Depois de passar várias horas conosco, contando como foi sua vida nesses últimos anos, Minju teve que se despedir e ir pra sua casa. Infelizmente Haerin não estava ali para que eu pudesse apresentá-las, mas a beta prometeu que voltaria outra hora e levaria seus meios irmãos. E agora, eu estava com uma tigela de uvas no meu colo, comendo enquanto assistia Supernatural quando a porta principal foi aberta, revelando Hae com uma cara de tacho que nunca vi antes. A alfa se aproximou a passos lentos que quase não a fez chegar até o sofá, onde se jogou ao meu lado e suspirou pesado.
— O quê que houve? – Perguntei levando uma uva até minha boca, fazendo um barulho satisfatório quando a esmaguei entre os dentes.
— Não tô conseguindo o que quero.
— E o quê é que você quer?
— Falar com a menina da cafeteria. – Disse esfregando as mãos no rosto, claramente frustrada. — Eu não sei reagir quando ela tá perto.
— Você tá apaixonada.
— Não tô! Você sabe bem de quem eu gosto.
Revirei os olhos com a sua resposta, sentindo vontade de bater nela.
— Ai, por favor, né? Esquece aquela piranha e foca nessa cacheadinha. Não conheço, mas pelo que você me contou, ela deve ser um doce de pessoa! A pessoa perfeita pra você.
— Eu nem sei se ela gosta de mulher!
— Não seja por isso, eu vou lá e pergunto pra você.
— Você não tá doido!
— Nunca duvide de um gravidinho. – Falei enfiando uma uva na boca dela, ouvindo seu resmungo. — Você tem que tirar essa vergonha e cair dentro.
— Não consigo!
— Vou ter que usar minha tática infalível...
— E qual é?
— Appa! – Chamei pelo ômega que estava no andar de cima e que não demorou muito para aparecer na sala vestindo um pijama de ursos. — Senta aqui, preciso que você dê conselhos pra esse ser humano.
E antes que ela pudesse negar, contei o que estava acontecendo para Appa Jake e ele disse as mais belas palavras que poderíamos ouvir.
— Se você quer algo, você tem que correr atrás para conseguir. Nada vem até nós, somos nós que temos que ir até algo. Lembre-se: vaca não dá leite, você tira o leite. Isso significa que, se você quer, que corra atrás sem esperar sentado. E se o que você quer é falar com essa garota, levante a cabeça e vá em frente, não existe vergonha para quem tem determinação.
— Eu vou tentar...
— Vai tentar e vai conseguir! Eu acredito no seu potencial, querida.
Observei a cena deles se abraçando, sentindo meu peito esquentar de tanto amor que eu sinto por esses dois. Logo eles também me puxaram para um abraço e ali ficamos, aproveitando a companhia um do outro sem se preocupar com mais nada.
Depois disso, cada um foi fazer uma coisa diferente para terminar o dia e podermos preparar o jantar. Appa Jake contou da última consulta dele, falando como o bebê estava saudável e crescendo aos pouquinhos. Era radiante a forma que ele falava dessa criança, me fazia sorrir tanto que minhas bochechas já estavam doloridas.
Mais tarde, quando já estávamos todos juntos na mesa de jantar, o clima estava um pouco pesado. Tia Shuhua, sempre muito comunicativa, não deu uma palavra desde que chegou e Appa Sunghoon também não abriu a boca sem ser para poder comer.
— Eu tirei um dez no meu teste de física. – Haerin quebrou o silêncio, ganhando nossa atenção.
— Sério, querida?? Estou muito orgulhoso de você. – O ômega mais velha disse com um sorriso no rosto, fazendo um esforço para poder alcançar a mão dela.
— Eu lembro que Jake sempre foi apaixonado por física, pelo pouco que Sunghoon me contou, não tinha uma matéria que ele mais amasse além dessa. – Tia Shuhua entrou no assunto, mandando um sorriso alegre para Appa.
— Até hoje ainda é minha matéria favorita!
— Eu só espero que continue assim e você não faça nada para se desfocar da escola. – Appa Sunghoon proferiu de forma séria, deixando mais uma vez o clima esquisito.
Por um lado, senti uma indireta em sua fala.
— O que o senhor quer dizer com isso? – Perguntei como quem não quer nada.
— Não quero que aconteça nada com ela para que a faça tirar a atenção dos estudos. – Disse devolvendo o olhar sério, acabando por olhar para a minha barriga ao final da frase.
— Você acha mesmo que eu queria isso? – Tirei sua atenção outra vez, sentindo um nó se formar na minha garganta.
— Se não quisesse, teria sido responsável e não ter feito nada com aquele idiota. – Falou com a voz de alfa, fazendo a mim e Appa Jake ficarmos encolhidos no nosso canto. — Eu deveria ter te discipulado enquanto tinha tempo.
— Você quer me bater?? – Levantei da cadeira, não querendo abaixar a cabeça pra ele. — Então bate! Pode bater!
— Jungwon! – Appa Jake também se levantou, mas o alfa o deu uma olhada para que ficasse sentado.
— Você não sabe do que tá falando. – Ficou de pé na minha frente, me olhando seriamente.
— Vai, Park Sunghoon, me bate! É isso que você quer, né? Pode bater aqui. – Virei o rosto e dei batidinhas na minha bochecha, esperando que ele fizesse mesmo aquilo.
E ele iria mesmo. Mesmo dizendo que ele podia, não imaginei que fosse mesmo.
Mas antes que sua mão fosse de encontro ao meu rosto, tia Shuhua segurou em seu braço e o empurrou para longe de mim.
— Você tá louco, porra? Como você teria coragem de bater no seu próprio filho? – Se aproximou apenas para empurrá-lo outra vez, até que estivesse com as costas na parede. — Você é que nem eles.
— Não me compare com aqueles desgraçados!
— Sim, eu comparo! Porque é verdade, Sunghoon. A cada dia que se passa você está se tornando o que eles eram. – Dizia com desdém na voz. — É a sua dor! Eles não tem o direito de sentir também só porque são seus filhos.
— Você não sabe de nada!
— Sei, e como eu sei! Você quer mesmo estragar o seu casamento por causa de algo passado? Acha mesmo que viver preso nessas lembranças vai te levar algum lugar? Você está se acabando e acabando com a sua família.
Eu não estava entendendo nada do que ela dizia, Appa Sunghoon nunca contou sobre os meus avós ou como era sua infância, nem mesmo Appa Jake sabia de tudo; ele só sabia o que o alfa queria que ele soubesse.
E sem dizer nada, ele saiu da sala de jantar e o clima ficou pesado. Appa Jake saiu dali também para ir atrás dele como sempre, e então eu pude deixar as lágrimas caírem de montão, caindo no chão sem ter forças para me aguentar de pé.
— Vai ficar tudo bem... – Haerin dizia enquanto me abraçava apertado, deixando selares doces na minha testa.
E era isso que eu mais queria no mundo. Que tudo ficasse bem.
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Slow Down
FanfictionYang Jungwon, de dezessete anos, é um ômega mimado que vive debaixo das asas de seus pais. Além de mimado, o rapaz era muito teimoso e vivia fazendo coisas erradas pelas costas dos seus genitores, mantendo tudo em segredo. Mas toda essa sua marra é...