sixteen - parte 2

537 57 25
                                    

P.O.V ENID

Ajax começou a andar em minha direção furioso. A cada passo que ele da, meu coração bate mais forte e um desespero fora do comum começa a me tomar... Eu já sei oque vai acontecer.

Ajax só havia me batido uma vez, nesses dois anos de relacionamento. Nunca tive medo dele, mas no dia em que sua mão foi parar em meu rosto, comecei a temer um pouco. Obviamente eu mando na relação e ele me obedece, mas quando ele fica com raiva, fico com medo.. Lembro de todos os tapas que minha mãe, meu pai e meus irmãos já me deram.. de todas as vezes que eu apanhei sem motivos, todas as vezes que gritaram comigo.. todas as lembranças, traumas e medos começam a inundar minha mente e tudo que eu posso fazer é ficar quieta.

Não tenho coragem de encarar eles cara a cara.

Nenhum deles..

— "Onde você estava?" — Ajax perguntou assim que chegou na minha frente, calmo, porém eu sabia que a raiva dominava seu ser.

— "Desculpe.. Me atrasei por algumas coisas que aconteceram e-" — O garoto me cortou antes que eu pudesse terminar de falar.

— "Tem noção do tempo que fiquei aqui, plantado, esperando você?!"— Perguntou, agora com um tom furioso.

— "D-Desculpa, eu não queria-" — Cortada novamente.

— "Qual é a PORRA do seu problema?!" — O tom alto tomando conta de sua voz. — "Responde." — Falou pausadamente quando percebeu que eu havia ficado em silêncio.

Um pânico crescente começou a tomar conta do meu peito, minha respiração ficando pesada, falta de ar me tomando, meus olhos agora se enchendo de lágrimas e o medo tomando conta do meu ser. Minhas mão tremeram assim que ele segurou meu rosto com força e me fez encara-lo.

— "Eu não quero saber oque aconteceu, não quero ouvir suas desculpas esfarrapadas. Apenas ouça." — Tremi, as lágrimas querendo sair de meus olhos, não permiti. Comecei a morder meu lábio inferior em uma tentativa de não chorar. — "Você só tinha um trabalho, chegar aqui na hora, e conseguiu se atrasar. Sabe o quanto é ruim ficar aqui parado, esperando?!" — Eu sabia, ele já havia feito o mesmo comigo várias vezes.

— "Nunca mais, preste atenção!" — Ele apertou meu rosto e me puxou para mais perto. Meu rosto estava dolorido, o medo só crescendo dentro do meu peito.

Sem que eu percebesse, as lágrimas começaram a cair.

— "Nunca mais me faça ficar esperando por você. Eu cansei, Enid, cansei de ser bonzinho com você, sua vagabunda. Agora você irá conhecer meu pior lado." — Com isso ele soltou meu rosto com força, fazendo minha cabeça rodar para a esquerda.

Olhei para ele com o rosto molhado por conta das lágrimas, ainda mordendo o lábio na mesma tentativa, agora falha, de não chorar. Meus lábios começaram a tremer junto ao meu corpo que agora tremia mais ainda.

— "Me desculpa." — Disse com a voz fraca olhando em seus olhos.

— "Cala a boca!" — Disse em tom alto antes de desferir um tapa em meu rosto.

Fiquei paralisada. As lágrimas ainda descendo, meus olhos arregalados, meu peito apertado como nunca antes, a ardência em meu rosto crescendo cada vez mais. Pânico.

— "Vou pro meu quarto." — Disse ele impaciente.

Eu não respondi. Não conseguia dizer nada. Continuava do mesmo jeito.

Ouvi os passos dele se afastando...

Coloquei a mão onde a mão dele me acertou em cheio, passei a pontas dos dedos ali e a dor que senti era quase insuportável.

Abaixei a cabeça e deixei as lágrimas saírem livremente. Até cair de joelhos no chão e agarrar meus próprios fios de cabelo, os puxando com força. A culpa não foi minha!

[...]

Não sei a quanto tempo eu estava ali. As lágrimas já não saiam mais, meu rosto agora está relaxado. Já não penso mais em nada. O sono começou a me tomar e eu já me acostumei com a dor de cabeça a algum tempo.

Quase sem forças, me levantei e comecei a andar lentamente até meu prédio. Não quero levantar minha cabeça, então estou andando com ela baixa, ninguém anda por esses lados a essas horas mesmo.

Cheguei nas escadas e comecei a subir devagar. Um degrau de cada vez. Cheguei sem perceber direito, abri a porta do quarto e coloquei um pé para dentro, mas travei ali mesmo. As memórias começaram a inundar minha mente e o senti o pânico voltar a ser instalar em meu peito. Entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim. Me escorei na porta e senti meu corpo escorregando até eu me sentar no chão. Abracei minhas pernas e afundei meu rosto em meus braços, comecei a chorar desesperadamente.

Dormi ali sem perceber.

P.O.V WEDNESDAY

Vi Enid entrar no quarto mas nem liguei, eu estava no meu momento de escrita. Mas ela estava demorando para fechar a porta, e isso começou a me incomodar então olhei para a porta e vi Enid parada, o rosto inchado e os olhos vermelhos. Em seu rosto havia uma marca de mão. Ela apanhou de alguém?!

Por algum motivo senti meu peito se apertar, por que?! Era Enid ali, eu deveria não ligar.

Me recusando a dar muita importância para aquilo, voltei a minha escrita, mas me desconcentrei novamente assim que ouvi Enid chorando como se não houvesse amanhã.

Uma agonia começou a tomar conta de meu peito, mas eu não podia ligar. Fechei meus olhos com força e virei meu rosto para o lado oposto de Enid. Ela não parava de chorar, então sai dali em direção a sacada.

Depois de um tempo, voltei e não pude deixar de notar Enid dormindo no mesmo lugar em que chorava a minutos atrás.

Fechei meus olhos novamente e virei meu rosto. Eu não posso ligar para isso. Não posso ligar para ela. É Enid, o ser mais irritante e insuportável que conheço, além de ser minha.. "inimiga"? Eu acho..

"Não importa, o certo é ajudá-la!"

"Hahahaha, desde quando Wednesday Addams faz o certo?! Desde quando tem empatia por alguém? Principalmente por Sinclair?"

Minha mente estava em uma batalha irritante entre ajudar ou ignorar.

Antes que pudesse pensar, meu corpo começou a se mover em direção a garota. Merda.

Parei em frente a menina a minha frente e analisei sua situação. Precária.

Até pensei em voltar para trás, ignorar isso e ir dormir, mas eu já estava em frente a garota. Soltei um suspiro pesado e rivirei os olhos. Me agachei e peguei a garota no colo, estilo noiva e a levei até sua cama, deitando-a com cuidado e a cobrindo.

Ok, já era cuidado demais.

Me virei e fui até minha cama, me deitei e dormi.

I love my enemy | WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora