Capítulo 05.

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Assim que entrei no carro de Jay, pude ouvir a voz enjoativa de MinHae que estava no banco da frente, revirando os olhos e cruzando os braços por sua presença. O alfa não disse nada o caminho todo, só resmungava um "sim", "não", "não sei" e balançava os ombros quando a mulher fazia alguma pergunta idiota. Eu só queria chegar em casa logo, mas percebi o alfa seguir um caminho totalmente diferente, o que me deixou um pouco nervoso.

— Onde estamos indo? – Perguntei tentando não mostrar desconforto.

— Irei deixar MinHae primeiro. – Respondeu me olhando pelo retrovisor.

— Pensei que deixaria o garoto primeiro, Oppa! – Ela fez uma voz fofa quando o chamou por aquele apelido, o que me fez ter ânsia de vômito.

— Minha casa é próxima da dele, então é melhor pra mim fazer dessa forma.

O resto do caminho a alfa foi de cara fechada e eu com um sorriso no rosto. Quando paramos em sua casa, ela selou a bochecha de Jay e saiu sem nem se despedir de mim; mas não é como se eu quisesse que ela falasse comigo. Jay deu a curva para voltarmos pelo mesmo caminho que viemos, acelerando um pouco para chegarmos mais rápido. Não falamos nada durante o trajeto, eu por estar cansado do dia e Jay, eu sinceramente não sei.

O carro estacionou em frente de casa e eu tirei o cinto de segurança, mas quando fui abrir a porta não tive sucesso, até perceber que ela estava trancada. Olhei para Jay e dei um aceno com a cabeça para ele entender que eu queria sair, mas ele não deu a mínima para isso.

— Você pode abrir, por favor? – Pedi educadamente, o que não era muito do meu forte.

— Eu e MinHae não temos nada. – Disse de repente, me deixando surpreso.

— Não é como se eu me importasse com isso. – Menti; eu me importava muito.

— Você é o primeiro ômega que eu conheço que é tão respondão assim. – Me olhou pelo retrovisor. — Você é todo delicado, mas quando abre a boca pra falar... Fica parecendo um alfa.

— A delicadeza eu tirei do Appa Jake, já a personalidade foi do Appa Sunghoon.

— É estranho.

— O que?

— Meu melhor amigo de infância ter tido um filho e ele ser desse jeito.

— Desse jeito? Que jeito?

— Igual a ele. – Desviou o olhar do meu, olhando para o lado de fora. — Mas vocês são muito diferentes... Sunghoon nunca foi tão atirado desse jeito, quando ômegas chegavam perto ele saia quase correndo. Jake era do mesmo jeito, morria de medo de alfas e sempre saia de perto quando eles se aproximavam. Você não é parecido com nenhum deles no requisito de vida social e amorosa.

— Não estou entendendo onde você quer chegar.

— Você é bonito, Jungwon. Atraente. – Ouvi o seu suspiro ao terminar a frase. — Você não precisa se jogar para as pessoas para ter a atenção delas, isso já acontece naturalmente.

— Por que você tá me dizendo isso?

— Porque eu não gostei de te ver se jogando para aquele alfa. Eu sei como é a mente deles, até porque eu sou também e penso as mesmas coisas. Você merece alguém que te respeite e ame sua verdadeira personalidade, porque eu sei que você não é assim.

— Jay.

— Sunghoon não te dá atenção, ele coloca a culpa no trabalho mas isso não impede ele de ser um pai presente. Ele me contou como vocês são distantes e em como queria que isso mudasse, mas você também não dá brecha e acaba não dando em nada. Por não ter recebido a atenção que merecia, você procura receber de outras pessoas para preencher o vazio que se instalou no seu peito.

— Você não sabe do que tá falando. – Falei com a voz chorosa, meus olhos já estavam cheios de lágrimas.

— Eu sei que apareci a pouco tempo na sua vida, mas eu quero poder estar presente nos seus momentos bons e ruins. Quando Sunghoon me disse que tinha um filho, imaginei que fosse um bebezinho, e eu estava certo... – Voltou a me olhar pelo retrovisor do carro. — Você é apenas uma criança que ainda precisa da atenção dos pais, só que está no corpo de um adolescente e tenta mostrar ser forte para não pensarem que na verdade você é fraco.

— Abre a porta agora.

Ele ficou me encarando por mais alguns segundos antes de destrancar a porta e eu sair às pressas do carro. Peguei as chaves de casa que estavam na minha bolsa e abri a porta, trancando-a novamente quando já estava dentro. Encostei na porta e fui escorregando até ficar sentado no chão, abracei meus joelhos e deitei a cabeça sobre eles, me permitindo chorar feito o bebê que eu era.

Jay estava certo em tudo que havia dito, mas é óbvio que eu não iria admitir na cara dele, por mais que eu tenha deixado bem óbvio que tudo era verdade. Vivi minha vida vendo os alfas com maus olhos, mas ainda sim eu me permitia me envolver com eles até Appa Sunghoon descobrir e acabar me dando um pouco de atenção. Mesmo que fosse pra brigar comigo, ele estava me notando.

Eu tinha consciência de que aquela não era a maneira certa de conseguir a atenção dele, mas foi a única que achei e não conseguia mais parar. Ninguém nunca notou isso, nem mesmo Appa Jake que era bem observador. Eu fazia questão de esconder meus sentimentos para ninguém ver que eu era fraco, porque eu queria ser um ômega diferente, mas eu sou igual e um pouco pior.

Desde os meus doze anos eu vivia daquele jeito, perdi minha virgindade cedo e quase tive um filho, mas pelo menos eu estava ganhando atenção que eu queria. Poderia ser considerado problemático, mas eu já não conseguia mais parar, já fazia parte de mim e eu não sabia o que fazer para mudar isso. Meu peito doía, meus olhos estavam ardendo e não parava de sair lágrimas, minha respiração estava fraca e eu sentia que desmaiaria a qualquer momento.

Eu me afundava cada vez mais em um poço sem fundo.

Slow DownOnde histórias criam vida. Descubra agora