Lilly

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FLASHBACK

Meus olhos estão fechados. Continuamos na cama, mas ele já não está totalmente em cima de mim. Está a meu lado, apoiando com firmeza o braço em cima de minha cintura. Sua cabeça pressiona meu peito. Continuo rígida enquanto analiso tudo ao redor.
Ele não está se movendo, mas sinto a respiração pesada do sono. Não sei se ele apagou ou se acabou dormindo. A última coisa de que me lembro é sua boca na minha, o gosto de minhas lágrimas. Fico deitada sem me mexer por vários minutos. Minha dor de cabeça piora a cada minuto consciente. Fecho os olhos e tento pensar.

Cadê minha bolsa?
Cadê minhas chaves?
Cadê meu celular?

Demoro cinco minutos para me desvencilhar. Fico com muito medo de me mexer demais de
uma vez só, então me movo um centímetro de cada vez, até conseguir rolar para o chão. Quando deixo de sentir suas mãos em mim, um soluço inesperado me irrompe do peito. Tapo a boca com a mão enquanto me levanto e saio correndo do quarto. Encontro a bolsa e o celular, mas não faço ideia de onde estão minhas chaves. Procuro freneticamente pela sala e pela cozinha, mas mal consigo enxergar. Quando ele me golpeou com a cabeça, deve ter machucado minha testa, porque tem sangue demais em meus olhos e vejo tudo borrado. Deslizo até o chão perto da porta e fico tonta. Meus dedos tremem tanto que só na terceira tentativa acerto a senha do celular. Hesito assim que aparece a tela para digitar o número. Penso primeiro em ligar para Wanda , mas não posso sobrecarregá-la agora. Ela acabou de perder o seu irmão. Eu poderia ligar para a polícia, mas não estou em condições de assimilar as consequências. Não quero depor. Não quero prestar queixa, porque sei as implicações para sua carreira. Não quero Tessa zangada comigo. Simplesmente não sei. Não descarto completamente denunciar à polícia. Mas não tenho energia para decidir agora.
Aperto o telefone nas mãos e tento raciocinar..
Enxugo as lágrimas dos olhos e começo a discar o número de Willian.Nunca me odiei tanto quanto agora. Eu me odeio porque, quando David achou o número de Willian em meu celular, eu menti e disse que tinha me esquecido de que estava ali. Eu me odeio porque, no dia em que Willian me deu o número, eu abri e olhei o papel.
Eu me odeio porque, no fundo, eu sabia que talvez fosse precisar daquilo um dia. Então
decorei.

"Alô?"

A voz está cautelosa. Curiosa. Ele não reconhece o número. Assim que atende, começo a chorar. Tapo a boca e tento ficar quieta.

" Lilly?" -  Sua voz fica bem mais alta.-  "Lilly, onde você está?"

Eu me odeio porque ele sabe que as lágrimas são minhas.

" Will."  - sussurro. -"Preciso de ajuda."

"Onde você está?" - repete ele.

Noto o pânico em sua voz. Eu o escuto andando, remexendo em algumas coisas. Ouço uma porta bater do outro lado da linha.

"Vou te mandar uma mensagem."  murmuro, com medo demais para continuar falando em
voz alta.

Não quero acordar David. Desligo e encontro forças para acalmar minhas mãos enquanto
mando meu endereço e o código para entrar no prédio por sms. Depois envio uma segunda mensagem que diz:

Me avise quando chegar. Por favor, não bata na porta.

Engatinho até a cozinha e encontro minha calça, vestindo-a com dificuldade. Acho minha camisa no balcão. Depois de me vestir, vou para a sala. Penso em abrir a porta e encontrar Will lá embaixo, mas tenho medo de não conseguir chegar sozinha à portaria. Minha testa ainda está sangrando, e me sinto fraca demais até mesmo para levantar e esperar perto da saída. Deslizo até o chão, seguro o celular com a mão trêmula e o encaro, esperando a mensagem.
Depois de vinte e quatro minutos agonizantes, meu celular acende.

Cheguei.

Eu me levanto com dificuldade e abro a porta. Braços envolvem meu corpo, e meu rosto
encosta em algo macio. Começo a chorar, chorar, tremer e chorar.

"Lilly." - sussurra ele. Jamais ouvi meu nome dito com tanta tristeza.

Will me faz olhar para ele. Seus olhos azuis examinam meu rosto, e eu vejo quando acontece. Noto a preocupação desaparecer quando Will vira a cabeça na direção da porta.

" Ele ainda está lá dentro?"

Fúria.
Sinto a fúria emanar de Will, e ele dá um passo na direção do apartamento. Agarro sua jaqueta com os punhos cerrados.

" Não. Por favor, Willian. Só quero ir embora."

Vejo o sofrimento tomá-lo quando ele para, tentando decidir se deve me escutar ou simplesmente derrubar a porta. Ele acaba virando as costas para ela e me envolvendo com os braços. Então me ajuda a ir até o elevador e a passar pela portaria. Por algum milagre, só encontramos uma pessoa, que estava virada para o outro lado, falando ao celular. Quando chegamos à garagem, volto a me sentir tonta. Peço que ande mais devagar, então sinto seus braços embaixo dos joelhos enquanto ele me ergue. E depois estamos dentro do carro, já em movimento.
Sei que preciso levar pontos. Sei que ele está me levando ao hospital. Mas não faço ideia de por que digo as próximas palavras:

"Não me leve ao hospital . Me leve a outro lugar."

Por algum motivo, não quero correr o risco de encontrar algum colega de David. Eu o odeio.
No momento, eu o odeio mais do que jamais odiei alguém . Quando percebo isso, eu me odeio tanto quanto o odeio. E a partir desse dia eu nunca mais voltei a ver David.

Fim do flashback

•••

Estamos sentados no sofá do melhor amigo do Bucky, vamos passar o Natal com ele. Bucky está tão animado contando para Steve como nos conhecemos. Steve parece alguém que se fechou para o mundo. Ele tem um olhar meditativo e meio pesado, que eu pensava existir em apenas pessoas iguais a mim. O que pode ser tão terrível sobre a vida desse cara que me leva a crer que ele tenha sofrido? Dá para ver que ele passou por alguma coisa. Uma pessoa ferida reconhece outra. É como um clube do qual ninguém quer fazer parte. Mas havia uma mulher ao lado do Steve, Lowen . Havia algo nela que os olhos de Steve se acendiam. Assim como o meu se acendeu quando conheci Bucky.
Tomamos o nosso café e minha visão começou a ficar turva, calafrios surgem, coloco minhas mãos no estômago.

Náusea
Calafrios
Náusea
Calafrios
Náusea

" Está tudo bem?" - Bucky disse segurando minha mão. Elas estão frias.

Todos me olham, mas principalmente Lowen.

Náusea
Calafrios
Náusea
Calafrios
Náusea

" Eu acho..." - aperto meus olhos , coloco minha mão na boca.

" Ela vai vomitar. Segure o cabelo dela ." - disse Lowen.

Bucky segura meu cabelo e eu apenas batizo o tapete da sala do melhor amigo do meu namorado.

Vomitei...

Fico com a cabeça entre minhas pernas, eu sabia o que exatamente aquilo significava. E confesso que não sei se estaria pronta para reviver uma nova gestação . Me apavorei e corro para o quarto de hóspedes e Bucky faz o mesmo .

📌 Nota: Talvez eu revise esse capítulo, não ficou muito do meu agrado. Lembrando que essa história é ligada a Oklahoma , fanfic do Steve. Até o próximo capítulo besties 💖

Ultraviolence - Bucky Barnes +🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora