A Agressão

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      Os dias que se seguiram ao pedido de casamento foram preenchidos com felicidade e planejamento. No entanto, uma questão importante ainda pairava sobre Jão e Pedro: conhecer os pais de Pedro e contar-lhes sobre o casamento e a chegada do bebê.

      — Pedro, eu acho que precisamos contar aos seus pais sobre o nosso casamento — disse Jão, enquanto eles estavam sentados na sala de estar do apartamento. — É importante que eles saibam e que tenhamos o apoio deles, especialmente agora que vamos ter um filho.

      Pedro suspirou profundamente, a preocupação evidente em seus olhos.

      — Jão, meu pai é muito conservador. Ele nunca aceitou bem minha sexualidade, e eu tenho medo de como ele vai reagir ao saber que estamos nos casando e que vamos criar uma criança juntos.

      Jão segurou a mão de Pedro, olhando nos olhos dele com firmeza.

      — Eu entendo, Pedro. Mas nós somos uma família agora. Se vamos nos casar e criar uma criança juntos, precisamos enfrentar isso como uma família. Por favor, vamos tentar.

      Pedro olhou para Jão, vendo a determinação nos olhos do noivo. Finalmente, ele cedeu, ainda que relutante.

      — Tá bom, Jão. Vamos lá. Mas, por favor, me deixe contar depois do almoço. Assim, podemos evitar uma cena maior, pelo menos até termos comido.

      No final de semana, Jão e Pedro viajaram até a casa dos pais de Pedro. A casa ficava em um bairro tradicional, e Jão sentiu um frio na barriga ao se aproximarem da porta. Pedro tocou a campainha e foi recebido com um abraço caloroso de sua mãe, dona Mariana.

      — Pedro! Que bom te ver, meu filho! — ela exclamou, antes de se virar para Jão. — E você deve ser o Jão. Pedro falou muito sobre você. Seja bem-vindo!

      — Muito prazer, dona Mariana. Obrigado pela hospitalidade — disse Jão, sorrindo enquanto apertava a mão dela.

      O pai de Pedro, senhor Augusto, estava na sala de estar lendo um jornal. Ele olhou por cima dos óculos e deu um leve aceno de cabeça.

      — Olá, Pedro. — Ele disse, voltando a atenção para o jornal. — E você deve ser o amigo do Pedro. Jão, certo?

      — Sim, senhor Augusto. Prazer em conhecê-lo — respondeu Jão, tentando esconder o nervosismo.

      Durante o almoço, a conversa foi agradável, mas Pedro e Jão estavam tensos. Finalmente, dona Mariana e senhor Augusto saíram para ir ao mercado comprar alguns ingredientes que faltavam para a sobremesa. Pedro e Jão ficaram sozinhos na casa.

      — Eu não sei se estou pronto para isso, Jão — disse Pedro, nervoso.

      — Nós podemos fazer isso, Pedro. Estamos juntos nisso. — Jão respondeu, tentando acalmar o noivo.

      A tensão entre eles diminuiu enquanto conversavam e, aos poucos, os dois começaram a relaxar. Em um momento de descontração e carinho, os dois se beijaram apaixonadamente no antigo quarto de Pedro, vestindo apenas cuecas.

      Foi nesse momento que a porta da casa se abriu e os pais de Pedro retornaram. Sem perceber o que acontecia no quarto, caminharam até o corredor, mas os sons de risos e murmúrios os atraíram até a porta entreaberta.

      O senhor Augusto abriu a porta abruptamente e ficou estarrecido ao ver seu filho e Jão se beijando. Seu rosto ficou vermelho de raiva.

      — O que é isso?! — ele gritou, avançando para dentro do quarto.

      Pedro e Jão se afastaram rapidamente, surpresos e assustados. Mas a raiva do pai de Pedro era palpável.

      — Eu não acredito nisso! Na minha casa! — senhor Augusto rugiu, agarrando um taco de beisebol que estava encostado na parede.

      — Pai, por favor, escuta! — Pedro tentou falar, mas a fúria de seu pai era incontrolável.

      Senhor Augusto avançou, acertando Pedro no braço com o taco. Pedro gritou de dor, caindo no chão. Jão tentou intervir, mas foi empurrado com força.

      — Você é uma vergonha! — gritou senhor Augusto, continuando a bater em Pedro. — Isso é inaceitável!

      Dona Mariana correu para dentro do quarto ao ouvir os gritos e tentou separar o marido do filho.

      — Augusto, pare! Você vai matá-lo! — ela gritou, chorando.

      Jão finalmente conseguiu afastar senhor Augusto, segurando-o enquanto ele lutava para se soltar. Pedro estava no chão, gemendo de dor, segurando o braço ferido.

      — Vamos sair daqui, Jão. Agora! — Pedro disse, com dificuldade, olhando para o noivo.

      Jão ajudou Pedro a se levantar e, juntos, eles correram para fora da casa, com dona Mariana ainda tentando acalmar o marido furioso.

      Eles entraram no carro e partiram rapidamente, deixando para trás a casa que agora representava medo e dor. Enquanto dirigia, Jão segurava a mão de Pedro, tentando consolá-lo.

      — Vai ficar tudo bem, Pedro. Eu prometo. Vamos resolver isso juntos — disse Jão, com a voz embargada.

      Pedro olhou para Jão, lágrimas escorrendo pelo rosto, mas encontrou conforto na força e no amor de seu noivo. Eles sabiam que o caminho à frente seria difícil, mas estavam determinados a enfrentá-lo juntos, como uma verdadeira família.

      Jão dirigiu rápido, saindo daquela cidade e voltando para a segurança do apartamento em São Paulo. Durante a viagem, Pedro manteve o braço machucado apoiado no colo, tentando controlar a dor que sentia fisicamente e emocionalmente. Jão, sempre atento à estrada e a Pedro, não deixou de oferecer palavras de conforto e promessas de um futuro melhor.

      Ao chegarem ao apartamento, Jão ajudou Pedro a subir as escadas e o levou direto para o sofá, onde ele poderia descansar. Ele pegou um kit de primeiros socorros e começou a cuidar dos ferimentos de Pedro com gentileza e cuidado.

      — Precisamos ir ao hospital para você ser examinado, Pedro — disse Jão, enquanto aplicava um pouco de gelo no braço machucado. — Não quero correr riscos.

      Pedro assentiu, concordando. Eles foram ao hospital e, depois de algumas horas de espera e exames, os médicos confirmaram que o braço de Pedro não estava quebrado, mas ele precisaria de descanso e cuidados.

      Os dias seguintes foram um turbilhão de emoções e recuperação. Pedro estava grato por ter Jão ao seu lado, cuidando dele com amor e paciência. Eles se apoiaram mutuamente, tentando superar o trauma da visita aos pais de Pedro. Cada dia que passava, o vínculo entre eles se fortalecia, e a certeza de que estavam juntos nessa jornada só aumentava.

      Após algumas semanas, já recuperados e mais tranquilos, Pedro e Jão começaram a planejar seu futuro novamente. Agora, além de se prepararem para a chegada do bebê, precisavam lidar com a questão do casamento e como enfrentar a desaprovação da família de Pedro.

     — Nós vamos ser pais, Jão — disse Pedro, uma noite, enquanto estavam deitados na cama. — E eu quero que nosso filho cresça em um lar cheio de amor e aceitação. Vou enfrentar meu pai de novo se for necessário, mas eu não vou desistir de nós.

      Jão sorriu, segurando a mão de Pedro.

      — E eu estarei ao seu lado, Pedro. Sempre. Vamos criar nosso filho em um ambiente de amor e respeito. E, se enfrentarmos dificuldades, faremos isso juntos.


NÃO ERA AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora