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O show acabou e não dava pra negar, havia sim um clima estranho. Entre Lore e Eloy, mas isso afetava nós quatro. Enquanto as meninas foram pro camarim, e o lugar esvaziava, fiquei atrás das cortinas com Carrie.
— Posso dar uma palhinha? Ia pedir no ensaio mas não quis tirar a concentração de vocês — Carrie pediu.
— Claro, vai lá. Mas espera esvaziar.
— Ok. Valeu, Lee.
Carrie e Chase foram em direção à bateria, e sorri ao ver o entusiasmo deles. Vinnie apareceu.
— Lia.
— Vinnie.
— Que bom que me convenceu a vir — ele disse e nos abraçamos — vocês foram ótimos. As meninas são incríveis e sua voz...
— Elas são maravilhosas. Fico feliz que tenha gostado do show.
— Foi foda pra caralho. De fato não precisava de sorte.
Fomos andando em direção novamente ao palco, queríamos ver Carrie tocar. Antes que o assunto continuasse, Lore, Lina e Eloy passaram pela gente.
— Vamos pro hotel, vai ficar mais um pouco? — Lina perguntou enquanto Eloy caminhava à frente e Lore ficou com ela.
— Vou. Depois vou de uber com os meninos.
— Posso deixar vocês lá, se quiserem.
— Por favor, Vinnie, seria ótimo — Lina pediu.
— Sem problemas.
— Tchau, se cuida.
— Se cuidem, amo vocês.
Suspirei fundo, observando-as se afastarem.
— Tá tudo bem?
— Sim, só... precisamos de um descanso. Foram quatro longos meses de shows.
— Uh. Parece cansativo.
— Bastante. Sinto falta de casa.
— Como é lá?
— Onde? No Brasil?
— Uhum.
— É... incrível. Quer dizer, tem os problemas como qualquer outro lugar, mas... ainda é nossa casa.
Carrie finalmente começou a tocar e meu coração disparou. Eu e Vinnie nos entreolhamos surpresos e fomos em direção à bateria. Carrie manuseava as baquetas com facilidade, e sem esforço nenhum, o som era ótimo. Posso dizer que tão bom quanto Eloy.
— ISSO — Chase gritava, enquanto filmava.
— Carrie...— comecei a dizer — você...
Carrington suspirou e sorriu.
— Nunca parei de tocar, Lee — Carrie disse se levantando — valeu por ter deixado tocar.
— Se precisarem de um baterista substituto... — Vinnie disse.
— Eu posso ser o back vocal?— Chase questionou.
— Não — todos dissemos em uníssono. Chase viralizou uns dias atrás com um vídeo cantando What Was I Made For, da Billie mas em miados de gatos. Ridículo.
— Você tem outro show amanhã, né? — Vinnie perguntou, e agora estávamos indo para a saída.
— Sim. E aí, tiramos um tempo da tour.
— Ok, vamos indo pro hotel.
Vinnie foi buscar o carro com Chase. Meu melhor amigo ficou comigo.
— Hacker, é? Não é pra qualquer uma...
— Que?! Não... ele nunca me olharia dessa forma.
— Por que não? Você precisa parar de se rebaixar assim, Lee.
Ignorei a pergunta e ouvi Carrie respirar fundo, frustrado. Eu sabia que esse tipo de comentário o tirava do sério, mas era inevitável não pensar isso de mim.
— Você foi ótimo com a bateria. Muito bom mesmo.
Carrie levou alguns instantes pra responder.
— Valeu... gosto muito, a bateria é o coração da música. Assim como violoncelo.
— Concordo.
— Claro que sim, falei verdades aqui.
Dei uma cotovelada em Carrie que sorriu. Vinnie apareceu com o carro e Chase saiu da frente.
— Vai na frente, Lee. Você conhece melhor o caminho.
— Qual hotel você ficou? — perguntei, agora que pegávamos a rodovia.
— Yacht.
— Claro que seria esse.
— Quê? Não vai me dizer que...
— É exatamente esse que ficamos.
— Uau — ele disse, com ironia.
— Admita Hacker, você adora passar um tempo comigo.
— Um pouco.
Nós dois rimos. O percurso levou pouco tempo, já que as estradas não estavam mais tão cheias. Não sustentei o sono, e apesar de ter lutado, acabei dormindo. Por sorte, Carrie sabia onde estávamos hospedados.
Acordei com Carrie tentando me carregar.
— Carrie — resmunguei, retomando a consciência — o que pensa que tá fazendo?
— Eu? Eu nada.
Finalmente abri os olhos e vi que Hacker agora apoiava os braços no carro.
— Você vai acordar ou vai ficar nessa? Me diz se for pra te carregar.
— Ah, seria ótimo — ironizei. Mas talvez não tenha sido tão claro pra Vinnie. Ou tenha. Facilmente ele me levantou e trancou a porta.
— Era ironia.
— Mesmo? Não fazia ideia. Aliás, ótima copiloto você.
— Cala a boca.
Senti o corpo de Vinnie tremer com a risada.
— Foi mal ter dormido — eu disse — tenho andada cansada, não dormi bem esses dias.
— Relaxa, Lee.
Estávamos no nosso corredor e Hacker finalmente me colocou no chão. Me despedi de Chase e Carrie— o último me deu um beijo no topo da cabeça antes de ir.
— Valeu por ter ido.
— Foi um prazer. Mal posso esperar por amanhã.
Eu e Vinnie estávamos muito próximos agora. Meu coração batia descompassado, e duvidei se ele podia ouvir o barulho rítmico. Nossa respiração se tornou uma só, e apenas consegui sussurrar:
— Não posso me apaixonar por ninguém.
— Não tem problema — foi a resposta de Vinnie antes de nossos lábios se juntarem. O beijo foi devagar e intenso, cuidadoso. Ao nos afastarmos, nossas testas ficaram coladas e um sorriso surgiu nos lábios de Vinnie. Foi impossível não sorrir de volta.
— Definitivamente você gosta de passar um tempo comigo.
— Nunca disse o contrário — Vinnie se afastou, e piscou — boa noite, Lee.
— Boa noite, Vinnie.
Entrei no quarto e me sobressaltei com a gritaria que estava dentro dele. Como essa porta consegue abafar tão bem assim o som? Ainda atordoada, fechei a porta rapidamente atrás de mim, antes que o barulho alto chamasse atenção. Lina estava sentada na cama, passando a mão no cabelo enquanto Eloy estava com a mão na cintura, evitando olhar para Lore enquanto ela gritava com ele.
Lore parou assim que me viu e os três voltaram a atenção pra mim.
  — O-o que tá acontecendo?
  Nenhuma resposta.
  — Fala, Eloy. Diz pra ela o que você fez.
Eloy não se moveu.
  — ABRE A PORRA DA BOCA E FALA — Lore berrou.
  — Eloy — o chamei. Meu coração parecia saltar do peito. Mal conseguia respirar agora. — diga.
  — Assinei um contrato.
  — E?
  Lore riu, com desdém. Lina olhava para o nada.
  — Vou entrar pra banda das Kalogeras.

  E aí, meu mundo desabou. O nosso mundo. A traição só dói porque vem de alguém que amamos.
  — Você... você o quê?! Quando? Como... elas nem se quer tem uma banda! — comecei a me alterar.
  — Elas me chamaram no dia da festa... queriam começar uma banda nova, a viagem delas com os Sturniolo...
Um tapa se ecoou pelo quarto. Lina e eu nos sobressaltamos.
  — Não ouse falar o nome deles — Lore disse, baixo demais — Eles não nos devem nenhum compromisso, já você, pelo contrário... você é o único que deveria ficar do nosso lado. A culpa é inteiramente sua, Eloy.
  — Você sabia desde a festa da Tara...? Escondeu isso esse tempo todo?!
  — Eu ia contar pra vocês...
  — Não ia nada, deixa de ser moleque. Contou agora porque eu descobri — Lore disse e olhei pra ela — Demitra publicou um line up e colocou o nome dele. 
  Porra, já tá nas mídias. Meu sangue ferveu. Lore andou com passos firmes até a porta e abriu.
  — Sai.
  — Mas, a gente pode resolver...
  — Eloy. Sai. Agora.
  — Por favor...
  — SAI, CARALHO — Eloy cruzou a porta, e antes que Lore pudesse fechar na cara dele, ela disse: — Nunca mais apareça na nossa frente.
  Me assustei quando ela bateu a porta com força. Lina e eu corremos até a nossa amiga, que escorregou até o chão, em silêncio.
  — Eu não acredito que ele fez isso... comigo... com a gente.
  E então, Lore chorou. E nos juntamos à ela.


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