Bucky

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Minha cabeça lateja. Ainda estou de olhos fechados. Tateio o espaço vazio ao meu lado da cama e percebo mesmo depois de anos a falta que sinto de acorda lá todas amanhãs. Sinto os meus olhos começarem arder, vítima das minhas lágrimas que agora descem sem piedade. Mais uma vez eu lembro dos nossos votos eternos. Das promessas.

" Vou sempre te encontrar e você sempre encontrar a mim. Em todas as vidas, sempre estaremos juntos ."

Mesmo depois de tanto tempo ainda choro todas as manhãs. Me debruço aos pés da cama e choro olhando a janela. É a única coisa que me alivia, não sei se um dia isso vai parar. Há quem diga que o tempo cura tudo, mas ninguém é capaz garantir, ninguém. Confesso que as vezes eu não me reconheço no espelho. Numa tola tentativa de fugir dela , mudei a forma de como me vestir , deixei os cabelos e barba crescerem, deixei de comer a nossa comida favorita e de passar em certos lugares. Abandonei hábitos, músicas e rotinas. Nunca imaginei que alguém pudesse doer tanto como ela me dói. Ao mesmo tempo que eu torço para que o tempo passe, eu tenho medo que ele leve as lembranças dos momentos que passamos juntos. Fazem seis anos que perdi ela, seis anos se passaram mas ainda há amo como no começo. Amei Lilly desde a primeira vez que coloquei meus olhos nela. E sempre vou amá-la.

" Papai?" - uma voz doce me chama.

Olho para a porta do quarto, lá estava a melhor coisa que eu já fiz em toda a minha vida. Eu tinha que ser forte pôr Marjorie. Limpo as lágrimas que escorrem e tento disfarçar pra que ela não perceba que eu estava chorando.

" Bom dia ursinha." - estico meu braço, acenando para que minha filha se aproxime.

Marjorie se aproxima e senta ao meu lado da cama. Uma linha surge entre as suas sobrancelhas. Ela passa sua mãozinha em meu rosto.

" Não gosto de ver você triste papai." - ela me abraça.

Eu a abraço de volta.

" Não estou triste." - tento contornar a situação.

Ela balança a cabeça.

" Você sente falta da mamãe. Não precisa mentir pra mim papai." - ela coloca suas mãozinhas no meu rosto. " Eu também sinto falta da mamãe ."

Meus olhos se enchem de lágrimas novamente e aquele aperto horrível no peito toma conta de mim. Abraço a minha filha, detesto que ela me veja assim, tão fraco e vulnerável.

" Quando ficamos tristes, fazemos o que papai?" - ela se levanta,  sorrindo.

Marjorie era uma criança doce, ela não gostava de ver pessoas que ela amava triste. Então ela tinha uma regra para isso.

" Sorvete?" - respondo.

Ela corre pelo quarto pegando meus sapatos e roupas na poltrona.

"  Vamos. " - entrega minhas roupas. " Você precisa de um sorvete de chocolate."

Eu sorrio. Enquanto ela me puxa para fora do quarto.

" Temos regras mocinha. Sorvete apenas depois do almoço."

Ela para. Franzi os seus olhinhos.

" Vamos papai. Prometo que eu vou almoçar tudinho no almoço. Vovô Nakagima disse que regras foram feitas para serem quebradas, Por favor papai."

Ela sorri. O sorriso que ela consegue tudo o que quer. Eu como um pai babão não tenho outra opção a não ser ceder as regras.

" Ok! Vá se arrumar. Depois vamos visitar o vovô "

Ela pula de alegria.

" Sorvete! Sorvete!"

Ela me abraça e sai correndo para o seu quarto. Enquanto eu também vou me trocar. Vou até a janela do quarto para abrir mais as cortinas. Quando vejo alguém parado do outro lado da rua em cima de uma moto e de capacete. Como se estivesse observando a nossa casa. Mas quando percebi a minha presença na janela, liga a moto e sai. É algo que eu deveria me preocupar, já que sempre tenho a impressão que há alguém observando.

•••

Agora estamos entrando no meu antigo edifício. Marjorie está segurando um pote de sorvete. Vovô Nakagima está abrindo a porta do seu apartamento.

" Vovô." - ela o abraça. " Trouxe sorvete."

Ele retribuiu o abraço e dá espaço pra ela entrar. Ele acena pra mim.

" São apenas 10 da manhã menininha."

Ele olha para mim e eu dou os ombros.

" Estamos quebrando regras hoje." - respondo entrando no apartamento.

Marjorie corre para cozinha, abrindo os armários.

" Papai está triste hoje. Sorvete cura a tristeza."

Me sento no sofá enquanto Nakagima me observa. Ele sabe o porquê da minha tristeza.

" A vida tem que seguir James." - ele se senta ao meu lado.

Enquanto Marjorie está distraída bagunçando os seus armários atrás de algo pra colocar o sorvete.

" Não consigo." - balanço a cabeça. " Lilly é única."

Não me sinto preparado para conhecer ninguém e esperava que as pessoas respeitassem isso.

" Não estou dizendo para arrumar alguém. Estou dizendo que você tem que seguir em frente por sua filha meu amigo." - ele apontou para Marjorie. " Ela está quebrando regras para você ficar bem. E ela tem apenas 6 anos de idade. "

É muito difícil nadar quando você se sente ancorado dentro d'água.

" O luto é uma merda." - balanço minha cabeça. " Eu vou ser melhor para Marjorie."

Ele bate nas minhas costas

" Você é um ótimo pai meu amigo." - ele se levanta. " Vou pegar os potes de sorvete antes que ela destrua a minha cozinha."

Acabo de perceber que meu luto estava afetando a minha filha. Não posso continuar assim, tenho que melhorar por ela. Os dois finalmente se aproximaram com o sorvete. Marjorie vem ao meu lado sorrindo.

" Sorvete para alegrar o seu dia papai." - ela me entrega e se senta ao meu lado.

Enquanto o vovô Nakagima se senta na sua poltrona. Tomamos nosso sorvete depois lembro que precisava ir ao meu antigo apartamento pegar algumas caixas para poder colocá-lo a venda . Comento  com eles que não vou demorar.

" Você alugou o apartamento da Lilly?" - ele perguntou antes que eu saia do seu apartamento.

Franzo a sobrancelha porque eu jamais alugaria ou venderia o apartamento da Lilly. Queria que ele fosse da Marjorie no futuro.

" Não" - respondo. " Porque a pergunta?"

" O zelador disse que viu uma mulher saindo dele a uma semana atrás."

A única mulher que tem acesso ao apartamento da Lilly era a Wanda.

" Deve ser a Wanda." - dou um beijo em Marjorie.
" Eu não demoro ursinha."

Ela acena que tudo bem. Estava tão concentrada no sorvete que não estava prestando a atenção.

" A Wanda não é loira. Ele disse que era uma mulher loira."

Definitivamente a Wanda não era loira.

" Talvez ela tenha emprestado para alguma amiga o apartamento da Lilly . E esqueceu de me avisar."

No fundo eu sabia que a Wanda nunca faria isso. Mas não quero acreditar que está acontecendo muitas coisas estranhas ao meu redor ultimamente.

Ultraviolence - Bucky Barnes +🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora