O Topo de um Prédio

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      Jão farto da situação que estava vivendo ali no interior, resolveu dar um basta nisso tudo... Ele arrumou sua mala com algumas fotos, e roupas, pegou a caminhote que era de seu pai e partiu para São Paulo, para tentar reencontrar Pedro e se desculpar, porém como chegou de madrugada resolveu dar uma volta na cidade. Ele foi a Avenida Paulista para tentar distrair a cabeça.

      Jão estava sentado no parapeito do terraço de um prédio na Avenida Paulista, o vento noturno balançando seus cabelos enquanto ele olhava para a cidade iluminada. As luzes dos prédios se estendiam até onde a vista alcançava, criando um cenário surreal para suas reflexões.

      Ele segurou o telefone com mãos trêmulas e começou a gravar a mensagem de áudio para Pedro. Sua voz estava embargada pelo peso das emoções que vinham à tona.

"Oi, Pedro... Eu estou aqui em São Paulo. Cheguei de madrugada e... estou no terraço de um prédio, só pensando em tudo o que vivemos. Eu fui um idiota com você, especialmente depois de você ter sido tão compreensivo e ter cuidado de mim... Eu... não fiz certo. Tento me lembrar do que era antes de você, mas parece que tudo mudou. Me desculpa, Pedro...."

     Antes que pudesse terminar a mensagem, um grito agudo ecoou ao fundo. 

      Do outro lado da linha, Pedro ouviu o áudio de Jão com um nó na garganta. A preocupação e a saudade que sentia por Jão cresciam a cada segundo. Ele estava prestes a responder quando ouviu o grito através do telefone. Seu coração disparou de preocupação.

"Jão? O que está acontecendo? Você está bem?" Pedro perguntou, sua voz embargada pelo medo.

      Jão permaneceu em silêncio, o vento cortando o ar ao seu redor enquanto ele se equilibrava no parapeito. Seus pensamentos eram um turbilhão de arrependimento e desespero. O grito que ecoou ao fundo não era dele, mas de alguém mais distante, alguém que precisava de ajuda.

      A multidão se formou rapidamente na calçada abaixo. Pessoas apontavam para o alto, seus rostos iluminados pelas luzes da cidade. Jão sentiu o vazio em seu peito, a sensação de queda iminente. Ele não queria morrer, mas também não sabia como voltar atrás.

      Foi então que um jovem se aproximou, empurrando-se através da aglomeração. Renan, com olhos arregalados e respiração ofegante, olhou para Jão e gritou:

      - Alguém chame o resgate! Ele está prestes a cair!

      As palavras de Renan foram como um despertar para Jão. Ele olhou para baixo, para a multidão preocupada, e percebeu que não estava sozinho. A vida ainda estava ali, pulsando em seu peito. Ele agarrou o parapeito com força, lutando contra o vento e o medo.

      Renan pegou o telefone e discou o número de emergência. Sua voz era firme, mas seus olhos traíam a preocupação. Ele olhou para Jão e disse:

     - Você vai ficar bem. Eles estão a caminho. - Renan gritava

      Jão não respondeu. Apenas tentou se equilibrar, porém acabou não conseguindo e caiu do topo do prédio, ele estava vivo, porém com muita dor.

      Enquanto as sirenes se aproximavam, Jão fechou os olhos e prometeu a si mesmo que, se sobrevivesse a essa queda, faria tudo diferente. Ele se desculparia com Pedro, lutaria por uma segunda chance e nunca mais se deixaria cair tão fundo.

      E assim, na calçada daquele prédio, Jão esperou pelo resgate, com a cidade iluminada a sua vista e a vida pendendo no fio tênue entre o céu e o chão.

NÃO ERA AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora