Capítulo 1 - Cadarço desamarrado

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TRAVIS KELCE POINT OF VIEW

Kansas City, Julho, 2024

Os primeiros raios de sol filtravam-se pelas frestas das cortinas do meu quarto, interrompendo o que parecia ser um sono precioso após uma noite longa e inquieta. Pensamentos intrusivos dançavam em minha mente, teimosos em sua recusa de deixar-me em paz e permitir o descanso. O protesto veio em forma de um resmungo, enquanto tentava, com alguma determinação preguiçosa, virar-me para o lado oposto, na esperança de roubar mais alguns minutos de paz.

Mas algo — ou melhor, alguém — me mantinha preso. Meus olhos se abriram lentamente, ajustando-se à luz matinal, e encontrei-me encarando os olhos verdes do meu garotinho, Thomas.

Lá estava ele, todo seu peso de trinta e seis quilos equilibrado sobre mim, irradiando uma alegria matinal que parecia uma afronta ao meu estado semi-consciente.

Sorri de volta, não resistindo àquele entusiasmo contagiante. Era uma manhã típica na nossa casa, onde os dias começavam cedo, geralmente com um ataque sorridente e energético de Thomas. Ele herdara essa disposição matinal de mim, uma ironia não perdida naquele momento em que tudo o que eu queria era mais alguns minutos de sono.

— Bom dia, campeão — murmurei, minha voz rouca de sono enquanto um sorriso se formava no meu rosto. — Já está de pé tão cedo, hein?

Agora que estou aposentado, tenho a liberdade de dedicar cem por cento do meu tempo a ele. Ser tudo o que meu filho precisa, especialmente porque sei que, em algum momento, os questionamentos de Thomas sobre a mãe dele inevitavelmente surgirão.

Ainda não me sinto preparado para explicar a um menino de seis anos um assunto tão delicado. Nem sei se devo.

Thomas sempre foi um garoto de personalidade forte, cheio de vida, capaz de formar suas próprias opiniões sobre uma gama surpreendente de temas, mesmo com apenas seis anos. A presença constante de câmeras nunca foi algo que ele apreciou. Quando o mundo soube que Travis Michael Kelce, o renomado tight-end do Kansas City Chiefs, havia se aposentado, a atenção dos fotógrafos e entrevistadores se voltou ainda mais para mim e, inevitavelmente, para Thomas.

Alguns questionamentos foram feitos a ele, mas meu filho não dava as respostas mais agradáveis e raramente se comportava da maneira esperada frente às câmeras. Ele enfrentava as situações com uma autenticidade desarmante, recusando-se a se dobrar às expectativas impostas por estranhos.

E é exatamente essa autenticidade que faz Thomas roubar meu coração todos os dias. Ele é uma versão mais jovem de mim, com uma personalidade igualmente forte e desafiadora. Esse garoto consegue me fazer rir mesmo nos meus piores momentos. Sua capacidade de iluminar um dia sombrio é inigualável.

Mas mais do que isso, é por ele que procuro ser alguém melhor. Cada momento com Thomas é um lembrete do que realmente importa. Em meio ao caos da aposentadoria e da atenção pública, ele é meu ancoradouro. E enquanto navego por essas águas desconhecidas de ser um pai solteiro e aposentado, sei que, com Thomas ao meu lado, estou no caminho certo.

— Bom dia, pai! — exclamou ele, com uma animação contagiante, enquanto suas pequenas mãos se apoiavam no meu peito. — Sim! Chauncey me acordou lambendo meu rosto.

— Precisamos encontrar uma solução para ela, não é? — perguntei com um tom brincalhão enquanto me espreguiçava, sentindo os músculos despertarem. — E então, meu jovem aventureiro, quais são os grandes planos para hoje?

Não deixo as rédeas das decisões nas mãos de Thomas, consciente de que isso frequentemente resultaria em uma tarde no parque ou em uma ida ao mercado para abastecer o carrinho com uma quantidade generosa de doces e outras tentações irresistíveis.

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