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22 de Junho de 1941*: invasão alemã à URSS



— O violinista me mandou, eu vim falar com a madame Vronnik.

— Eu não conheço nenhum violinista.

— Ele disse que ela reconheceria o codinome.

— Eu acho melhor você ir embora daqui.

— Eu acho que você se arrependeria de não ir até lá dizer que eu tenho um recado.

— Que porra você acha que é?! — o russo barbudo berra na pequena janela da pesada porta de aço, quase igual a um frigorífico. Eu vejo as partículas de saliva pulando para fora da boca dele e se acumularem no ninho que sua barba cinzenta forma em seu rosto, como uma moita seca e nojenta — Vai embora daqui antes que eu te mate, seu merdinha! —

— Eu gostaria de ver você tentar — respondo calmamente, dando dois passos atrás.

O homem baixo e robusto desfaz os trinchos pesados da porta e a arrasta com força até que esteja escancarada, e dois garotos mais novos saem junto com ele. Em seus dedos gordos está um soco inglês prata, e seu cabelo também é longo e igualmente seco. Ele sorri perverso, vindo em minha direção lentamente.

Eu apenas enterro as mãos nos bolsos do casaco e solto um suspiro, lamentando ter que me sacrificar desse jeito tão patético. Apenas contraio o abdômen com toda a força, fecho os olhos e espero.

O homem quebra a distância e segura em meu ombro, encaixando um soco certeiro na boca do meu estômago, bem forte e que me faz tombar para frente sentindo o almoço revirar e alcançar minha garganta. Não era forte o suficiente para me derrubar, mas foi um bom soco, minhas costelas doeram. Eu vomito na neve enquanto os capachos do velho seguram meus braços e puxam meu cabelo para trás, exibindo meu rosto.

O barbudo me acerta um direto no maxilar, arrebentando meu nariz, lábios e gengiva, sei que por pouco não perdi os dentes. Minha cabeça lateja e tonteia, a visão turva, sinto o gosto ferroso do sangue jorrando e inunda minha boca dormente e inchada. Finalmente os três me arrastam para dentro do prédio.

Passamos por um corredor escuro, e eles mal dão conta do meu peso enquanto finjo estar entre a consciência e o desmaio iminente. Meus pés se arrastam pelo chão sujo, soltos. Um capanga segurando cada braço meu em seus ombros.

Entramos numa sala mal iluminada, e eles me atiram sobre uma cadeira de madeira bastante sólida, com apoio para os braços. Eles me prendem com braçadeiras e ligas de de enforca gato de plástico. Eu permito, e me acomodo ali, erguendo o rosto para o russo mais velho.

— Eu não quero problemas, eu só preciso ver a madame. Não vai causar uma boa impressão se por acaso eu bater nos funcionários dela e logo em seguida pedir um favor, concorda? — eu olho para eles, mechas do meu cabelo derramadas sobre meus olhos, o sangue escorrendo por meu queixo. Abro um pequeno sorriso sarcástico para eles, exibindo meus dentes vermelhos e o rasgo na gengiva.

— Vamos matar ele, Yvan? — um dos garotos questiona, encarando o velho.

Observo Yvan, ainda sentindo a dor erradiar em meu crânio de forma cruel. Solto um longo suspiro ao ver o velho se direcionando para um dos cantos da sala, reparo na mesa de madeira ali. Há ferramentas acumuladas aos montes.

— Eu sei sobre o Makarov.

— Sabe que isso só enterra você ainda mais fundo, não sabe?! — ele urra sádico.

— A informação vai junto comigo — encaro seus olhos com raiva e pulso firme. O velho faz careta.

— Você quer que eu acredite que você tem informações?!

edelweiss | a könig storie.Onde histórias criam vida. Descubra agora