comunicação de Jão o deixava preocupado e ansioso. Cada dia sem notícias era um tormento, e ele temia o pior. A saudade e a preocupação o consumiam, e ele não sabia mais o que fazer para alcançar Jão.

      Jão sentia-se preso em um ciclo de dor e tristeza. A revelação de Iza o perturbava profundamente, e ele não conseguia encontrar uma saída para sua própria dor. A única coisa que sabia era que precisava de tempo e espaço para processar tudo, mas a cada dia que passava, parecia que o luto só se intensificava.


NÃO ERA AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora