Lilly

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Marjorie se parece comigo. Temos o mesmo cabelo, os mesmos olhos. Ela tem até os mesmos dedos finos que eu. Foi tão bom ver que ela herdou a risada e o sorriso do Bucky. Ver os vídeos foi como revisitar a nossa história. Achei que eu me sentiria diferente depois de finalmente vê-la. Estava esperando alguma sensação de desfecho dentro de mim, mas é quase como se alguém tivesse escancarado a ferida. Achei que vê-la feliz fosse me deixar feliz, mas, de certa maneira, fiquei até mais triste, de um jeito totalmente egoísta.É muito difícil finalmente ver a aparência dela e como ela fala e como ela é, sabendo que Bucky espera que eu simplesmente me afaste dela. Só de pensar nessa hipótese sinto como se minha barriga estivesse cheia de cordas amarradas e apertadas, prestes a arrebentar.
Bucky tinha razão; eu estava precisando de comida. Mas agora que estou sentada aqui com a comida, tudo que consigo fazer é pensar nas últimas duas horas, e não sei se consigo realmente me alimentar. Estou nauseada, cheia de adrenalina, emotiva, exausta. Bucky passou num drive-thru e pediu hambúrgueres para nós dois. Estamos sentados na picape dele, no estacionamento de um parque, comendo os sanduíches. Sei por que ele não quis me levar para nenhum lugar público. Ser visto comigo não pegaria, aliás eu estava morta. Não que eu conheça muita gente por aqui, mas naquela época eu conhecia, então é possível que alguém me reconheça. Tudo teria sido diferente se eu não tivesse entrado em pânico naquela noite. Mas entrei, e essas são as consequências, e já aceitei isso.
Passei os dois primeiros anos na sala vermelha questionando todas as decisões que tomei, querendo poder voltar no tempo. Uma vez, Yelena disse: "O remorso te deixa no pause. Assim como a prisão. Quando você sair daqui, aperte o play de novo para não se esquecer de seguir em frente."
Mas estou com medo de seguir em frente.
E se a única forma de seguir em frente for sem Marjorie e Bucky?

" Posso te fazer uma pergunta?" — diz Bucky.

Olho para ele, que já acabou de comer. Não dei nem três mordidas no meu hambúrguer.
Bucky está mais bonito , muito mais bonito com os cabelos longos. Ele passa uma imagem mais bruta, com a sua nova aparência. No entanto, quando ele abre a boca, ele passa outra impressão, e isso é o que mais importa.

" O que vai acontecer se eu não deixar você se aproximar dela? " — pergunta ele.

Agora é que perdi mesmo a fome. Só de pensar nisso fico nauseada.

" Acho que eu me mudaria para outra cidade. Não quero que você fique achando que sou uma ameaça. Sou uma completa estranha para você agora."

Me obrigo a comer uma batata frita só porque não sei mais o que dizer.

Bucky toma um gole do seu chá gelado. A picape está em silêncio. Parece que há um pedido de desculpa pairando no ar entre nós, mas não sei a quem ele pertence. Bucky toma o pedido para si; ele movimenta-se no banco e diz:

"Acho que estou te devendo um pedido de desculpas por não ter deixado você..."

"Tudo bem." — interrompo-o. " Você fez o que julgou necessário para proteger Marjorie. Por mais que eu tenha ficado com raiva... é bom ver que Marjorie tem um pai na vida dela que a protege desse jeito."

Ele está me encarando com a cabeça levemente inclinada. Ele assimila minha resposta, guardando-a em algum lugar sem me dar nenhum sinal do que está pensando. Depois gesticula em direção ao hambúrguer e às batatas quase intocados.

"Não está com fome?"

"Acho que estou agitada demais para conseguir comer agora. Vou levar para casa."

Guardo o hambúrguer na sacola com o restante das batatas fritas. Dobro o saco e o ponho no banco entre nós dois.

"E eu, posso te fazer uma pergunta?"

Ultraviolence - Bucky Barnes +🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora