Capítulo 18 - Criaturas Mecânicas

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"We'll be found down deep underground
What have I done to deserve this damnation?
Who knows if you're the one to blame?'
Cause we don't even know your name
But you're here now, and we've got temptations"

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18:30 p.m. - Segunda-Feira

Elena

Bato as unhas na mesa da cozinha, impaciente. Tenho mexido com os mesmos arquivos há horas e estou começando a ficar com dor de cabeça, dou um suspiro derrotado, bebendo um gole de café já frio em seguida e me espreguiço na cadeira.

Ouço a porta da frente sendo destrancada e logo Katy aparece na abertura da cozinha com um expressão exausta e irritada, ela abre um sorriso forçado como cumprimento e se arrasta até a geladeira pra pegar suco, então se senta ao meu lado com o copo e o ânimo de um cadáver.

- Teve um dia dificil? - Pergunto, não é incomum que Katy volte de mal humor do trabalho.

Ela se vira pra mim com deboche e bebe um gole de suco.

- Eu juro que assim que terminar essa maldita faculdade, vou pedir demissão daquele inferno de loja!

Solto um riso curto. Katy trabalha na mesma loja de roupas desde os quinze anos, o que em partes é culpa minha. Três anos depois da morte da Hannah e alguns meses depois do meu divórcio também perdi o emprego e as coisas ficaram apertadas, juntando ao fato de que, mesmo depois de todo esse tempo, não conseguia superar a morte da minha filha, ficou cada vez pior. Acho que naquela época, eu vivia no automático, acordava, ia trabalhar e chegava em casa cansada demais pra pensar em qualquer coisa que não fosse minha cama, então, quando perdi o emprego, me vi sozinha com meus pensamentos de novo e não quis mais sair, na minha cabeça, não tinha razão nenhuma pra continuar, uma motivação, não tinha a minha filha pra aparecer no meu quarto e reclamar que estava com fome, ou um marido que me oferecesse algum conforto; nem meus pais se importaram muito com isso, acho que tinham raiva de mim por ter deixado a Hannah morrer, não posso julga-los, compartilhamos do mesmo sentimento.

Naquele verão, Katy veio pra cá, com a desculpa que tinha conseguido um emprego temporário na tal loja, ela passou a vir todo o ano depois que Hannah morreu, sempre usando uma desculpa diferente, eu não entendia bem o porque, não tinha nada de muito interessante pra fazer na minha casa, mas ela era a única pessoa que conseguia me tirar da cama e me convencer a ir fazer algo, geralmente me pedia pra levar ela em algum lugar aos fins de semana, que não queria ficar presa em casa o verão inteiro e assim ela ia me convencendo aos poucos à sair, mesmo contra minha vontade..

Quando as férias acabaram e nossos pais foram buscar ela, Katy disse que queria morar comigo e, na época, o motivo seria por causa do trabalho, que ela teria gostado de lá e não queria sair, além de que minha casa era mais perto da escola dela; é obvio que meus pais disseram que aquilo era loucura, eu estava desempregada e minha casa uma bagunça, não tinha condição nenhuma de cuidar da minha irmã. Me lembro de como aquele dia foi caótico, foi a primeira vez que vi Katy discutir feio com nossos pais, até uma hora que eles simplesmente desistiram e disseram que se ela realmente quisesse morar comigo, não poderia voltar atrás nessa decisão, para a minha surpresa, a Katy concordou.

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