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Tudo que tinha pra dar errado, deu. Puta que pariu. Começou com Chase, Carrie e Chris— como Nick gentilmente os apelidou de "cecês" — indo comprar os ingredientes. Nick foi deitar no quarto e Matt e eu fomos ver o que tinha na cozinha.
  — Isso vai ser incrível.
— Não?! Você nunca viu Carrie cozinhando. E nunca nos viu cozinhando.
— Isso vai ser incrível — Matt repetiu e eu bufei.
Enquanto estava agachada e com as mãos apoiadas acima da cabeça, na pia, Matt ficou em silêncio.
  — Acha que vai precisar de farinha de trigo? Porque tem pouca — eu disse. Silêncio. — Matt?
  — O que foi isso?
  Matt olhava para as marcas rosadas do meu braço de algumas noites atrás. Levantei, indiferente e desci a manga.
  — Nada demais.
  — Nada demais? Lia, que porra foi essa?
Permaneci em silêncio.
— Vai mesmo me ignorar?
— Não foi nada. Me arranhei em algumas...
— Lia. Vai mesmo continuar agindo como se eu não soubesse de nada?
Engoli em seco.
— Nick não me contou, antes que fale com ele. Senti sua falta... na cama, naquele dia. Você remexeu a noite inteira, mas vi que estava conversando com Nick depois. Quando perguntei pro meu irmão, aí sim ele me disse — Matt suspirou — pode, por favor, me contar o que aconteceu? Quando foi isso?
— No início da semana. Eu estava dormindo com Carrie, e... eu só lembro dele me acordar e meu braço queimar. Chase estava em pé perto da cama.
— Fez isso enquanto dormia? — Matt gentilmente puxou a manga da camisa pra cima. Assenti — Doeu?
— Está melhor agora.
A expressão no rosto de Matt era indecifrável.
— Com que frequência isso ocorre?
— Algumas vezes no mês.
— É por isso que dorme com as meninas.
Mais uma vez assenti.
— Sempre que passo por uma situação difícil ou algum gatilho, eu tenho... pesadelos. Do meu passado.
— Isso foi quando eu te vi com Vinnie, não foi? — Matt questionou, trincando a mandíbula.
— Não importa.
— Claro que importa. Indiretamente fiz isso com você. E você ainda dizia me amar.
— Eu amo.
— Impossível.
— Não é. Passado é passado. Por isso que fiquei com você lá embaixo ontem. Não conseguia dormir. O que eles falaram...
— O que disseram?
— Que eu devia ter conseguido...
— Ok, não termina isso. Vem cá.
Matt me envolveu num abraço e apenas respirei por uns minutos.
— Sinto muito por tudo isso. Por todos vocês.
  — Então... farinha?
  — Ótimo atalho.
  Nós dois sorrimos. Nick entrou e se sentou na ilha da cozinha. O telefone de Nick vibrou.
— Alô? Pera aí. Pra você, é Carrie.
— Sim?
— Por que caralhos você não atende o celular?
— Foi mal, eu tava...
— Tá, deu merda, a bateria arriou. Manda Matt descer com a chave do carro.
— Porra... ok. Já vai – desliguei a chamada — Temos um probleminha.
Matt, Nick e eu descemos com a chave do carro. Os dois rapazes estavam encostados, e Chase estava girando em si mesmo. Então tá.
— Deixei o rádio ligado — Carrie disse.
— Ótimo, batatão.
— Caladinha, que tal?
  Matt ligou o carro e manobrou pra que pudesse dar a chupeta no outro veículo.
— Tá frio — eu disse, esfregando os braços.
  — Toma — Nick tirou o casaco.
— Relaxa, já vamos subir.
  — Lee, eu tô com outra por baixo. Veste.
  — Que carinhoso.
  Depois que resolvemos a questão do carro, mais uma vez subimos e esperamos os meninos.
— Eu acho que devíamos fazer brigadeiro.
— Quê? — Matt rebateu.
— Brigadeiro. O docinho de chocolate do Brasil.
— Ah, a gente já comeu? Não lembro— Nick disse.
— Não tenho certeza. Vamos fazer — levantei e fui até a cozinha. Abri o armário e voltei pra sala — não tem leite condensado.
Mais uma vez ligamos pra Chase e pedimos mais ingredientes. Quando os meninos voltaram e finalmente pudemos começarmos a janta, eram quase onze horas. Deu tudo errado.
  Queríamos fazer uma pizza, mas Chris e Matt brincaram com uma farinha inteira. Nick berrava com os irmãos. Em um certo momento, eu escorreguei em um ovo que caiu no chão, e Nick caiu em cima de mim. Na tentativa de levantar, Chris jogou farinha em mim. Chase e Carrie escolhiam músicas pra esse momento— ou seja, não fizeram porra nenhuma. Duas da manhã estávamos comendo. Esperei os meninos comerem pra ver a reação deles.
  — Tá bom pra caralho — Chase disse, de boa cheia.
  — Você e Carrie são os únicos que não podem nem falar que não gostaram. Não fizeram nada. Próxima opinião.
  — Ai.
  — Relaxa, tá gostoso — Nick disse.
  — Bom pra porra — Chris complementou.
  Olhei pra Matt, esperando uma reação.
  — Valeu a pena a bagunça — ele disse, rindo.
  — Não seria o mesmo sem as músicas — Carrie disse, se gabando.
  — Vai se foder — eu disse, entre risos, e meu amigo me mandou um beijo.
Depois que comemos, colocamos Carrie e Chase pra lavar as louças.
— Vou precisar tomar um banho — eu disse, me levantando.
— Vai dormir aqui, né? — Nick perguntou.
— Ah, vai — Carrie gritou da cozinha.
— Péssima desculpa pra ir pegar o travesseiro — Matt revirou os olhos— eu disse pra trazer.
— Claro, Bernard, porque com certeza eu dormiria assim com farinha de trigo.
Chris explodiu em uma risada.
– Já volto.
Saí do quarto e caminhei pelo corredor até o meu quarto. Mas nada, absolutamente nada, me preparou pra quem encontraria na porta me esperando.

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