justice poetic

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Como prometido a minha irmã que iria em ao seu recital de poemas em sua escola particular, o grande dia chegou. Ao me sentar em uma das cadeiras brancas, observando todos aqueles filhinhos de papai comentarem sobre o evento, a multidão de pessoas ao redor era irritante, finalmente era vez da Jessica se apresentar. Olhando em direção ao palco ao ver a diretora da escola chamar pelo nome da minha irmã.

Jessica buscava por mim ao subir no palco, me procurando entre a platéia, a vendo segurar o microfone com nervosismo, tentando motivar, dizendo com uma leitura labial:
  —"Eu estou aqui, tá tudo bem!"

Minha irmã fecha os olhos por um breve momento, começando a recitar seu poema no microfone:

—"Você consegue sentir? Sentir esse nó em minha garganta, eu ainda me lembro dos pesadelos mórbidos me perseguindo no verão de 1993. Meu pai me levou a praia, me mostrou como era o mar, aquele azul infinito parecia um sonho, o sol quente da Califórnia com os alaranjados de aves voando em uma tarde típica de um feriado de Los Angeles. Vendo uma mulher negra segurar seu bebê perto do mar, seu marido lendo um jornal de esporte com desleixo, ela parecia feliz por enfiar aqueles pés gordinhos na areia. Mas ao ver sua cor, percebendo que um dia ele seria um homem negro na América, ahh baby boy! Diversos caminhos ruins irá aparecer em sua estrada, o dono da encruzilhada irá lhe buscar, assim como ele veio até mim!"

Podia sentir a emoção em suas letras, a dor da arte na voz da minha irmã, todos hipnotizado com suas palavras poéticas, mas a verdade poucos entenderiam aquele poema. O quão eu estava orgulhosa por ver minha irmãzinha expressar seus pensamentos mais obscuro diante de toda aquela plateia, ela conseguia transformar sua dor em pura arte. Escutando ela terminar sua apresentação, observando todos se levantarem, me levantando junto, escutando todos a aplaudirem. Gritando alto e batendo palmas com força: —"Essa é a minha garota!"

Observando minha irmã abrir um sorriso enorme, agradecendo a todos ao microfone, descendo do palco com pressa, caminhando em direção aonde eu estava, sentindo meu peito se encher de orgulho. Jess se aproxima de mim, sentindo ela me abraçar com força, falando toda feliz: —"Obrigada por vim irmã, obrigada por tudo que faz por mim!"

Observando alguns amigos da sua classe se aproximarem, a chamando para uma festa, ficando intrigada ao ver uma de suas amigas tentando chamá-la: —"Ei Jessica, a Bianca dará uma festa que tal ir com a gente? Vai ser legal?!"

Jessica me encara com uma cara pervertida, me implorando com seu jeito persuasivo: —"Eu posso ir, por favor? Eu prometo que quando terminar a festa eu te ligo!"

Falo meia apreensiva, mas cedendo como uma irmã babona que não queria estragar a noite: —"Irei te buscar as 23:00 ok, sem desculpa!"

Jess estava tão eufórica que simplesmente me deu um beijo na bochecha e saiu correndo com a sua melhor amiga da classe pelo corredor da escola. Encarando o ginásio se esvaziar aos poucos, até notar Darnell perto da entrada, ficando sem reação ao vê-lo parado ali, provavelmente minha irmã tinha o convidado para sua apresentação.

Desviando meus olhares do próprio, caminho até a entrada, tentando evitar um diálogo a todo custo, mas sentindo Darnell cravar seus dedos em meu braço e implorando educadamente:
"Podemos conversar?"






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